Entrevista/ “Ainda há um grande caminho a percorrer na digitalização do setor agrícola em Portugal”

Rui Pedro Ribeiro, CEO da Elio Tecnologia

A Elio Tecnologia instalou-se em Évora e prepara-se para “revolucionar” o setor agrícola e florestal nacional com as suas soluções de robótica. O projeto, que resulta de uma joint-venture com o CEiiA, é estratégico para a Elio quer pelo mercado português, quer como porta de entrada para o mercado europeu, como explicou ao Link To Leaders, Rui Pedro Ribeiro, CEO da empresa.

Com centros operacionais no Brasil (São Paulo e Boa Esperança), EUA (Bartow, Flórida), México (CDMX), a Elio Tecnologia oficializou a entrada em Portugal, concretamente em Évora, no início de outubro. Especializada na recolha e tratamento de imagens geo-referenciadas, a empresa brasileira tem sido premiada com o seu projeto de serviços agrícolas baseados em tecnologia aeronáutica proprietária. As suas soluções para a agricultura e pecuária e floresta, baseiam-se em tecnologia aeroespacial, aeronáutica, robótica e inteligência artificial.

Colocar conhecimento, tecnologia e inovação ao serviço da agricultura, tornando-o mais competitiva e sustentável, é o objetivo da empresa, que no próximo ano “quer fazer a transferência de experiência acumulada ao longo destes mais de cinco anos quer com o desenvolvimento de projetos pilotos com clientes de referência em Portugal, quer com a integração das equipas portuguesas nos projetos internacionais, principalmente no Brasil e México”, afirmou Rui Pedro Ribeiro, CEO da Elio Tecnologia, ao  Link To Leaders.

O que é que as vossas soluções de tecnologia aeroespacial, aeronáutica, robótica e inteligência artificial podem fazer pela agricultura, pecuária e florestas portuguesas?
Pela primeira vez uma empresa que integra toda a tecnologia, ponta a ponta, totalmente focada na produção de inteligência efetivamente útil para a otimização da produção, que nasceu no setor agrícola pecuário e florestal e operou por mais de cinco anos nos maiores centros de produção mundiais de alimentos e produtos florestais vai operar em Portugal.

A integração da experiência de mais de cinco anos nestes setores consubstanciada nos prémios ganhos e nas muitas referências internacionais, bem como no reconhecimento dos clientes, permite-nos acreditar que é possível revolucionar a forma como estes setores, em Portugal, vão usufruir de tecnologias de inteligência visual efetivamente úteis para a sua tomada de decisão e otimização de processos produtivos.

Esta otimização dos processos produtivos terá efetivamente um efeito ambiental e de diminuição de emissões de carbono, significativo, principalmente no contexto da integração da aplicação inteligente de agroquímicos, fitofarmacêuticos e fertilizantes com o Airship.

“A Elio transfere também para a joint-venture todo o desenvolvimento de uma aeronave disruptiva, patenteada, aplicação inteligente de agroquímicos e a logística autónoma”.

Como surgiu esta parceria com o CEiiA- Centro de Engenharia e Desenvolvimento de Produto?
A parceria entre a Elio e CEiiA foi estruturada a partir da integração da área de aeronáutica autónoma das duas empresas, integrando veículos autónomos desenvolvidos e patenteados por ambas as empresas, com a integração em serviços especializados de inteligência visual da Elio, principalmente para a área agroflorestal, onde a Elio tem know-how e experiência.

A integração desta área irá permitir à nova empresa, uma joint-venture entre CEiiA e a Elio, utilizar toda a capacidade de engenharia e desenvolvimento de produto do CEiiA associado ao know-how da Elio para a área agroflorestal, permitindo assim uma forte agregação de valor aos negócios dos clientes. A Elio transfere também para a joint-venture todo o desenvolvimento de uma aeronave disruptiva, patenteada, que irá revolucionar a aplicação inteligente de agroquímicos e a logística autónoma.

Qual o investimento realizado em Évora? O que vai acontecer exatamente neste centro operacional?
Évora é o nosso centro de desenvolvimento em Portugal e estará especialmente focado na área de inteligência visual e apoio técnico agro-florestal necessário para a produção de inteligência a transferir para os clientes da Elio. Évora será também um dos nossos principais centros operacionais em Portugal pela proximidade que tem com as grandes áreas de produção agro-florestal do centro e sul do país.

“(…) mais importante que ver drones e dirigíveis a monitorar os campos agrícolas será transformar os dados que eles recolhem em inteligência útil para a tomada de decisão de otimização de produção pelos nossos clientes”.

Ver drones e dirigíveis a monitorizar os campos agrícolas vai ser uma realidade ainda este ano?
Sem dúvida, mas mais importante que ver drones e dirigíveis a monitorar os campos agrícolas será transformar os dados que eles recolhem em inteligência útil para a tomada de decisão de otimização de produção pelos nossos clientes. Apesar de termos as plataformas mais evoluídas do mercado, que nos têm reconhecido como referência nesta área, estamos totalmente focados nas soluções adaptadas às necessidades dos nossos clientes e à integração das condições únicas de produção que cada um tem nos resultados de inteligência visual que fornecemos para apoio a tomada de decisão de produção.

