Opinião
Confina, desconfina e decide o teu futuro!

18 de março de 2020, Portugal decreta o primeiro confinamento. Para além de todos os sintomas associados ao medo, as escolas tentam-se organizar num esquema de aulas online, sendo que nesse ano letivo os alunos já não voltam à escola.
15 de Janeiro de 2021, Portugal decreta o segundo confinamento. Os alunos voltam à escola de forma gradual, com o ensino superior e o ensino secundário a regressarem no dia 19 de abril.
Imagine-se a frequentar o 5.º ano em 2019. Entra e sai do segundo ciclo, sem quase ter estado fisicamente na escola. Façamos o mesmo exercício para os alunos do 3.º ciclo. Começam o 7.º ano, vêm para casa e, quando as escolas parecem estar a regressar à normalidade, têm que pensar em tomar a decisão do curso/área que vão estudar no secundário.
E os alunos do secundário? Os que começaram o 10.º em 2019, passaram os dois anos do secundário entre confina-desconfina, e de volta à escola têm que decidir se vão para a universidade e para que curso.
Já para não falar dos que frequentavam o 11.º ou 12.º ano em 2019, que se candidataram à universidade com as regras sempre a mudar. Mas mais importante que isso, tiveram que tomar uma decisão de vida no meio do caos instalado, num momento em que a quantidade de incertezas era muito superior às certezas e em que era impossível prever como tudo iria acabar.
E os que entraram na universidade? Esses perderam a alegria da vida académica!
Confuso? Bastante! Agora imagine para eles.
Impacto nos jovens
Não é assim de estranhar que, segundo um estudo realizado à escala global pela Universidade de Calgary, se estime que um em cada quatro jovens (25,2%) tenha sintomas de depressão elevados e um em cada cinco (20,5%) apresente sintomas de ansiedade altos devido à pandemia da Covid-19. Este valor mais do que duplicou, quando comparado com o período pré-pandémico.
Estes números são em si só assustadores e deverão levar-nos a pensar em todas as consequências para os jovens e sociedade, quer no curto, quer no longo prazo.
Na realidade, embora pareça um cliché, sendo a adolescência uma fase de descoberta através das experiências, os jovens passaram a ver o mundo através de um ecrã. Ecrã esse que passa uma versão deturpada da realidade, em que cada um só publica o lado bom da vida, e que contribui para que um jovem depressivo se sinta ainda pior.
Agora imagine-se a ter que tomar uma decisão importante de vida, com uma auto-estima baixa, um fraco nível de autoconhecimento e com toda a pressão que lhe é colocada para não falhar?
Se no período pré-pandémico já 29% dos alunos desistia do curso universitário, como poderão vir a evoluir estes números no curto/médio prazo?
E há algo que possamos fazer?
Eu diria que como sociedade é importante começarmos a falar mais da falha, como parte integrante do processo de evolução e aprendizagem.
Ainda nos focamos muito em apresentar casos de sucesso, sendo que a falha continua a ser quase um tabu. Já para não dizer que, continuam a ser poucos os que falam abertamente do tema.
Tentem falar com adolescentes e perceber como é que eles encaram a falha. Sem se aperceberem, são os próprios que muitas vezes apontam os dedos aos seus colegas, que aparentemente têm menos sucesso.
Nós próprios, como pais, criamos estereótipos de sucesso que lhes incutimos, sem termos noção da enorme pressão que lhes estamos a colocar. A título de exemplo, não é displicente a quantidade de jovens, com pais bem-sucedidos, cuja autoestima é baixa. Jovens que, com medo de falhar, colocam sobre si um nível de exigência por vezes desproporcional, que lhes causa mais pressão e os faz entrar numa espiral depressiva.
Como pais temos que estar muito atentos a este fenómeno, reforçando junto dos nossos filhos que o que é importante é que sejam a melhor versão deles próprios. E que a comparação com pais, amigos ou irmãos é desnecessária.
Desenvolver o autoconhecimento e o conhecimento do mundo
Finalmente é fundamental que estimulemos os jovens a conhecerem-se. É muito importante que falemos com eles sobre as suas paixões, os seus talentos, o ambiente que os estimula a dar o seu melhor, os seus sonhos e como gostariam que fosse a sua vida.
Devemos também incentivá-los a conhecerem os problemas com o que o mundo se debate. Falar com eles sobre Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, e desafiá-los a pensar quais são as duas ou três causas para as quais gostariam de contribuir.
É ainda fundamental falar daquilo que se antecipa que seja o futuro do trabalho, e convidá-los a projetarem-se nessa realidade. Entre o engenheiro que muda o mundo com uma invenção, ao professor que estimula as mentes para o fazer, o importante é passar-lhes a mensagem de que todas as opções são possíveis. E que no seu processo de escolha só há uma pessoa a quem têm que ser fiéis: a eles próprios!