Os planos da UE para atrair empreendedores

A União Europeia está empenhada em transformar a Europa num destino atrativo para empreendedores de todo o mundo. Saiba o que está a fazer neste sentido.

Numa altura em que no continente europeu as notícias se centram, acima de tudo, no Brexit e no ressurgimento de movimentos nacionalistas, em alguns países é fácil julgarmos que o atual foco da União Europeia (UE) está em controlar e combater esta crise mais recente.

Contudo, não é bem assim. A UE trabalha afincadamente em garantir um futuro para a Europa, grande parte do qual depende do sucesso dos empreendedores europeus. Conheça os planos da UE para atrair empreendedores, segundo o Entrepreneur.

O Plano de Ação Empreendedorismo 2020
Numa tentativa de combater os efeitos devastadores da crise mundial de empreendedorismo em 2008, a UE elaborou o plano de ação Empreendedorismo 2020 no início de 2013. A iniciativa pretende recuperar o espírito empreendedor europeu e eliminar os obstáculos existentes para empreendedores na Europa.

A Comissão Europeia identificou três objetivos principais para atingir esta meta. Em primeiro lugar, os sistemas de educação atuais devem incluir formação em empreendedorismo de e para empreendedores. Isto abrange não apenas a partilha de ideias, conhecimento e experiência, mas também a troca das melhores práticas em cada nação, companhias e gestores de negócios. Simultaneamente, a Comissão Europeia promete ainda facilitar o acesso a experiências práticas através do desenvolvimento de modelos e projetos focados nos padrões europeus.

A eliminação de obstáculos administrativos e burocráticos é outro ponto chave. Ao tornar o empreendedorismo mais acessível através de medidas como um aumento de disponibilidade de financiamento, por exemplo, os legisladores pretendem atrair investidores de risco de todo o mundo. Além disso, as jurisdições devem disponibilizar-se a apoiar empreendedores em fases críticas do ciclo de vida empresarial.

Por fim, a UE prepara-se para construir uma cultura verdadeiramente empreendedora no continente europeu. A Comissão Europeia menciona mulheres, seniores, migrantes, desempregados e jovens como potenciais donos de negócios no futuro. De forma a tornar-se verdadeiramente competitiva num panorama internacional, o foco na era digital foi também levado em consideração como um pilar fundamental do programa.

As ações tomadas
No que diz respeito à educação em empreendedorismo, observa-se um desenvolvimento substancial. Em 2015, a University World News reportou que todas as universidades na Holanda ofereciam formação para empreendedores. E um ranking das universidades europeias, conduzido pela Reuters em abril de 2018, revelou que as universidades membros do Instituto Europeu para a Inovação e Tecnologia tendem a ficam melhor classificadas que a sua concorrência.

Criado originalmente em 2008, o Small Business Act (SBA) da União Europeia eliminou alguns dos obstáculos ao empreendedorismo. Desde então, esta medida já sofreu várias atualizações e a sua implementação tem sido monitorizada de perto durante este período.

Para construir uma infraestrutura competitiva num mundo digital, o Conselho Europeu para a Inovação lançou-se numa fase piloto em 2017. Desde aí, que o CEI já causou um impacto significativo através da atribuição de fundos no valor de 730 milhões de euros a mais de 1.200 projetos.

A 18 de março de 2019 a Comissão Europeia anunciou que o CEI receberá 2 mil milhões de euros de investimento durante os próximos dois anos. Com este programa, a UE está a abordar a intensificação da concorrência mundial na área das novas tecnologias, apoiando a inovação e mitigando o risco de start-ups europeias e de outras empresas já estabelecidas.

A geração de empreendedores
A UE está a fazer o trabalho de casa, mas terá desencadeado realmente uma cultura empreendedora? Observando as capitais de alguns dos maiores países da Europa, assim como outros mais pequenos, nota-se claramente um aumento da atividade na área do empreendedorismo.

A Valuer, uma plataforma com tecnologia IA para encontrar start-ups em estágio inicial para aceleradores e investidores, acaba de publicar um índice das 50 melhores cidades para start-ups. Supreendentemente, este índice é maioritariamente dominado por cidades europeias, estando seis delas nos 10 primeiros lugares.

Berlim, a capital da Alemanha, que lidera a lista, é frequentemente mencionada como uma cidade com um custo de vida relativamente baixo e um ecossistema extraordinário para start-ups. Tal como escreveu Matt Cohler, um investidor de capital de risco e co-fundador do Facebook, num artigo de sua autoria publicado na TechCrunch: “Acredito que Berlim é a cidade com mais hipóteses no mundo ocidental, fora de Silicon Valley, de se tornar um verdadeiro ecossistema de start-ups de tecnologia”.

Também o Forum Económico Mundial focou alguns desenvolvimentos num relatório de 2016. De acordo com o documento, a Europa experimentou um aumento substancial na Atividade de Empregado Empreendedor, também conhecida como intra-empreendedorismo. O termo refere-se a empregados que elaboram e concretizam novas ideias dentro de corporações, em vez de abrirem o seu próprio negócio. Tal como o estudo sugere, a Europa regista o maior número de AEE do mundo, num total de 40% de toda a atividade empreendedora.

As más notícias
Sensivelmente há um ano, a Startup Europe Partnership, fundada pela Comissão Europeia, publicou uma carta aberta que criticava a UE por negligenciar o apoio a negócios nas suas intenções de expandir pelo continente. “A Europa precisa de mais empresas tecnológicas, com capacidade para crescerem rapidamente e tornarem-se internacionais ao mesmo tempo que produzem receitas, emprego e inovação num palco cada vez maior”, referia a carta.

Para além disto, a UE tem causado algum mau estar entre os proprietários de pequenas empresas através de leis e obrigações questionáveis, entre as quais alterações no sistema de impostos e regulamentação de privacidade. É o caso da controversa lei RGPD que, aparentemente, causou estragos significativos na área das start-ups tecnológicas europeias, nos últimos meses.

Acontece que estas desvantagens criadas pela legislação europeia parecem ter já assustado algumas start-ups de alta tecnologia. A ATRONOCOM, uma plataforma de mensagens e pagamentos de alta segurança, elegeu o Dubai para sua sede, embora ainda possua uma parcela considerável do seu negócio na Europa central.

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