A regulação dos gigantes tecnológicos não vai ajudar as start-ups europeias

A opinião de um investidor e fundador de start-ups europeias com mais de 20 anos de experiência na área tecnológica sobre regulação.

A Comissão Europeia tem discutido várias formas de limitar o poder dos gigantes tecnológicos. Por trás desta iniciativa estará a intenção de tornar o mercado mais competitivo. Incumbentes como a Google, a Amazon e o Facebook têm limitado o poder de promissoras start-ups nos últimos anos – seja por via de aquisições ou pela inviabilização das hipóteses de se estabelecerem ao lançar um serviço/produto idêntico.

É por este motivo que a Comissão Europeia está a discutir a introdução de novas medidas através da regulação. Parte das sugestões passam pela possibilidade de decidir se uma fusão ou aquisição deve ser bloqueada – idêntico ao bloqueio da venda da Qualcomm à Broadcom por parte da presidência dos Estados Unidos.

Contudo, há quem acredite que a regulação não é a melhor forma de ajudar a start-ups europeias. Uma dessas pessoas é Kjartan Rist, um colaborador da Forbes que tem mais de 20 anos de experiência no ecossistema empreendedor europeu enquanto fundador, advisor e investidor. O também partner fundador da Concentric – uma firma de capital de risco – escreveu um artigo onde detalha os motivos pelos quais acredita que este tipo de medidas não apoia o desenvolvimento das start-ups.

A regulação é um “pau de dois bicos”

Tal como refere, a regulação é um “pau de dois bicos”. Se por um lado não queremos que as grandes tecnológicas monopolizem o mercado, por outro, não podemos travar o seu desenvolvimento. É natural que uma grande empresa queira expandir as suas operações, aumentar o seu público e recursos humanos e conquistar mais espaço no mercado – o que em última instância pode ser positivo para os negócios europeus emergentes, devido à existência de plataformas onde os empreendedores podem dar a conhecer a sua marca mais facilmente e a canais de vendas e distribuição mais desenvolvidos.

Kjartan Rist argumenta também que, no cenário europeu atual, são as empresas norte-americanas que dão aos empreendedores e investidores do Velho Continente as melhores hipóteses de exits, assim como também trazem dinheiro para o ecossistema através de fundos, smart money e conhecimento.

A regulação não ataca a raiz do problema

Kjartan argumenta também que a regulação não vai resolver um dos problemas do ecossistema: a criação de start-ups europeias que consigam competir a um nível global. Para isto acontecer, como explica o investidor, é necessário disponibilizar mais capital e mercados públicos funcionais para fomentar o desenvolvimento de projetos ambiciosos.

Identifica que existem dois principais problemas a resolver:

A imaturidade dos fundos de capital de risco: enquanto nos Estados Unidos os fundos de capital de risco são financiados via fundos de pensão e dotações há décadas, o mesmo não acontece na Europa, onde a fatia do mercado que opera com estas ferramentas é mínima.

A Europa não tem um mercado de IPOs: 2019 vai ser um grande ano para os IPOs (ofertas públicas iniciais) de muitas start-ups. Neste campo, os mercados bolsistas dos Estados Unidos têm décadas de experiência em atrair projetos promissores em grande crescimento. Em oposição, a Europa nunca conseguiu criar um competidor que fizesse o mesmo – no Velho Continente, os mercados focam-se em indústrias já estabelecidas e em empresas maduras.

Contudo, a Europa tem potencial

Cinco das dez melhores universidades de ciência da computação, mais empresas tecnológicas do que os Estados Unidos e maior produção de developers. Este é o cenário atual da Europa. No entanto, Kjartan Rist adianta que é preciso criar ou atrair grandes instituições para o universo das start-ups, de forma a aumentar o tamanho dos fundos disponibilizados e dar visibilidade a projetos do continente.

A par disto, acredita que também está nas mãos dos fundadores fazer a diferença. Estes precisam de se expandir mais rapidamente e de ser globais desde o primeiro dia para que conseguir igualar os competidores norte-americanos no levantamento de capital e consequente sucesso.

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