Opinião

O posicionamento do marketing

Pedro Celeste, diretor-geral da PC&A

Ao longo de muitos anos de contacto com empresas de diferentes dimensões, realidades e setores de atividade, pude-me aperceber que o tema de marketing, não só não é pacífico, como também não é percecionado da mesma forma.

Se é verdade que, em muitas empresas, o marketing é encarado como algo de estratégico que explica a qualidade da experiência dos clientes e visa otimizar a relação com os mesmos, ao mesmo tempo que influencia a tomada de decisão ao nível da gestão do portefólio, do pricing, da otimização do canal de distribuição e da geração de valor para a marca, para muitas outras não passa de uma área cuja única responsabilidade é conceber uma comunicação criativa.

Esta falta de posicionamento percetual da função marketing resulta pela forma abusiva como a mesma é transmitida e interpretada por quem tem a missão de a ensinar ou a implementar. Quantas vezes não vimos artigos, publicações, cursos ou podcasts, denominados marketing e comunicação, marketing e publicidade, marketing & social media, etc…? E que dizer quando 80% dos inquiridos à pergunta “o que representa para si o marketing digital?”, referem técnicas e dicas de comunicação?

Assim, os novos influencers são especialistas de marketing. Um brilharete em qualquer evento é uma ação de marketing. Um truque comercial é uma ação de marketing. Até o jogo de palavras na política é uma ação de marketing.

Diversas vezes deparei com briefings de empresas, que querendo capitalizar a notoriedade ou imagem de marca, diziam “façam-nos sonhar” ou “provoquem o UAU”, mas sem conteúdo, objetivo ou métrica de alcance.

Esta situação não ocorre apenas em empresas de pequena dimensão. Não são poucas as grandes empresas onde o marketing assume um papel secundário e representa, apenas e tão só, o departamento que se relaciona com a agência de comunicação, publicidade ou digital.

Não tenho a pretensão de julgar os que pensam dessa maneira, mas tenho a obrigação de reforçar a ideia de que marketing é a principal razão pela qual as empresas afirmam e afinam a sua proposta de valor.

Talvez por esta razão, ainda há bem pouco tempo, e segundo a Forbes, apenas 34% das 1.000 maiores empresas mundiais tinham um CMO no Board. E isso também explica as seguintes estatísticas, resultantes de um estudo aplicado a 1200 CEO’s de empresas norte-americanas:

  • 80% dos entrevistados dizem que os responsáveis de marketing estão desligados dos resultados das empresas e que se focam em funções erradas;
  • 78% afirmam que as áreas de marketing não percebem bem qual é a sua verdadeira missão na empresa e o que devem produzir no fim do dia;

O marketing tem um problema de marketing.

A ausência de uma componente estratégica e de uma reflexão analítica que apoia a tomada de decisão a um nível executivo é, hoje em dia, incompreensível em qualquer setor de atividade. Todos percebem isto, mas nem todos consideram que este é um dos principais contributos que o marketing deve assegurar na gestão das empresas.

Esse desafio só será alcançável quando os líderes empresariais estiverem verdadeiramente orientados para criar valor junto dos clientes e menos voltados para si mesmos. Afinal, os clientes são aqueles que gastam o seu dinheiro, na nossa empresa, e que nos permitem pagar as contas e salários no final do mês.

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Pedro Celeste

Pedro Celeste

Doutorado em Gestão pela Universidade Complutense de Madrid. Diplomado pelo INSEAD, London Business School, Wharton School, University of Virginia, MIT Management Sloan Management School, Harvard Business School, Imperial College of London, Kellogg School of Management de Chicago e IESE Business School. Na Católica Lisbon School of Business & Economics é Diretor Académico dos Executive Master in Management e coordenador do Programa Avançado de Marketing para Executivos, do Programa de Gestão Comercial e Vendas, do Programa de Gestão em Marketing Digital... Ler Mais..

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