O empreendedor que construiu uma empresa milionária de petróleo no Gana
Kevin Okyere gere um dos conglomerados de energia mais bem-sucedidos da África Ocidental. Conheça o rosto que está por trás do Springfield Group e que hoje apoia programas de educação e saúde em todo o Gana.
Kevin Okyere, um dos empreendedores mais experientes e discretos do Gana, investiu 70 milhões de dólares (60 milhões de euros) no desenvolvimento do Bloco 2 de West Cape Three Points no mar do Gana (WCTP2). O Springfield Group, o conglomerado de energia que fundou e gere, detém 82% de participação e opera no bloco que cobre 673 quilómetros quadrados na Baía de Tano, no Golfo da Guiné. É a primeira vez que uma empresa ganesa local explora petróleo.
“Não podemos dar-nos ao luxo de fracassar”, começa por dizer Kevin Okyere, citado pela Forbes. “Quero dizer, somos a primeira empresa ganense a aventurar-se na exploração de petróleo. Estamos numa posição única para estabelecer um precedente para outras empresas indígenas que desejam participar”, acrescentou.
Em apenas 12 anos, Kevin Okyere, agora com 38 anos, transformou a sua empresa num gigante de energia com 1 bilião de dólares (receita anual, correspondendo a cerca de 857 milhões de euros). O Springfield Group está envolvido no comércio e transporte de hidrocarbonetos, armazenamento, postos de gasolina e, recentemente, passou a dedicar-se à exploração de petróleo. A empresa emprega centenas de pessoas no Gana, mas também na Nigéria.
Como tudo começou…
Kevin Okyere nasceu em 1980 numa família abastada na região de Ashanti, onde existe grande abundância de ouro no Gana. O seu pai tinha construído uma fortuna no setor da construção, produção de aço e cultivo de cacau em larga escala. Desde cedo, Okyere mostrou que tinha espírito empreendedor. Aos 11 anos começou a vender água gelada aos adeptos de futebol no estádio Kumasi Sports para ganhar dinheiro. Durante as viagens de férias de verão da sua família para Londres, trabalhava em empresas têxteis no Reino Unido.
Depois de concluir a sua formação no ensino secundário no Gana, foi para os Estados Unidos, onde estudou contabilidade na Universidade George Mason, na Virgínia. Enquanto estudava, Okyere cuidou de pacientes com problemas mentais nas suas casas e até trabalhou como segurança.
No final do seu curso de Contabilidade foi um dos primeiros funcionários da rádio XM Satellite (Sirius XM Holdings), onde trabalhou como programador. Também trabalhou na Sprint, concretamente no departamento de atendimento ao cliente. Quando completou o curso, conseguiu uma oferta de trabalho num dos principais bancos comerciais dos EUA que lhe pagaria 72 mil dólares (cerca de 62 mil euros) por ano. Por mais tentadora que a oferta fosse, Okyere decidiu voltar para casa, para o Gana.
“Ao contrário dos EUA, o Gana era um território virgem para muitas empresas. Havia muitas oportunidades para explorar e sabia que poderia ter mais sucesso em casa do que no exterior. Eu sabia que queria gerir o meu próprio negócio, mas não tinha certeza do que ia fazer. Os meus dois empregos anteriores nos EUA foram em telecomunicações, então estava mais inclinado para lançar um negócio no setor de telecomunicações”, revela.
Depois da experiência nos EUA, regressou a casa
Okyere mudou-se para o Gana em 2004 e juntou-se à irmã mais velha nos seus negócios para entender como o país funcionava. Um ano depois de trabalhar para a irmã, montou uma pequena equipa de investidores e estabeleceu a Westland Alliance Ltd, uma empresa de telecomunicações. A empresa foi extremamente bem-sucedida, mas não demorou muito para que se cansasse do negócio das telecomunicações e saísse.
Em 2006, enquanto ainda administrava a Westland Alliance, Okyere começou a trabalhar com um empreendedor conhecido que fornecia petróleo bruto e condensado para a refinaria Tema. Nesta altura, acabou por descobrir que havia um défice de instalações de armazenamento dos derivados de petróleo. Com o dinheiro que angariou com as suas aventuras nas telecomunicações, adquiriu terras e começou a construir uma quinta de tanques de armazenamento perto da refinaria. Quando convidou funcionários da Autoridade Nacional de Petróleo do Gana para inspecionar o seu projeto de construção, estes ficaram surpreendidos com o facto de alguém tão jovem – na altura tinha 26 anos – estar a investir num projeto como este e por estar a empregar dezenas de ganenses. Os funcionários ficaram tão impressionados com o que Okyere estava a construir, que pediram que solicitasse uma licença de importação de produtos de petróleo.
Springfield Energy: uma história de sucesso e de prémios
Desde 2008, a Springfield Energy importou para o Gana produtos refinados de petróleo, como gasolina, querosene, gasóleo, nafta e combustível de aviação. A empresa é agora o principal importador de produtos de combustível para o Gana, registando receitas de mais de 1 bilião de dólares (cerca de 857 milhões de euros). Naquela altura, só as empresas comerciais locais podiam importar produtos de combustível. Além disso, as companhias petrolíferas internacionais que procuravam fazer negócios no Gana tinham de fazer parceria com empresas de propriedade local. Quando a BP PLC chegou ao Gana em 2010 e procurava uma empresa comercial com a qual pudesse fazer parceria, a multinacional britânica escolheu a Springfield – uma ligação que ainda hoje perdura. O Springfield Group investiu os seus lucros na construção e aquisição de outros negócios e agora possui postos de gasolina, instalações de armazenamento, uma subsidiária de serviços de campo petrolífero e uma empresa de transporte, no Gana.
