Opinião

Inovar com ou sem tecnologia

José Pedro Freitas, presidente da ANJE*

Como uma conhecida pasta dentífrica, a inovação anda na boca de toda a gente. E ainda bem. Não sendo uma panaceia para todos os males de que enferma o tecido empresarial português, a verdade é que ser inovador constitui, atualmente, a atitude mais avisada para triunfar nos negócios.

Hoje, ser competitivo no mercado global significa ter capacidade de adaptação à mudança, encontrando novas soluções para as realidades que um mundo em vertiginosa mutação nos oferece.

Há, no entanto, que desmistificar o conceito de inovação, para que dele não se tenha uma visão errada ou parcial. É que existe a tendência para considerar inovador apenas o que envolve novas tecnologias e assume um caráter disruptivo. Trata-se de uma leitura manifestamente redutora, na medida em que tem em conta os meios, mas descura a forma. Quero com isto dizer que, mais do que sofisticação tecnológica, inovar significa introduzir, renovar, (re)inventar ou criar no âmbito de um negócio.

Independentemente dos meios tecnológicos empregues, inovação é tudo aquilo que permite o desenvolvimento de bens e serviços mais diferenciadores, a adoção de estruturas organizacionais mais eficientes, a introdução de processos produtivos mais versáteis, a criação de modelos de negócio mais competitivos e a abertura de canais mais eficazes de comunicação entre a empresa e os seus públicos. É possível, portanto, inovar com atividades de baixo custo e sem grande complexidade.

Assim sendo, nada impede que um estabelecimento de comércio tradicional, uma micro empresa de artesanato ou uma unidade de produção agrícola sejam inovadores. Basta que saibam marcar a diferença no mercado. No fundo, a inovação reside na oferta de valor que a empresa faz ao cliente. Ou seja, nas vantagens únicas com que produtos ou serviços se diferenciam da concorrência e se tornam atrativos.

Mas se inovação não significa necessariamente capacidade tecnológica, também é verdade que, num ambiente económico cada vez mais digital, a combinação de conhecimento e criatividade com tecnologia permite inovar com mais retorno. A inovação disruptiva exige mais tempo e investimento – nomeadamente em tecnologia, I&D e capital humano –, mas é daí que vêm os grandes ganhos de competitividade e rentabilidade. As dez maiores empresas do mundo dos últimos dez anos são tecnológicas, não se prevendo uma inversão desta tendência.

Acontece que muitas empresas portuguesas ainda não estão, de facto, preparadas para a inovação disruptiva de base tecnológica. Para este cenário concorre uma série de fatores, alguns deles exteriores às próprias empresas. O atraso português em matéria de inovação resulta da prevalência de uma mentalidade avessa ao risco e à criatividade, das dificuldades de transferência de conhecimento da academia para o tecido produtivo, da escassa cooperação empresarial ao nível da ciência e tecnologia, do baixo investimento (público e privado) em I&D e da falta de dimensão do nosso mercado de capital de risco.

Mesmo para as grandes empresas a solução para a falta de massa crítica para a inovação disruptiva passa, em boa medida, pela criação de redes de colaboração com diferentes parceiros. Desde logo, universidades, centros de I&D e institutos de interface, mas também outras empresas e start-ups tecnológicas. As parcerias permitem, por um lado, partilhar conhecimento, cruzar competências e gerar sinergias e, por outro, repartir o esforço do investimento.

Importa, pois, acabar com a visão paroquial de que as empresas não devem colaborar entre si e com os receios de partilhar problemas, dificuldades e expectativas com académicos e investigadores.

PS – Coube-me a honra de assumir a presidência da ANJE, depois de Adelino Costa Matos ter renunciado ao cargo por motivos profissionais. Passo, assim, a assegurar os artigos deste espaço de opinião, esperando corresponder às expectativas dos leitores do Link To Leaders.

* Associação Nacional de Jovens Empresários

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José Pedro Freitas

José Pedro Freitas

José Pedro Freitas é atualmente CEO da Mota-Engil Capital. Foi presidente da ANJE-Associação Nacional de Jovens Empresários de abril de 2019 a fevereiro de 2020, tendo sido também vice-presidente desde janeiro de 2017 e integrado os órgãos sociais da Associação, mais concretamente o Conselho Fiscal, nos mandatos eleitorais precedentes (2009-2013; 2013-2017). Iniciou a sua carreira profissional na Accenture e, mais tarde, exerceu funções no departamento de controlo e planeamento da Sogrape Vinhos. Mais recentemente, entre 2009 e 2011, foi head... Ler Mais..

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