Opinião

Gap Year… como assim?

Anabela Possidónio, fundadora da Shape Your Future

Quantos dos pais ou mães que estão a ler este artigo já se depararam com este pedido? Vários, com certeza!

Quantos e quantos adolescentes sentem que não estão preparados para decidir o que vão estudar na universidade e pensam o bom que seria se pudessem parar durante um ano? Muitos! Bastantes mais do que aqueles que chegam a verbalizar essa vontade junto dos seus pais!

A verdade é que nem todos os jovens chegam ao 12.º ano certos do que querem estudar ou que profissão gostariam de ter. Outros há que sentem que gostam de mais do que uma coisa e que gostavam muito de poder experimentar. Existem também os que simplesmente querem ter a oportunidade de fazer voluntariado ou correr mundo. Que sentem que, após 12 anos de estudo, não querem entrar numa nova nova corrida sem ter tempo de ir abastecer!

Muitas vezes tenho pais que dizem que “os meus outros filhos foram logo para a universidade e estão muito felizes. Por que é que com este há-se ser diferente?”.

Mas também há pais que sentem que os seus outros filhos, pela pressão de irem para a universidade, acabaram por ir parar a um curso que não gostam e que não poderiam estar mais infelizes. “Não quero que o mesmo aconteça com este! Se tiver que parar um ano, que pare! Antes isso que ter uma depressão.”

Já os filhos confessam que, embora gostassem muito de seguir essa opção, não querem desapontar os seus pais, que fizeram um esforço enorme para que eles agora acabem por não ir logo para a universidade. Há também os que ganham coragem para falar com os pais que perentoriamente lhes dizem “Gap Year? Nem pensar! Queres é ficar um ano na boa vida e isso cá em casa não é opção! “

Se quem me lê se identifica com alguma destas histórias, deixem-me que partilhe convosco algumas dicas, para quando a conversa surgir, se surgir:

  1. Oiça o que seu filho/a tem para dizer
  2. Pergunte-lhe qual a motivação para querer fazer um Gap Year
  3. Que objetivos quer atingir
  4. O que se propõe exatamente fazer
  5. Ainda sem julgar, peça-lhe que faça um plano que possam ver em conjunto

O mais importante deste processo é perceber se se trata de uma decisão estruturada, pensada e ponderada com cuidado. É também importante perceber se o seu filho/a está com receio de não conseguir atingir os objetivos académicos que lhe permitem entrar no curso que quer, está a tentar adiar uma decisão ou simplesmente precisa de tempo para tomar a decisão correta.

De acordo com os diferentes cenários pode precisar de um tipo de apoio distinto. Em alguns casos, quando se tratam de adolescentes mais ansiosos, o ter um plano B que os entusiasme, até pode ser uma forma de os ajudar a atingir o plano A.

Já no caso dos jovens que sentem que todos os seus amigos sabem o que vão estudar menos eles, poderem ter um plano diferente de todos os demais pode ser exatamente aquilo que necessitam para desbloquear.

Há também aqueles que simplesmente querem parar, fazer coisas que nunca fizeram e vivenciar novos sentimentos. Da minha experiência, estes são os casos em que sinto mais resistência por parte dos pais. Mas também neste cenário podem existir vários benefícios.

Independentemente da motivação dos seus filhos, o importante é que tenham então a segunda conversa. E sabe que mais? Por vezes esta segunda conversa nunca acontece. Simplesmente porque o Gap Year não passou de mais uma ideia, mas não é suficientemente robusta para construírem um plano estruturado, que possa discutir consigo.

Já no caso dos que chegam com um plano fundamentado, não deixe de os ouvir, mas não se esqueça de os desafiar de forma construtiva. Alguns items que pode ter no seu checklist são:

  • Este plano permite-lhe conhecer melhor as profissões que lhe trazem dúvidas? Pensa em fazer estágios? Considera tirar cursos online que lhe deem uma melhor perspetiva do que se aprende numa área específica? (plataformas como a Coursera têm boas opções sem custos ou com custos relativamente baixos).
  • Este plano permite-lhe alargar os seus horizontes, ganhar fluência em algum idioma ou contribuir para uma causa? Propõe-se a fazer voluntariado nacional ou internacional? Inclui a hipótese de trabalhar num outro país em atividades que lhe permitam estar em contacto com as pessoas (por exemplo, num supermercado ou cadeia de fast food?).
  • Este plano inclui tarefas que lhe permitam financiar o mesmo?

Sem ser uma lista exaustiva, estas são apenas algumas das questões que deverá ter em consideração aquando da discussão de um plano de Gap Year com os seus filhos.

Relativamente à pergunta se é ou não bom fazer um Gap Year, a resposta só pode ser uma: depende! Cada jovem e cada situação são diferentes e não existem respostas universais. O mais importante é respeitar a individualidade de cada um e aproveitar esta oportunidade para ajudar os seus filhos a desenvolverem sentido de responsabilidade!

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Anabela Possidónio

Anabela Possidónio

Anabela Possidónio é fundadora e diretora-geral da Shape Your Future, que tem como missão ajudar jovens e adultos a tomarem as melhores decisões académicas e profissionais. Assume também o cargo de diretora-geral da Operação Nariz Vermelho. Tem uma vasta carreira corporativa de mais de 25 anos, onde assumiu posições de liderança em diversos setores (Saúde - CUF; Educação - The Lisbon MBA; Retalho - Jerónimo Martins e Energia - BP), em diferentes países (Inglaterra, México, Espanha e Portugal) e empresas... Ler Mais..

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