Opinião
Principais desafios da Saúde Mental nas empresas

O compromisso e o bem-estar dos trabalhadores são indicadores críticos de saúde e produtividade organizacional. Há cerca de um ano escrevemos sobre isto (1). Sentimos que é muito relevante dar continuidade.
Foi publicado recentemente um estudo da Gallup (2024 State of the Global Workplace report) que refere que o bem-estar organizacional das gerações mais novas (menos de 35 anos) desceu de 35% em 2023, para 31% em 2024. O das gerações mais velhas aumentou ligeiramente de 35% para 36%.
Embora as diferenças geracionais tenham sido muito exploradas, estes dados têm de ser tidos em conta pelas lideranças porque estas normalmente são de gerações mais velhas, pelo que podem ter conceitos de bem-estar, compromisso e expectativas diferentes que dificultam a gestão das pessoas.
Outro dado relevante do estudo, é o sentimento de solidão dos colaboradores:
20% das pessoas que trabalha sente solidão;
25% dos que trabalham em modo totalmente remoto sente solidão;
16% dos que trabalham totalmente em modo presencial sente solidão;
21% dos que trabalham em modo híbrido sentem-se sós.
Ou seja, o sentimento de solidão sempre existiu no contexto organizacional, mas aumenta substancialmente com o formato remoto. Não é objetivo deste artigo discutir as vantagens e desvantagens do trabalho presencial ou remoto. O que nos chama a atenção nestes dados – bem-estar e solidão em contexto laboral – é que nos remetem claramente para a importância do papel que as chefias podem ter neste contexto.
Para um gestor, é clara a relação entre compromisso, bem-estar e produtividade. No entanto, acreditamos que não é tão clara a relação entre falta de compromisso, stress, preocupação e saúde mental. Esta sequência está absolutamente desvalorizada e nem sempre é vista, porque pode ser apenas interpretada como “falta de interesse”, pouca ambição ou uma má fase.
Não é obviamente, apenas o trabalho o único factor que afeta a saúde mental dos colaboradores, mas o trabalho é um factor muito importante pelo tempo a que ele dedicamos. Os níveis de stress, preocupação e solidão (principais factores que determinam o bem-estar) de uma pessoa que não está comprometida com o seu trabalho são equivalentes aos de uma pessoa desempregada (mesma referência).
Por todos estes motivos, consideramos relevante recordar quais são os principais desafios para as empresas neste âmbito:
- Ajudar na capacitação psicológica para prevenir a doença mental
Os trabalhadores precisam de ter mais e melhores competências para cuidar de si e ganhar maior auto-consciência das suas verdadeiras necessidades. É necessário ir à base e trabalhar estas competências. - Desenvolver uma liderança humana e focada nas pessoas
Esta forma de liderança emerge como um elemento essencial para promover um ambiente de trabalho saudável. Se as lideranças não estiverem alinhadas, na prática e verdadeiramente com a relevância da saúde mental, qualquer iniciativa não terá resultados. - Envolver os trabalhadores na configuração da oferta de bem-estar
Existe a tendência, nas áreas organizacionais que definem as ofertas na área da saúde e bem-estar das pessoas, de seguir modas, fazer ou oferecer o que a concorrência disponibiliza. Não pensemos que sabemos o que as pessoas querem ou precisam! Os trabalhadores são decisivos na identificação dos serviços e das atividades consideradas mais adequadas e na forma de aumentar a sua utilização e participação, pelo que é incontornável perguntar a sua opinião. - Criar um ambiente de trabalho colaborativo
Um ambiente de trabalho colaborativo é essencial para o bem-estar dos trabalhadores. Isso inclui não apenas aspectos físicos, mas principalmente a segurança psicológica, onde se sentem valorizados e respeitados, onde podem ser vulneráveis e errar. O desenvolvimento das capacidades de coaching das chefias é crítico para construir esse espaço seguro.
Convidamos os líderes que reconhecem a necessidade de um novo paradigma a juntarem-se a nós nesta jornada transformacional. Vamos mesmo colocar à frente a capacitação e a qualificação das pessoas.
1) “Let’s get this straight, I’m the boss” O papel do líder na Saúde Mental das suas equipas. publicado pelo Link to Leaders em maio 2023
*Belén de Vicente, CEO da Medical Port e fundadora da Stuward Health, e Ana Pinto Coelho, fundadora da Insight Out