Entrevista/ “Com a Lawra é possível contactar um advogado por 25€”

Mário Nobre, fundador e CEO da Lawra

Facilitar a aproximação entre advogados e clientes, de uma forma simples e intuitiva, é a proposta da Lawra, uma plataforma disponível a qualquer hora e em qualquer lugar.

A plataforma Lawra começou a ganhar forma há cerca de dois anos pelas mãos de Mário Nobre e Paul Marques, cofundadores, com o intuito de desmistificar o acesso ao aconselhamento jurídico e facilitar o contacto entre clientes e advogados. Com este recurso, se precisar de um advogado numa área de especialização concreta, apenas tem de procurar o profissional que melhor se adequa às suas necessidades na plataforma.
O projeto foi um dos vencedores da 1.ª edição do Start-Up Lab by SRS e falamos com o CEO que explicou ao Link To Leaders como a Lawra quer democratizar o acesso ao universo da advocacia.

Quando e como surgiu a ideia para este projeto? 
A ideia de criar uma plataforma que pudesse resolver a necessidade de obter aconselhamento jurídico em qualquer dia e a qualquer hora, de forma imediata, simples intuitiva e economicamente acessível surgiu há cerca de dois anos. Estava em Frankfurt e pretendia o rápido esclarecimento de um advogado local que dominasse o português (eventualmente o inglês), por forma a receber aconselhamento jurídico para uma situação inadiável. No entanto, face à impossibilidade de encontrar esse profissional não consegui resolver o meu problema. Chegado a Portugal constatei que essa lacuna também existiria aqui se as circunstâncias se repetissem.

Assim, nasceu a Lawra, acrónimo de LAW R(easonable) A(ffordable), que é o mesmo que dizer acesso a um Direito Sensato e Acessível, designação cuja fonética é praticamente universal, não deixando de estar personificada (Laura), o que é importante nesta fase de transição para as AI (artificial intelligence).

De que forma a plataforma pode facilitar a comunicação entre quem procura um advogado e os escritórios?
A Lawra foi pensada para facilitar o contacto entre clientes e advogados tenham estes escritórios ou não. Com um simples clique, o cliente conseguirá pesquisar o profissional adequado ao assunto que quer ver juridicamente esclarecido. O cliente poderá falar imediatamente com um advogado de entre os que apresentem disponibilidade na plataforma ou agendar uma consulta telefónica ou presencial.

Todos, independentemente do momento e lugar em que se verifica a necessidade, terão acesso aos serviços de um advogado…

Como esperam que a Lawra faça a diferença no mercado nacional? O que distingue e torna a plataforma única?
A Lawra é pioneira em Portugal na democratização do acesso ao Direito. Todos, independentemente do momento e lugar em que se verifica a necessidade, terão acesso aos serviços de um advogado com custos pré-definidos que em nada beliscam o direito ao livre estabelecimento de honorários. Assim, e por 25 euros, é possível a qualquer interessado contactar telefonicamente um advogado, pelo período de tempo resultante do rácio: valor honorários/hora praticados pelo advogado. Ou seja, se um advogado praticar um valor de 100 euros por hora, o cliente terá direito a uma consulta com a duração de 15 minutos. Como diz o provérbio “mais vale prevenir do que remediar” e com estes valores … só não se previne quem não quiser.

O que o levou a participar no StartUp Lab?
Sendo este um projeto legaltech, nada melhor que procurar ajuda junto de um acelerador de start-ups sensível à área de atividade da Lawra. Sendo a StartUp Lab o primeiro acelerador de start-ups desenvolvido em Portugal por uma sociedade de advogados, não poderíamos ficar alheios a essa oportunidade única. Hoje podemos dizer que em boa hora o fizemos, pois temos vindo a receber da Sociedade Rebelo de Sousa uma indispensável ajuda à implementação do nosso projecto.

O que espera concretizar com a fase de formação e mentoria que tem agora pela frente?
Graças à qualidade dos parceiros escolhidos para a formação, esperamos desenvolver o conceito de forma mais sustentada e consolidar o projeto de modo a encarar outros desafios como o da internacionalização, sobretudo até pelas especiais valências dos mentores, todos destacados ou por terem start-ups de sucesso ou por serem leaders em diferentes áreas de negócio. Claro está que o desenvolvimento do conceito será tão mais célere quanto existirem meios financeiros que o apoiem, daí que será bem-vindo um parceiro investidor.

Qual vai ser o vosso modelo de negócio?
O nosso modelo de negócio assenta em dois vetores. Os advogados e os clientes, podendo estes últimos ser pessoas singulares ou empresas. Através da plataforma, os clientes poderão encontrar o advogado que melhor se adequa à sua questão em concreto, sendo este quem presta o serviço jurídico, pois a Lawra apenas é um facilitador de contacto entre ambas as partes, disponibilizando os meios para tal.

