Entrevista/ “Ideias na gaveta não têm utilidade e, por isso, é importante testar a inovação de forma rápida, monitorizada”

Paulo Renato Oliveira, CEO Global da Action Labs

“Temos estado a trabalhar com a equipa do Brasil, mas, em 2024, vamos criar uma célula internacional com profissionais portugueses e de outras nacionalidades”, revelou Paulo Renato Oliveira, CEO Global da Action Labs, empresa de origem brasileira que entrou no mercado português de “olho” na Europa.

“O que fazemos é criar, desenvolver e testar produtos e serviços digitais. Isso vai desde  tirar uma ideia do papel e transformá-la num negócio, testando com os consumidores reais, até ajudar a destravar a inovação em médias e grandes empresas, oferecendo a possibilidade de construção e teste de tecnologia sem ser necessário esperar que o departamento de TI tenha disponibilidade”. A explicação de Paulo Renato Oliveira resume, grosso modo, o âmbito de atuação desta empresa que leva sete anos de atividade do outro lado do Atlântico, e que recentemente se instalou em Portugal, concretamente na Mealhada.

Com uma metodologia própria, o PoC Design, a Action Labs propõe-se ajudar empresas e empreendedores a “tirar do papel” as suas ideias e a transformá-las em produtos e serviços digitais, tornando-as palpáveis e medindo a sua aceitação junto de uma amostra do público que é consumidor real. Pode ainda ainda, apoiar fundos de investimento ou business angels no crescimento de empresas nos quais tenham investido ou testar ideias de novos negócios, antes da fase de investimento, explicou e o CEO global da empresa.

Em Portugal, reconhece o interesse, a abertura e desejo das empresas em inovar. Para 2024, a meta é conectar-se ainda mais ao ecossistema e criar as primeiras células de projetos.

O que levou a Action Labs a escolher Portugal para lançar atividade?
A Action Labs sempre teve um desejo muito grande de se internacionalizar. Depois de algumas experiências à distância, com projetos nos Estados Unidos, acreditamos que tínhamos maturidade, metodologia e portefólio suficientes para começar a atuar de forma internacional. Portugal foi a primeira opção e estarmos aqui tem sido realmente muito bom. Acompanhamos, há bastante tempo, o desenvolvimento do ecossistema de inovação no país, seja com as start-ups ou grandes empresas, e a evolução é motivadora. A presença do Web Summit e iniciativas como Startup Lisboa e Unicorn Factory são a prova de que o ecossistema está em crescimento e em evolução, o que nos faz acreditar que podemos contribuir para que seja cada vez mais competitivo globalmente. Outro fator determinante é a facilidade em aceder a outros mercados europeus e poder trabalhar com clientes e projetos que já nascem internacionais.

“Integrarmo-nos no ecossistema de inovação é o nosso primeiro objetivo”.

Quais os objetivos para Portugal?
Integrarmo-nos no ecossistema de inovação é o nosso primeiro objetivo. A inovação é um ambiente de abundância e a troca de conhecimento faz-se de forma consistente. As trocas têm sido muito ricas, tanto com start-ups quanto com grandes empresas e gestoras de fundos. Queremos trazer a nossa experiência e contribuir para esse desenvolvimento. Nos nossos primeiros seis meses em Portugal temos estado a trabalhar com a equipa do Brasil, mas, em 2024, vamos criar uma célula internacional com profissionais portugueses e de outras nacionalidades. Outro objetivo é promover o intercâmbio de start-ups entre Brasil e Portugal, trazendo start-ups brasileiras para fazer testes no mercado português e vice-versa.

Que tipo de serviços/produtos disponibilizam às empresas?
O que fazemos é criar, desenvolver e testar produtos e serviços digitais. Isso vai desde  tirar uma ideia do papel e transformá-la num negócio, testando com os consumidores reais, até ajudar a destravar a inovação em médias e grandes empresas, oferecendo a possibilidade de construção e teste de tecnologia sem ser necessário esperar que o departamento de TI tenha disponibilidade.

Ao longo de mais de 80 projetos, em sete anos de vida, a Action Labs desenvolveu uma metodologia chamada PoC Design. Esta é uma metodologia ultra ágil e focada na construção da primeira versão de produtos e serviços digitais e testes com utilizadores reais, que nos ajuda a atuar tanto com uma start-up early stage como com empresas bilionárias e fundos de investimentos. Temos, no portefólio, tanto as start-ups das quais nos tornamos sócios investidores, como produtos próprios da Action Labs e, também, empresas que poderão beneficiar da nossa presença em Portugal, ao usarem o nosso escritório como base para a internacionalização a partir de Portugal.