“Durante o ano de 2020 fizemos toda a transferência tecnológica para Portugal, mesmo durante esta fase de pandemia”.

O desenvolvimento e produção da tecnologia vai ser efetuada em Portugal?
Durante o ano de 2020 fizemos toda a transferência tecnológica para Portugal, mesmo durante esta fase de pandemia. Em 2021 vamos fazer a transferência de experiência acumulada ao longo destes mais de cinco anos quer com o desenvolvimento de projetos pilotos com clientes de referência em Portugal, quer com a integração das equipas portuguesas nos projetos internacionais, principalmente no Brasil e México.

“Temos coberto uma vasta área de tipos de clientes nos setores agrícola, pecuário e florestal, sendo por isso, este o nosso foco de mercado em Portugal”.

Quem são os vossos clientes no mercado nacional?
Temos trabalhado ao longo destes anos com mais de 20 tipos de culturas diferentes e clientes grandes e pequenos, cooperativas e empresários agrícolas, em processos de auditoria, processos de monitorização, processos de otimização de produção, deteção de pragas e doenças e previsão de colheita.

Temos coberto uma vasta área de tipos de clientes nos setores agrícola, pecuário e florestal, sendo por isso, este o nosso foco de mercado em Portugal. Pelas plataformas autónomas que possuímos e pela otimização dos nossos custos sempre preferiremos trabalhar em grandes áreas integrando diversos produtores. Assim tornaremos mais acessível a transferência de toda a tecnologia que possuímos garantindo a sua implementação até ao pequeno proprietário.

“Portugal é estratégico para a Elio (…) especialmente como porta de entrada para o mercado europeu”.

A Elio é reconhecida como uma das 20 principais empresas do mundo nesta área… O nosso país é uma aposta estratégia para a empresa? É a vossa porta de entrada para outros mercados europeus?
Sim, Portugal é estratégico para a Elio quer pelo mercado português, quer especialmente como porta de entrada para o mercado europeu.

A empresa tem centros operacionais em diferentes países (EUA, México, Brasil) o que os afasta /aproxima em termos de abordagem estratégia?
Estamos numa área cujas necessidades são gerais, mas cujas especificidades são bem locais. Cada país tem características próprias de organização produtiva agrícola e isso nos leva a ajustamentos necessários das estratégias de operação nos diferentes países, mas no essencial a nossa forma de trabalhar mantém-se focada na transferência de inteligência de produção para os clientes.

De que forma é que a inovação tecnológica pode tornar o setor agrícola mais competitivo e, ao mesmo tempo, mais sustentável?
A sustentabilidade e competitividade do setor agrícola, numa altura onde se discute tanto desmatamento para abertura de novas áreas de produção, mitigação emissões de carbono, gestão do uso da água, etc. só será conseguida com uso de inovação tecnológica, principalmente a decorrente do uso de tecnologias autónomas aéreas que possam vir a ser usadas para aumentar a produtividade, focando as áreas de baixa produtividade e atuas com precisão sobre elas em vez de ter uma atuação genérica sobre a cultura. Por isso focamos neste setor visto que é um setor muito conservador em relação às formas de produção.

Numa época em que a escassez alimentar aumenta, a Agrotech é alternativa possível para ultrapassar esta realidade?
Sim, a inovação das tecnologias de inteligência agrícola é que vai permitir o aumento de produtividade por hectare, usando menos água, com menos emissão de carbono e com isso garantir a segurança alimentar que uma população crescente vai demandar. Hoje as redes de comunicação e tecnologia de processamento permitem essa evolução ao nível de sensores, big data, iot, e uso de algoritmos de inteligência artificial que há 5 anos atrás não eram possíveis. O uso dessas tecnologias de forma ajustada às necessidades de produção agro-florestal e de cada um dos clientes é que vai fazer a revolução neste setor. A tecnologia por si não vai resolver.

“(…) há ainda um grande caminho a percorrer na digitalização do setor agrícola em Portugal.”

Como avalia a digitalização do setor agrícola em Portugal? Numa fase de inclusão ou ainda aquém do que seria expetável no século XXI?
Parece-me que apesar do que já se evoluiu nos últimos anos, ainda há um grande caminho a percorrer na digitalização do setor agrícola em Portugal. Tenho de lembrar aqui que a capacidade tecnológica para cobertura de grandes áreas de produção é recente e que mesmo existente tem de chegar aos pequenos produtores para que seja integrada na sua decisão. Há muito a fazer e a Elio vai contribuir para que isso aconteça, quer com a sua tecnologia de inteligência visual, onde é líder, quer com parcerias com outros projetos de tecnologia e inovação que estão a surgir no nosso país.

Respostas rápidas:
O maior risco: Focar na tecnologia ao invés de focar na aplicação da mesma às necessidades dos clientes.
O maior erro: Tempo perdido com parceiros pouco focados no cliente.
A maior lição:  Ouvir as necessidades dos clientes e ajustar tecnologia e processos para efetivamente lhes agregar valor.
A maior conquista: Contrato de agricultura preditiva na área da produção de café (primeira modelo de inteligência artificial para previsão de colheita de café), com uma cooperativa que é responsável por quase 10% da produção mundial de café arábica em mais de 8 mil pequenos produtores, no Sul de Minas Gerais, Brasil.

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