Opinião

A melhor resolução para 2019 (e em diante)

Ricardo Tomé, diretor-coordenador da Media Capital Digital

Decerto terá visto nas últimas semanas no Facebook ou Instagram um certo #10yearschallenge. E decerto terá encontrado num qualquer acesso a um website a pergunta e o pedido para ceder permissões e aceitar os cookies para continuar a navegar. Correto? O que têm as duas coisas em comum? E com o título acima? Mais do que imagina!

Assim que o desafio apareceu, incitando a que os utilizadores das redes sociais partilhassem uma foto que juntasse uma selfie sua de há 10 anos e de hoje, várias teorias da conspiração surgiram. A que suscitou mais debate foi que nada disto seria senão uma forma ardilosa de ensinar a Inteligência Artificial destas redes para o treino do nosso “eu” atual e de há 10 anos, data onde mais dificilmente teriam bases de dados atualizadas e etiquetadas de fotos com o nosso nome, assim ajudando o BigBrother cibernético e capitalista a indexarem mais facilmente fotos nossas. A meu ver, algo exagerado.

Mas que tem isto a ver com o título?
Já lá vamos.

Depois, a par do RGPD, eis que passámos a ser assaltados com perguntas insistentes para dar o nosso consentimento à entrada de vários websites, por forma a cedermos que os mesmos colocassem as suas cookies a funcionar e guardar os nossos padrões de consumo. Isto para nos recomendar melhor conteúdo e servir publicidade endereçada (aliás, já não há outra, quase…).

O que tem isto a ver com o título?
Tudo.

A sua resolução para 2019 é mesmo esta. PARAR. Parar para observar e pensar e decidir. A web tal como a conhecemos nos idos anos de 2000 e nessa década acabou. Foi ainda depois feliz, na explosão de 2009, 2010 e 2011 em diante com as redes sociais a ribombarem de amizades mil. Veio o amadurecimento da Web 2.0. Participativa. Interativa. Colaborativa. E a magia com ela, de que a web era um local mágico onde, mais uma vez, tudo era possível.

Finalmente chegamos a 2017. A emergência da Inteligência Artificial passou a ser um dado seguro. A nuvem e os dados armazenados e acessíveis por múltiplos dispositivos em qualquer parte uma certeza. O jargão do BigData substituiu o BigBrother. E eis-nos na Web 3.0, preditiva, personalizada, inteligente, multi-conectada, holística, líquida, por toda a parte.

A resolução é esta: a Web como a conhecemos, naïf, aberta, livre, despreocupada, sem memória, terminou. Por isso encare o final desta década como o início de uma nova era. Uma em que precisa tomar esta resolução muito a sério. A da sua responsabilidade enquanto cuidador dos seus passos no digital, da sua pegada, da sua memória guardada pelos outros. Em vez de partilhar todas as fotos sem pudor, em vez de aceitar todos os termos e condições, em vez de repetir a password, em vez de achar que no fundo, no fundo, o que todos queremos e estamos a construir é uma web livre, mais vale começar a precaver-se. Não confiar em almoços grátis e escolher bem onde guarda o backup das suas fotos. Onde coloca os seus contactos. As suas notas. Os seus dados. Onde põe o clique da sua visita.

A resolução de 2019 deve ser terminar com o OK rápido e ensinar os filhos a não o começarem a fazer sequer, antes deitando o olho às letras pequenas da pop-up e decidindo com cautela se vale mesmo a pena partilhar e guardar a sua pegada a troco de uma visita fugaz de um qualquer website de domínio desconhecido e sem segurança https.

É chato. É por vezes penoso. Pode ser mesmo por vezes mais caro, em vez de grátis. Mas não é mais do que a constatação da realidade. A web mudou e nós temos de mudar com ela. É a juventude que terminou. Foi-se a adolescência e a rebeldia. Vem agora a idade adulta. Tempos de responsabilidade e de assumir que os nossos atos contam para o nosso futuro na web. Com mais ou menos problemas, mais ou menos permissões. É tempo, na vida a partir de um certo momento como também na web e nas redes sociais o passámos a fazer, de escolhermos bem as nossas amizades e por onde andamos.

Comentários
Ricardo Tomé

Ricardo Tomé

Ricardo Tomé é Diretor-Coordenador da Media Capital Digital, empresa do grupo que gere a estratégia e operação interativa para as várias marcas – TVI, TVI24, IOL, MaisFutebol, AutoPortal, etc. – com foco especial na área mobile (Rising Star, MasterChef, SecretStory) e Over-The-Top (TVI Player), bem como ativação de conteúdos multiscreen em todas as plataformas e realizando igualmente a ponte com o grupo PRISA nas várias parcerias: Google & YouTube, Facebook, Twitter, Endemol, Shine, entre outras. Foi, até 2013, coordenador da... Ler Mais..

Artigos Relacionados