Como caracteriza as empresas em Portugal?
As empresas em Portugal, pelo menos as que tenho conhecido, têm demonstrado muito interesse, abertura e desejo em inovar. Têm uma visão global de mercados e uma capacidade excelente de acesso, além de boas fontes de financiamento. Talvez pelo mercado brasileiro ser mais instável e pressionar mais os empreendedores, tenho a impressão que, por aqui, tem-se mais tempo para  planear e ser mais assertivo, o que é ótimo, mas também traz o perigo da perda de agilidade. Tenho conversado com muitos empresários e gestores de fundos e ouço sempre deles uma ausência de pressa com o go-2-market. A recetividade à nossa capacidade de testar rápido e trazer insights do consumidor real, até 90 dias, tem sido muito boa e a curiosidade e interesse pela nossa metodologia de trabalho são dois ótimos indicadores de que as empresas estão interessadas em serem mais ágeis e em correrem mais riscos.

“A inovação é uma soma de cultura e processos e deve estar  em todas as áreas de uma empresa, e não de forma isolada”.

Quais os maiores desafios que as empresas enfrentam hoje em dia?
Transformar a inovação em algo prático e torná-la em algo diferenciado no mercado. Não há nenhuma empresa que não queira inovar. No entanto, fazer isso dentro de um ambiente específico, como por exemplo ao criar uma área de inovação, pode ser uma armadilha complexa e a empresa pode acabar isolada numa sala. A inovação é uma soma de cultura e processos e deve estar  em todas as áreas de uma empresa, e não de forma isolada. O envolvimento e o apoio ilimitado das lideranças são fundamentais para que se possa inovar, seja ao experimentar novos mercados, testar novos produtos, novas ferramentas e até mesmo um grupo diferente de consumidores. Queremos ajudar a disseminar essa cultura em Portugal.

De que forma pretendem ajudar as empresas portuguesas a inovar?
Testando de forma ágil e tendo em conta  os feedbacks que recebemos. Ideias na gaveta não têm utilidade e, por isso, é importante testar a inovação de forma rápida, monitorizada, tendo uma mentalidade aberta para os resultados que o mercado vai expor. Com a metodologia PoC Design, desenvolvida por nós, conseguimos promover esses testes nas mais variadas situações. Ao passar pela fase de imersão, ideação, priorização, prototipação e piloto, em menos de 90 dias, fazemos com que os desafios da inovação possam ser enfrentados de uma forma intensa e no menor período de tempo possível. Isso elimina o “achismo” e vamos diretos à opinião de quem realmente vai moldar o negócios em questão: os consumidores.

Quais as vantagens da metodologia PoC Design?
A primeira vantagem é que ela já foi testada mais de 80 vezes em projetos nos mais variados segmentos, envolvendo uma gama enorme de tecnologia e modelos de negócio. Somos muito disciplinados e temos uma equipa familiarizada com o processo, o que nos permite manter o cliente focado, algo essencial para o negócio. Além disso, temos a vantagem de contar com células multidisciplinares, formadas por profissionais seniores, que estão habituados a liderar projetos. O contato direto de toda a equipa com o projeto e com o cliente, através de  ferramentas de comunicação como o Slack, e gestão de projetos, como a Asana, permite essa proximidade, o que torna o projeto mais ágil e faz com que todos estejam comprometidos com o projeto e não com o seu trabalho individual.
A Poc Design permite ao cliente, assim como à equipa  da Action Labs, mergulhar no seu projeto, pensando e repensando vários pontos, desde o modelo de negócios que mais se encaixa no mercado até aos insights para os próximos milestones.

Quais os case studies da Action Labs que podem servir de inspiração para Portugal?
Vou citar três: a Bright Cities, sobre validação, a Flowing, sobre growth unlock, e a Boome, sobre make&delivery. Usámos em todos a metodologia PoC Design para superar os desafios e alcançar os próximos milestones.
No primeiro caso, os investigadores da Unicamp, Bright Cities, tinham o desafio de viabilizar a consultoria em Cidades Inteligentes para cidades de todos os tamanhos. A sua ideia era criar uma plataforma (SaaS) que automatizasse processos predominantemente consultivos e altamente dispendiosos. Com o  objetivo de lançar o MVP na Smart Cities Expo, em Barcelona, fizémos fez toda a criação e implementação em 65 dias – rodando um ciclo completo de PoC Design, criando todo o branding e posicionamento e implementando o MVP.

