Entrevista/ “A divisão digital é um travão que impede a verdadeira igualdade de oportunidades”

Com uma estratégia ambiciosa para o mercado português, a espanhola Eurona quer democratizar o acesso à internet através de tecnologia de satélite e levá-la às regiões mais interiores do país. Acabar com a clivagem digital que afeta uma boa parte da população é o objetivo, explicou ao Link To Leaders Fernando Ojeda, CEO da empresa.
Integrada no Global Satellite Technologies Group, a Eurona é especializada em soluções e serviços de conectividade e tem uma rede de clientes que divide pela Europa, África e América Latina. Chegou agora a Portugal com a proposta de levar internet às áreas mais remotas do território nacional, e onde cerca de 20% dos portugueses, quase dois milhões de pessoas, ainda não têm acesso a internet de qualidade. “Um volume significativo de potenciais clientes que fazem de Portugal um mercado interessante para a Eurona”, explicou Fernando Ojeda, CEO da empresa.
O que os levou a entrar no mercado português, considerando que é substancialmente menor do que o mercado espanhol?
A mesma razão que nos levou a iniciar o nosso negócio há mais de 20 anos em Espanha, para acabar com a clivagem digital que afeta uma boa parte da população, especialmente as pessoas que vivem nas zonas rurais, democratizando o acesso à Internet através de tecnologia de satélite, ligando a 100% da população e do território.
Em Portugal, como em muitos outros países, incluindo Espanha, ainda há um grande número de pessoas que não têm acesso a internet de qualidade. Cerca de 20% dos portugueses, quase dois milhões de pessoas, um volume significativo de potenciais clientes que fazem de Portugal um mercado interessante para a Eurona.
“(…) o satélite (…) é a única tecnologia capaz de oferecer ligação de alta velocidade a 100% da população (…)”.
Qual é a diferença da vossa oferta?
Somos líderes na internet rural há mais de 15 anos em Espanha e agora a nossa missão é replicar esta estratégia no nosso país vizinho, Portugal. Está no nosso ADN garantir a igualdade de oportunidades para as pessoas, onde quer que vivam, através da conectividade universal. Por isso, transformámos o satélite no nosso core business uma vez que é a única tecnologia capaz de oferecer ligação de alta velocidade a 100% da população, mesmo para as pessoas que vivem em áreas rurais, remotas ou difíceis de orografia, onde outras tecnologias como a fibra não chegam.
Quem serão os seus principais concorrentes em Portugal?
O que nos move, independentemente do que a nossa concorrência possa fazer, é o constante desafio de melhorar sempre o serviço e oferecer aos clientes a melhor experiência, num processo que não termina com a venda e que coloca a pessoa no centro da nossa estratégia de negócio.
Os operadores de telecomunicações nas regiões geograficamente mais remotas são o seu espaço de crescimento?
Os clientes em Portugal estão localizados em zonas rurais ou de difícil acesso sem uma ligação à internet de qualidade. São aquelas pessoas que para desenvolver as suas atividades comerciais requerem esta ligação. Estamos a falar de empresários que querem iniciar um comércio eletrónico ou um negócio de turismo rural, agricultores ou fazendeiros que queiram melhorar o rendimento e a gestão das suas explorações. E também as pessoas que querem viver nestes locais e fazer teletrabalho a partir daí, ou aqueles que já o fazem e precisam de acesso à Internet de qualidade para fazer chamadas de vídeo, assistir a uma série ou ter acesso à telemedicina.
“(…) quem vive num ambiente rural já pode ter a mesma velocidade de ligação que os ambientes urbanos (…)”.
Com que argumentos espera conquistar o mercado?
Com um muito poderoso. A partir de hoje, com a Eurona Satellite Internet, quem vive num ambiente rural já pode ter a mesma velocidade de ligação que os ambientes urbanos, com todas as oportunidades que isso implica, a possibilidade de teletrabalho, educação em linha, telemedicina, gestão telemática de procedimentos burocráticos, etc.
Revelou o seu compromisso com o desenvolvimento residencial e o facto de pretender levar a Internet via satélite para locais offline. Como pretende implementar este objetivo?
Através da conectividade de internet via satélite de 100 megabytes. Garantimos além disso fazê-lo de uma forma imediata e sem necessidade de grandes implantações de cablagem ou de infraestruturas.
Que peso espera que o mercado de negócios tenha no seu negócio?
Os nossos objetivos em percentagem nos diferentes mercados fazem parte da estratégia da Eurona que não podemos revelar.
A sua estratégia para Portugal envolveu a aquisição da base de clientes da Eutelsat na Península Ibérica. A partir daqui, quais são os seus objetivos para atrair novos clientes?
A experiência positiva que estes clientes da Eutelsat têm dos serviços oferecidos pela Eurona são o melhor trampolim para construir o nosso crescimento. A isto temos de acrescentar a estratégia que já implementámos para atrair novos clientes, especialmente nas zonas rurais sem acesso à internet de qualidade.
A sua proposta baseia-se na oferta de 100 Mbps de Internet via satélite. A inovação tecnológica está no seu horizonte?
Movemo-nos num setor onde é essencial conhecer e, acima de tudo, incorporar as mais recentes inovações tecnológicas. Assim, em 2021 tornámo-nos o primeiro operador em Espanha a oferecer internet via satélite de 100 megabytes. Também o fizemos com as nossas soluções de conectividade transversais em tecnologias como WiFi, 4G, fibra e FW, e continuaremos a fazê-lo dependendo dos avanços que aconteçam, para aumentar a qualidade dos mesmos.
“A divisão digital é um travão que impede a verdadeira igualdade de oportunidades entre as pessoas que vivem em zonas rurais (…)”.
Qual o impacto que, na sua opinião, a clivagem digital entre as regiões do litoral e do interior ainda tem no desenvolvimento económico e social do país?
A divisão digital é um travão que impede a verdadeira igualdade de oportunidades entre as pessoas que vivem em zonas rurais, interiores versus pessoas que vivem em ambientes urbanos. É por isso que é tão importante que a ligação ultrarrápida via satélite da Eurona chegue a estes lugares. A sua implementação tem um efeito impulsionador na atividade económica do ambiente rural, colaborando assim no desenvolvimento económico e social do país.
Portugal e Espanha, qual dos dois está mais avançado no processo de transição digital?
Portugal é um dos países com melhores frequências na faixa de velocidade com mais de 100 Mbps, semelhantes aos de Espanha. Ambos os países assumiram um compromisso firme com a transição digital com planos e investimentos importantes para promover uma mudança necessária que não admita mais atrasos.
Neste contexto, o Governo português vai atribuir um total de 2.460 milhões de euros à transição digital, 15% dos fundos do Plano Nacional de Recuperação e Resiliência, um montante não desprezível.