O utilizador pode assim contactar um advogado através de agendamento (telefónico ou presencial) ou imediatamente, tudo com valores fixos e acessíveis (25 euros) onde a única variável é o tempo subscrito, pois este depende do valor hora introduzido pelo advogado, sendo automaticamente feito um rácio entre valor/h e o tempo a que correspondem os 25 euros.

Para os advogados permitir-lhes-á chegar a novos clientes, rentabilizar recursos (como seja por exemplo secretariado), possibilidade de fazerem advocacia em part-time ou em períodos-mortos da sua atividade (pois os horários são livremente escolhidos por estes), não tendo que se preocupar com a publicidade, já que esta é da responsabilidade da Lawra que promoverá a plataforma sem impedimentos legais.

E em relação aos clientes?
Quanto aos clientes, nomeadamente pessoas singulares, permitir-lhes-à o acesso ao Direito, facilitando-lhes encontrar um advogado imediatamente e/ou para uma questão em concreto, desmistificando a ideia de que o advogado é dispendioso, prevenindo-se em vez de se remediar e ainda aumentando o capital cultural jurídico através dos nossos blogs, que serão alimentados por todos os profissionais que nele queiram participar.

As empresas, à semelhança do que fazem quando “oferecem” um seguro de saúde aos seus trabalhadores, poderão subscrever créditos a serem utilizados por eles na Lawra, sendo esse custo elegível para efeitos fiscais.

Estar visível e oferecer serviços é grátis para cada advogado, no entanto a subscrição de determinados planos que lhe possibilitem, com mais ou menos detalhe, fruir de outras funcionalidades, serão pagos pelo advogado subscritor,  bem como uma taxa por cada serviço que preste através da plataforma.

Quer se queira, quer não, estamos perante uma revolução no modo de abordagem da advocacia e dos clientes com os advogados.

Quais os maiores entraves que têm encontrado no domínio das legaltech?
Quer se queira, quer não, estamos perante uma revolução no modo de abordagem da advocacia e dos clientes com os advogados. Se a tudo isto, adicionarmos uma legislação profissional desajustada às realidades das novas IT (Information Technologies), não há dúvida que o problema tem contornos institucionais, para cuja solução a Lawra não poderá contribuir ainda que a possa motivar.

Assim, e do primeiro teste que fizemos em 21 de maio último, quando resolvemos colocar a plataforma online, e durante pouco mais de 24 horas, deparámo-nos com três tipos de situações:  i) advogados que imediatamente aderiram; ii) advogados que não aderiram com receio de represálias disciplinares e iii) reacção da Ordem dos Advogados que emitiu um comunicado para a classe que viria a ter consequências junto dos profissionais que espontaneamente aderiram, levando alguns dos quase 150 registados a solicitar-nos a sua remoção da plataforma.
O Estatuto da Ordem dos Advogados proíbe a “angariação de clientela” e limita a publicidade dos advogados. Ora, é precisamente nestes dois domínios, diga-se, de interpretação nada pacífica, que residem os maiores entraves à implementação de qualquer legaltech que vise aproximar os clientes desses profissionais.

Como é que a inovação tecnológica pode ajudar a transformar o setor da advocacia, tornando-o mais célere e eficiente?
Se, por um lado, considerarmos que num estudo publicado no Diário de Notícias (02.03.2017) “mais de 70% dos advogados querem emigrar ou mudar de emprego”, ou o mais recente caso que revela que cerca de ⅕ dos advogados podem ser executados por terem quotas em atraso, ou ainda que existem advogados a receber clientes em pastelarias, bancos de jardim ou nas salas dos tribunais e, por outro lado, considerarmos que a Lawra a todos permitirá disponibilizar os seus serviços, a qualquer dia e a qualquer hora, recebendo a corespetiva remuneração, efetivamente privilegiar-se-á uma advocacia preventiva. Logo, dúvidas não subsistirão que diminuirá o recurso aos tribunais e, consequentemente, não se avolumarão as pendências, para além de melhor se realizar o desígnio constitucional de acesso à Justiça.

Onde querem estar daqui a um ano? Quais as ambições da Lawra? Internacionalizar a plataforma?
Daqui a um ano queremos estar no bolso de todos os portugueses que tenham um smartphone para que antes de tomarem qualquer decisão que possa afetar as suas vidas, o façam de modo consciente e informado, e ainda satisfazer uma classe profissional há muito desiludida e desencantada. Queremos ainda que a Ordem dos Advogados nos venha a considerar um parceiro e não um opositor.

A Lawra está a ser concebida para ser uma plataforma global, querendo implementar-se em países que têm outras plataformas desta natureza, mas sem as funcionalidades que nos diferenciam. Mercados como o do Brasil, em que existem cerca de 800 mil advogados, ou mercados na Europa, como França, Espanha, Alemanha e Itália, são para nós prioritários.

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