No segundo caso, trata-se de uma health tech criada em 2016, terminava o ano de  2019 com uma grande aplicação, mas não tinha clientes. Os poucos que tinham feito o projeto piloto, acabaram por não renovar. Ainda que o briefing original da Flowing fosse o desenvolvimento de novas funcionalidades, propusemos o PoC Design. Já na etapa de imersão, detetou-se que, apesar de a visão de “bem-estar” estar  disseminada, as empresas contratavam soluções focadas no “tratamento de doenças”.  Com o relançamento, em 2020, a Flowing terminou o ano de 2021 com mais de 350 mil clientes na base, com cerca de 95% de renovação. Hoje, somos sócios investidores na Flowing e continuamos a auxiliá-los com tecnologia e marketing digital, além de termos uma cadeira no conselho.

Por último, a Boome, criou uma solução seamless de ressarcimento direto, nas caixas de pagamento – o consumidor levava outro produto, de qualquer supermercado, e o valor era depositado na sua conta. No entanto, a  dependência de grandes retalhistas estava a colocar em risco o modelo de negócio. Num protótipo desenvolvido em 7 dias, criou-se um leitor que verifica se algum produto da marca estava na compra e avalia os créditos disponíveis para o utilizador. Se o consumidor tiver direito a um ressarcimento, terá o valor reembolsado imediatamente – solução depois utilizada também para ações promocionais.

Quais as áreas em que mais vos procuram?
Não procuramos uma área específica, até porque acreditamos que podemos fazer a diferença com a PoC Design em qualquer segmento. Mas, claro, existem segmentos que temos mais experiência como healthtechs, marketplaces e SAAS. Mas não temos um mercado específico a prospectar. Se fossemos agrupar sob um único chapéu, então poderia dizer que é área de inovação. De start-ups a grandes empresas, de VCs a businessa angels queremos ajudar.

Somos agnósticos em relação às áreas de atuação, temos projetos nos mais diversificados segmentos e podemos atuar em, praticamente, todas as áreas que envolvam produtos e serviços digitais. Temos uma plataforma chamada Toolkit, onde armazenamos as aprendizagens dos mais de 80 projetos realizados, e isso permite-nos aplicar o conhecimento de outros projetos e áreas aos trabalhos em questão.

Preveem também apoiar fundos de investimento ou business angels no crescimento de empresas. Como o irão fazer?
No Brasil, temos tido excelentes experiências trabalhando com fundos de investimento e também  com grupos de business angels. O nosso trabalho com os fundos é auxiliá-los, no modelo hands on, no crescimento dos seus investimentos, bem como no acesso a start-ups num momento mais early stage. Para os business angels, temos tido um trabalho mais focado no growth unlock dos seus investimentos, que, em muitos casos, ainda não têm uma equipa disponível para testes ou mesmo para o desenvolvimento dos produtos, então atuamos como parceiros na superação desses desafios.

“Os nossos planos de curto prazo envolvem o estreitamento do relacionamento com fundos interessados em aumentar a taxa de sucesso e retorno em seus investimentos”.

Quais os planos para o próximo ano da Action Labs no Brasil, mas também para Portugal?
Estamos há seis meses em Portugal, mas parece que já são mais. Para 2024, a nossa meta é conectarmo-nos ainda mais ao ecossistema, mas também conquistar projetos junto de grandes e médias empresas, ajudando-os a destravar a inovação nas suas instituições. Os nossos planos de curto prazo envolvem o estreitamento do relacionamento com fundos interessados em aumentar a taxa de sucesso e retorno em seus investimentos. O PoC Design é ideal para isso, diminuindo o risco dos novos investimentos e “resgatando” investidas que precisem de uma aceleração significativa.

Que outros planos têm para a expansão da empresa?
Com a aceleração dos negócios, pretendemos criar as primeiras células de projetos aqui em Portugal.

Respostas rápidas:
Maior risco: Ser lento
Maior erro: Apaixonar-se por uma ideia a ponto de não aceitar deitá-la fora.
Maior lição: Ouvir mais do que falar. Aprender sempre.
Maior conquista: Tirar uma ideia do papel e vê-la transformar-se num negócio.

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