A história da humanidade tem sido marcada por ciclos de poder, desigualdade, inovação e colapso. Do apogeu dos impérios clássicos ao advento das revoluções industriais, sempre houve momentos em que o progresso tecnológico e económico foi acompanhado por profundas assimetrias sociais.
Vivemos numa era em que a promessa de mobilidade social está em declínio. A ideia de que o esforço individual pode suplantar a origem socioeconómica tornou-se, na prática, cada vez mais ilusória.
Desde a queda do Muro de Berlim, a Europa viveu uma ilusão confortável. O “dividendo da paz” proporcionou décadas de crescimento económico e de reforço do Estado Social, enquanto os exércitos eram reduzidos a sombras do que tinham sido. No entanto, esse dividendo está a esgotar-se rapidamente.
A globalização, a revolução digital e as recentes mudanças políticas trouxeram uma nova dinâmica para a sociedade: uma polarização cultural evidente e uma crescente incerteza política.
Tenho 67 anos. Deixei a minha profissão aos 60 anos. Muitos questionaram essa opção pois como Global President de uma multinacional de marketing e publicidade, a Havas, poderia simplesmente continuar na função até que chegasse a idade natural da reforma.
Comecei a minha vida profissional como “management trainee” na Fima-Lever-Iglo, uma joint-venture entre a Jerónimo Martins e a Unilever. Quando liguei ao meu Pai encontrei um raro silêncio do outro lado da linha.
Tenho quatro filhos e quatro noras, todos licenciados ou mestrados. Dos oito, sete vivem e trabalham no estrangeiro. Os meus cinco netos também. Apenas uma razão fez com que partissem: a procura de uma carreira profissional bem remunerada. Cá não seria possível.
Já lá vão muitos anos desde que Barack Obama ganhou as eleições presidenciais nos Estados Unidos. Fê-lo sob a bandeira da Esperança invocada num poster de campanha genial em que, sobre a palavra Hope, se via a cara do jovem candidato.
Nos últimos anos, testemunhámos avanços significativos no campo da inteligência artificial, especificamente no desenvolvimento de Large Language Models (modelos de linguagem avançados).
Para muitos portugueses, a sensação de impotência face à paralisia do país é avassaladora. Como português de 66 anos, é com enorme tristeza que vejo o país a definhar.
Não resta entre nós grande memória do que foi, há apenas uma década, uma das poucas multinacionais portuguesas, a CIMPOR. A CIMPOR nasceu da nacionalização, em 1974, das empresas cimenteiras nacionais. Foi reprivatizada em 1994. O Estado embolsou 1.8 mil milhões de euros na operação. Até 2012, quando foi vendida, a gestão da CIMPOR, chefiada primeiramente por Sousa Gomes, fez dela um florão da nossa indústria.
A minha última crónica versou sobre a experiência ultra-liberal de Liz Truss. Apesar de já conhecermos o final da história, convém relembrar o que aconteceu.