O novo ano começou com mensagens políticas de alguma forma confusas e pouco auspiciosas. A sucessão de casos encostou o Governo às cordas — apesar do conforto da maioria absoluta — e colocou os responsáveis políticos na defensiva, como se eles tivessem subitamente de dar provas extra de vida e esforço para se mostrarem à altura das circunstâncias.
Dizia um general prussiano do século XIX, já citado neste espaço, que a guerra é a continuação da política por outros meios. Diria antes, como o Papa Francisco, que a guerra é o fracasso da política.
Recuperação é, talvez, a palavra mais repetida nos últimos meses. Recuperação que vislumbramos no verão do ano passado, mas que depressa se desvaneceu sob o impacto do agravamento da pandemia para dar lugar a novas quedas da atividade económica; recuperação que ressurge, agora, ainda tímida.
Começam a desenhar-se, para os próximos meses, perspetivas de regresso a um processo gradual de retoma da atividade económica. Contudo, estas perspetivas não são ainda de molde a dissipar receios de novos retrocessos.
Assistimos, no início deste ano, às imagens inacreditáveis do assalto ao Capitólio. Imagens indignas de um país com tradições democráticas fortemente enraizadas.
As recentes medidas de combate à segunda vaga da pandemia não deixarão de constituir um travão adicional à atividade, por um período que ainda não é possível determinar, sobretudo nos setores mais expostos aos seus efeitos: comércio, restauração e alojamento e cultura. Acresce que, com muitos países europeus a regressar a situações de confinamento, as exportações de mercadorias, que estavam a recuperar razoavelmente, contribuindo para a retoma, irão certamente ressentir-se.
São já conhecidos os dados das contas nacionais do segundo trimestre de 2020, que vêm confirmar a fortíssima contração da atividade económica, de uma dimensão inédita, sob o impacto da pandemia.
Ao contrário de todas as outras crises de que temos memória, as causas subjacentes à crise económica que estamos a viver são exógenas, têm uma natureza excecional e sabemos que são temporárias.
Com um impacto fortíssimo na atividade empresarial, a presente crise veio tornar mais visíveis forças e fragilidades da economia global, de cada economia e de cada empresa em particular.
Com a situação no terreno a mudar constantemente, não é possível prever qual será a duração, a intensidade ou o nível de dispersão da epidemia de coronavírus. Consequentemente, também não é possível termos uma estimativa credível do seu impacto económico.
Depois de um ano em que a tónica continuou a ser o abrandamento da economia, na entrada em 2020, as perspetivas, externas e internas, estão longe de ser animadoras.
Na perspetiva de um novo ciclo político que agora se inicia, interessa antecipar os desafios que irão condicionar o futuro de Portugal nos próximos anos.