Em 2011, procurando expandir os seus negócios além-fronteiras, Okyere e a sua parceira, Geena Malkani, decidiram visitar a vizinha Nigéria para explorar novas oportunidades. Formaram uma nova empresa, a Springfield Ashburton, e candidataram-se à empresa estatal de petróleo, a Nigerian National Petroleum Corporation (NNPC), passando a figurar entre as empresas internacionais a serem premiadas com os lucrativos contratos de extração de petróleo bruto.
Em 2014 – três anos após a Springfield Ashburton ter sido registada na Nigéria – e depois de uma parceria com a BP PLC, foram recrutados para o Contrato de Prazo para Petróleo Bruto de 2014/2015. Foi a primeira vez que uma empresa ganense – uma empresa de comércio desconhecida nos círculos nigerianos -, foi premiada com um contrato de petróleo de longo prazo altamente cobiçado. Os meios de comunicação nigerianos chegaram a questionar a escolha de uma empresa do Gana para os contratos e insinuaram que Okyere era um associado do ex-ministro do Petróleo da Nigéria, Diezani Alison-Madueke. Mas Okyere rapidamente negou qualquer associação.
A Springfield Ashburton ainda tem negócios na Nigéria e em 2015 foi selecionada pelo NNPC para os Acordos de Processamento Offshore (OPA) – um contrato que permite aos comerciantes de petróleo ou empresas refinadoras levantarem petróleo bruto, refinarem no exterior e entregarem os produtos resultantes de volta ao NNPC. No entanto, o NNPC acabou por descontinuar todo o Contrato de Processamento Offshore que interrompeu o Acordo de Processamento Offshore, adotando o comércio direto do petróleo da Nigéria.
Em 2012, a Okyere solicitou um bloco de petróleo no Gana, voltando a atenção para a WCTP2, um bloco de petróleo com reservas comprovadas. A Kosmos Energy, uma companhia petrolífera de Dallas, nos Estados Unidos, e a Tullow Oil, que atualmente produzem petróleo do campo de Jubileu, tinham acabado de abandonar a WCTP2 que foi extraída do bloco de três pontos do Cabo Ocidental, seguindo o delineamento da área de utilização do Jubileu.
O governo do Gana preocupado que Okyere pudesse simplesmente virar o bloco para obter lucro, obrigou-o a montar uma unidade de E&P completa antes que pudessem conceder o bloco ao Springfield Group. O governo também exigiu que Okyere investisse pelo menos 100 milhões de dólares (86 milhões de euros) ao longo de um período de sete anos no seu desenvolvimento. Okyere montou a Springfield E&P em 2012, mas quatro anos depois o governo concedeu a Springfield o direito de explorar petróleo na WCTP2.
Okyere posteriormente contratou o veterano do petróleo Bernard Vigneaux, ex-executivo da Total e da Perenco, para liderar os esforços de exploração. O bloco WCTP2 está localizado numa posição invejável, com o prolífico campo Jubilee da Tullow Oil / Kosmos Energy imediatamente a oeste, o projeto Greater Pecan da Hess para o sul e o campo Sankofa-Gye Nyame da Eni para o leste. O operador anterior do bloco, Kosmos Energy, perfurou cinco poços de exploração na WCTP2, incluindo as descobertas de petróleo de Odum e Banda, que são substanciais.
A empresa está avaliada em cerca de 800 quilómetros quadrados de dados sísmicos de banda larga 3D que o navio Ramform Titan, da PGS, adquiriu no bloco de águas profundas no início deste ano. É um empreendimento caro e, até agora, o Okyere já injetou 70 milhões de dólares (60 milhões de euros) dos seus próprios fundos no projeto. O bloco está sobre 3,5 bilhões de barris de petróleo e 5 triliões de pés cúbicos de gás. A Springfield E & P prepara-se para perfurar um poço de estreia em janeiro de 2019.
“Para mim, a razão mais importante que procuramos provar é que os ganenses podem fazê-lo. Temos uma empresa de comércio que está a correr bem e eu poderia facilmente ir pelo caminho seguro para ganhar mais dinheiro, investindo em imóveis ou algo menos arriscado. Mas vemo-nos como os líderes indígenas nesta indústria. Se formos bem-sucedidos – e seremos -, novos atores locais surgirão, e isso é muito importante para o ecossistema”, diz.
Mas Okyere não pensa apenas nos negócios. Nos seus tempos livres, dedica o seu tempo à filantropia. A Fundação Kevin Okyere, em parceria com o Springfield Group, apoia programas de educação e saúde em todo o Gana. A fundação tem um acordo com o maior hospital estatal do país, financiando as contas hospitalares de pacientes mais desfavorecidos. A fundação paga também as taxas escolares de centenas de crianças da escola primária no Gana e envia alguns dos alunos mais brilhantes para universidades na América do Norte e Europa.
“Tenho tido sorte nos negócios e na vida, e retribuir é o mínimo que posso fazer. No final, não acho que quero ser lembrado como um dos ganenses mais ricos; gostaria de ser lembrado como um dos maiores doadores”, termina.