Entrevista/ “Tenho medo de seres humanos sem ética a construir robots”

Laila Pawlak, fundadora e CEO da SingularityU Nordics

Laila Pawlak, co-fundadora e CEO da SingularityU Nordic, que integra  a Singularity University, foi uma das oradoras da conferência anual do BCSD Portugal que se realizou ontem, em Lisboa. Esta especialista em inovação falou ao Link To Leaders a importância dos humanos fazerem uma utilização ética da tecnologia.

A  conferência anual do BCSD  (Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável) reuniu em Lisboa, concretamente no auditório da EDP, um conjunto de personalidades nacionais e internacionais para debater o tema da “Sociedade 5.0”, o papel da tecnologia no desenvolvimento sustentável e as oportunidades que se colocam às empresas nestes domínios.

Laila Pawlak foi uma das convidadas presentes, no caso, para abordar o tema «Designing for massive impact in an exponential world». Enquanto CEO da SingularityU Nordic, Laila lidera um campus de inovação, sedeado na capital dinamarquesa, que oferece uma variedade de programas de educação, aceleradores, um makerspace, um laboratório de tecnologia, bem como um espaço de trabalho para start-ups e empresas que pretendem desenvolver tecnologias com um impacto positivo.

Apaixonada pela inovação centrada no homem, Laila é também a fundadora da Thinkubator, um programa de aceleração que apoia as empresas no trabalho com empreendedores, criando as suas próprias incubadoras de inovação.

Foi também uma das cofundadoras do premiado hub de inovação DARE2mansion, um projeto instalado em Copenhaga que serve como incubadora, coworking e espaço para evento, e onde empreendedores e empresas  podem juntar-se para criar negócios disruptivos e de impacto positivo à escala mundial.

Laila Pawlak foi também reconhecida como uma das Top 100 executivas mais talentosas da Dinamarca e é ainda uma business angel muito ativa. Aproveitamos a sua passagem por Lisboa  para conhecer um pouco mais os projetos em que está envolvida.

Qual é o verdadeiro propósito da Singularity University?
Na SU, inspiramos, educamos e capacitamos os líderes a usar tecnologias exponenciais para fazerem parte da solução, em vez de parte do problema. Acreditamos que as empresas e os indivíduos têm a oportunidade – quando adquirem uma compreensão mais profunda da tecnologia – de usar isso para impactar positivamente o nosso mundo e fazer parte da solução dos grandes desafios globais.

“Silicon Valley tem uma história de criar inovações e construir negócios sobre essas inovações e os nórdicos estão a liderar, por exemplo, a sustentabilidade e a diversidade”.

Diga-nos qual foi sua visão de levar a SU aos nórdicos?
Foi realmente para unir o melhor de Silicon Valley com o melhor dos nórdicos. Silicon Valley tem uma história de criar inovações e construir negócios sobre essas inovações e os nórdicos estão a liderar, por exemplo, a sustentabilidade e a diversidade. Todos têm acesso gratuito à saúde e à educação que são pagas por impostos. Assim, em muitas áreas as pessoas estão a olhar para os nórdicos e para as suas soluções sociais e ambientais. Se os nórdicos têm uma vantagem sobre a alavancagem da tecnologia com uma abordagem centrada no homem, acho que podem ter um “papel modelo” para o mundo ao alavancarem a tecnologia de uma forma ética e sustentável. Isso é algo com que estou entusiasmada por fazer parte.

Quais são alguns dos resultados de estabelecer SU na Dinamarca?
Já tivemos milhares de pessoas a passar pelos nossos programas nos países nórdicos desde que abrimos há dois anos e cada vez mais se estão a juntar ao programa. Estou confiante de que um grande parte dessas pessoas – com base em alguns dos insights e network que ganharam na SU Nordic – serão elementos de mudança nas suas organizações para construir novas e melhores soluções, mas também para estarem na liderança ética dos movimentos tecnológicos.
Além disso, a SU Nordic tem um campus de inovação de 7000m2, em Copenhaga, que está cheio de start-ups alavancando a tecnologia para resolver problemas difíceis e impactar positivamente o mundo. A minha esperança é que eles tenham sucesso para benefício de todos nós.

Quais foram as suas melhores experiências na SU?
Descobrir o poder da biologia digital. É um setor sobre o qual não sabia muito, mas tenho onde grandes esperanças para o futuro.

A Singularity aponta para que numa data altura os robots ultrapassem a inteligência humana. Qual é a sua opinião pessoal? Tem medo de robots?
Não tenho medo de robots. Se há coisa de que tenho medo é de seres humanos sem um forte foco na ética a construirem robots. Temos de nos lembrar que as tecnologias, na realidade, não são muito sem os humanos alavancando-as. É por isso que a educação é tão importante.

“(…) penso que o ecossistema português de start-ups está realmente a descolar”.

Os jovens empreendedores que se querem preparar para o futuro podem encontrar algo interessante na SU Nordic?
Definitivamente. Somos um programa global de start-ups e temos imensas start-ups no nosso campus. No entanto, também penso que o ecossistema português de start-ups está realmente a descolar. E a SU Portugal também foi criada recentemente, pelo que gostaria de incentivar as start-ups a aderir a algumas das atividades locais.

Da sua experiência, qual a sua visão sobre o ambiente de start-ups e o ecossistema em Copenhaga?
Realmente descolou nos últimos cinco anos. Há muita coisa a acontecer e o financiamento começa a estar cada vez mais disponível. Assim como os fundos globais também estão a descobrir os Nórdicos. Acho que temos um forte foco na construção de soluções que realmente beneficiam as pessoas e o planeta e penso que isso é o futuro. Por isso, estou muito otimista em nome do ecossistema de start-ups nórdicos.

“(…) se investirmos tempo e recursos não apenas na atualização da tecnologia, mas também em nós mesmos, seremos capazes de viver com a tecnologia e usá-la em benefício da humanidade”.

“Sociedade 5.0”: o que significa na sua opinião? A Sociedade deve 5.0 lutar ou abraçar a indústria 4.0?
A tecnologia está a desenvolver-se a um ritmo acelerado e as nossas sociedades estão a tentar acompanhar esse ritmo. Tenha em mente que muitas das estruturas e sistemas em vigor nas nossas sociedades estão aí há centenas de anos e, portanto, estão muito enraizadas nas nossas sociedades são difíceis de mudar.

Isso irá inevitavelmente criar atrito, não importa o que lhe chamarmos. No entanto, acredito que se investirmos tempo e recursos não apenas na atualização da tecnologia, mas também em nós mesmos, seremos capazes de viver com a tecnologia e usá-la em benefício da humanidade. Isso exige que continuemos sempre a educar-nos e a fazer perguntas importantes sobre a forma como usamos a tecnologia.

(…) devemos alavancar a tecnologia – de uma forma ética – para construir soluções (…)

Na conferência da BCSD falou sobre ” Designing for massive impact in an exponential world”. Quais as principais mensagens que partilhou?
Que todos nós temos a oportunidade – e talvez também a responsabilidade – de fazer parte da solução em vez do problema. Que devemos alavancar a tecnologia – de uma forma ética – para construir soluções, para grandes problemas, centradas no homem. E ter consciência de que gastamos o nosso tempo com coisas que importam. Isso é o que nos faz felizes e vai causar impacto. Também referi a minha estrutura “4S Fundamental” que qualquer um pode descarregar gratuitamente.

Comentários

Artigos Relacionados