Opinião
A importância da mentoria na liderança

Às vezes damo-nos conta demasiado tarde o quão é importante saber “dar e receber”. Foi o meu caso. Mas aprendi também, que não existe “demasiado tarde”.
Por isso, e para evitar que outras pessoas cometam o mesmo erro que eu, gostaria deixar algumas das aprendizagens sobre isto do que é a mentoria.
- Mentoria como estilo de vida
Sou mentora numa ONG de Apoio Social, em que sou tutora e explicadora de físico-química, numa base semanal. Sou mentora na Universidade onde estudei, sou mentora “informal” de sobrinhos e afilhados. O acompanhamento que faço a estes jovens (alguns não tão jovens) são mais do que explicar o que é uma reação ácido-base. É poder participar na vida deles, de uma forma diferente, muito para além do universo familiar ou académico, é poder criar uma relação de confiança, de exemplo. Ajudar a orientá-los para objetivos mais alargados – sejam pessoais ou profissionais. Para mim, poder ver um bocadinho de mim neles é o que me serve de inspiração.
Poder encorajar (ou ver o copo meio cheio) quando é preciso; ajudar a descobrir os vários caminhos possíveis. E são tantas as opções que aparecem à nossa frente, seja para decidir a carreira profissional, seja ponderar propostas para novos desafios profissionais, seja para começar uma nova vida. Para mim, poder falar em voz alta com alguém em quem confio, com quem partilho sem “filtros” as minhas motivações, objetivos, os prós e os contras, é fundamental.
Tenho de confessar que, como mentora, nem sempre me foi fácil ouvir. Fosse agora, talvez tivesse tomado decisões diferentes das que tomei. A minha arrogância intelectual e a impaciência da juventude foram cruéis em momentos decisivos da minha vida. O facto de querer provar aos outros, mas sobretudo a mim, que conseguia ser bem sucedida profissionalmente levou a melhor de mim, durante muito tempo.
Hoje olho para o passado de uma forma racional, sem arrependimentos. E claro, depois de 25 anos de prática, sei que aprendi a ouvir mais e melhor. Mas sei que posso fazer melhor, sempre melhor. Mas com capacidade de nos aceitarmos, com os nossos defeitos. Estamos numa competição se quisermos pensar assim, mas nunca com os outros. Somos nós, e só nós, na nossa corrida. E essa vontade de nos superarmos todos os dias, é o que vale a pena.
- Estar recetivo ao desconhecido. Querer ouvir
Na cultura japonesa há uma tradição milenar de respeitar os mais velhos, pela sua vasta experiência. Infelizmente, a cultura ocidental tem ido na direção contrária, talvez movida pela capacidade digital (ou falta dela) nas gerações mais velhas. Leio isto como uma desvantagem competitiva.
Ninguém tem a mesma experiência de vida. Por isso, quando temos diferentes formas de ver as situações, sobretudo quando temos alguém que está longe e consegue abstrair-se da nossa situação, ajuda-nos a ver a “floresta”, para além da “árvore”. É mais, quanto mais rápido eu tentar, errar e corrigir, com base nas aprendizagens de pessoas com mais experiência (de vida, mas não só), mais depressa faço o ciclo de aprendizagem. Mas para isso tenho de querer aprender com as experiências dos outros e querer ouvir.
- Querer saber mais com as pessoas que escolhemos!
Mentoria pode fazer parte de um processo de relações “oficiais “de mentoria, como é o caso em muitas universidades, em multinacionais, em start-ups, em instituições de todo o género…
Mas não tem de ser assim. Pode partir de nós próprios. Identificar mentorados ou mentores. Podemos nem lhes chamar por esse nome; pode ser algo bastante informal; com um acompanhamento periódico, semanal ou mensal; pode durar 6 meses, 10 anos.., mas quando acreditamos que alguém, às vezes até bem perto de nós, pode ser o mentor que precisamos, podemos sempre pedir-lhe. O pior que pode acontecer é ouvir Não.
Esta “coisa” da mentoria só funciona se quisermos, se nos deixarmos ver por dentro, se tivermos coragem de ser vulneráveis e de nos aceitarmos. Imperfeitos como todos os humanos. Mas com vontade de querer melhorar, evitando comparar-nos com outros. É um caminho nosso, em relação a nós próprios, e nunca em relação aos outros. Se em 2013 não tivesse aceite ir para Shanghai, na China, disponível para trabalhar numa cultura completamente diferente da nossa, com humildade para aprender, disponível para errar, corrigir e seguir em frente, não teria tido a experiência que acabou por ser a maior aprendizagem da minha vida.
Resumindo e concretizando, querer estar sempre a aprender; saber que existem outros e valiosos pontos de vista; ter com quem partilhar; ouvir de quem queremos escutar. É o que nos faz ser melhores.
Como disse Robert G. Ingersoll, “We raise by lifting others”.