Opinião

Liderança (cultural) digital não é um acaso

Rui Ribeiro, diretor-geral da IPTelecom

Já assistiu à perfeição de uma atuação da Orquestra Metropolitana de Lisboa? Ou do Cirque de Soleil? Ou de uma peça de Teatro com o Ruy de Carvalho? O que é que todos estes espetáculos têm em comum? Como é que alcançaram esses níveis de perfeição, que nos fazem sair dos espetáculos com uma sensação de ‘Uau’ e quase chorar de emoção com a beleza do que assistimos?!

E o que terão estas atuações a ver com empresas e com o mundo digital? Tudo!
Porquê? Porque a sensação ‘Uau’, ou seja, a perfeição só é alcançada pelo treino e pela liderança. Aqueles artistas para tocarem sem desafinar, saltaram para os braços uns dos outros sem cair, falaram no tempo certo mais de 1 hora sem se perderem, treinaram muito e fizeram sacrifícios pessoais e de grupo. Tudo porque entenderam individual e coletivamente o que queriam alcançar. E porque o maestro, o produtor ou o encenador, enquanto líderes de equipa, lhes conseguiram passar o valor acrescentado do que estavam a entregar a quem estava a assistir nas plateias.

Nas empresas também assim deve ser! Saber criar valor acrescentado aos seus clientes, num mercado concorrencial, saturado e global. Num mercado onde o mundo digital eleva, constantemente, os expoentes máximos de eficácia e eficiência, na busca da criação do valor aos clientes, pois se assim não for, o espetáculo individual de cada empresa terminará.

Neste sentido, aqueles espetáculos (do início do artigo) tiveram líderes capazes de motivar um grupo de pessoas em busca de um objetivo comum.

Liderar uma empresa e liderar digitalmente uma empresa têm de ser também atos intencionais que não se fazem num clique de um rato de computador, nem por um qualquer decreto, mas por uma definição estratégica iniciada de cima para baixo. E começa pelos próprios líderes acreditaram e visionarem a sua empresa digitalmente competitiva.

A liderança digital não é um acaso de um período passageiro. Leva o seu tempo, pelo que tem de ser visto como um processo estratégico de longo prazo, como um movimento contínuo e infinito.

Liderar digitalmente uma organização é desenvolver competências das equipas e dos seus clientes. É gerir mudança de pessoas, treinar muito todos os dias a melhoraria de processos transversais numa organização. E mudar leva o seu tempo e não se faz de um dia para o outro.

Acresce a tudo isto que, a pressão do mundo digital implica que haja constantes mudanças dos processos, numa busca de melhorias contínuas com as tecnologias disponíveis em cada momento.

Referido isto, compreende-se que um processo de transformação digital só pode ter sucesso se, e só se, a liderança da organização for o principal agente dessa transformação. A liderança é um dos fatores fundamentais associado à maturidade digital das empresas.

Na realidade, a liderança digital não difere muito da liderança que até aqui conhecemos. A principal diferença é que é um modelo de liderança que existe num mundo contextualmente diferente do qual até aqui desconhecemos. Vivemos num novo ambiente. Vivemos num mundo digital, que obriga inclusive que as organizações tenham de mudar uma cultura de organização hierárquica, típica dos modelos militares de chefias e de execução pragmática, para culturas organizacionais de equipas com competências dinâmicas, onde o foco é o processo, o projeto e a criatividade de cada objetivo.

Lidere digitalmente de forma intencional. Treine muito. Aprenda muito. Partilhe muito. E … bata palmas muito! Os artistas e o público merecem.

Comentários
Rui Ribeiro

Rui Ribeiro

Atualmente é professor da Universidade Lusófona e consultor de Transformação Digital, tendo tido várias atividades profissionais, entre as quais Head of Consulting & Technology na Auren Portugal, diretor-geral da IPTelecom, diretor comercial da Infraestruturas de Portugal S.A., diretor de Sistemas de Informação na EP - Estradas de Portugal S.A. e Professional Services Manager da Sybase Inc. em Portugal. Na academia é diretor executivo da LISS – Lusofona Information Systems School, e docente da ULHT. Rui Ribeiro é doutorado em Gestão... Ler Mais..

Artigos Relacionados

Alexandre Meireles, presidente da ANJE
Paulo Doce de Moura, Investment Advisor do Banco Carregosa