Entrevista/ “A cultura empresarial tem que ser mais tolerante ao risco e incentivadora da inovação”

“É necessário maior desenvolvimento das infraestruturas digitais, mas também mais apoio a start-ups e maior fomento à inovação”, afirma Miguel Mascarenhas, empreendedor que já que transformou várias ideias em negócios, através uso da tecnologia. Em entrevista ao Link to Leaders analisa o mercado e partilha experiências.
Fundou e lidera projetos tão distintos como uma plataforma imobiliária, outra de serviços e ainda uma outra no setor da intermediação de crédito, todas elas áreas de trabalho muito desafiantes, assegura Miguel Mascarenhas, cofundador da Fixando, da Imovendo, e CEO da Flipai. Aos 42 anos, e com um percurso profissional em que não faltam projetos digitais, em áreas consideradas tradicionais, Miguel Mascarenhas mantém a sua abordagem empreendedora na estratégia que aplica nas empresas em que está envolvido, com especial enfoque na tecnologia e no que esta pode aportar para melhorar a experiência do clientes. Acredita nas potencialidades da IA para uma personalização mais eficaz dos serviços, para a automação de processos, e na redução de custos operacionais, assim como no potencial desta para ajudar a prever tendências e comportamento dos utilizadores.
Cofundou e lidera três projetos de áreas diferentes. Qual o segredo para esta dinâmica empreendedora?
Na verdade, não existe segredo. Apenas me centro em seguir uma metodologia simples: identifico lacunas de mercado (principalmente nacional) e oportunidades de inovação; aplico foco nas necessidades dos utilizadores para otimizar soluções; adapto rapidamente os modelos de negócio às mudanças do mercado. Tudo isto mantendo sempre uma gestão eficiente dos recursos e das equipas. Acredito que a minha experiência em diferentes setores, principalmente vindo da área de classificados, facilita muito o processo de transitar entre áreas.
Fixando, Imovendo ou Flipai. Qual destas plataformas está melhor posicionada para se destacar no seu setor de atividade?
Cada uma delas vai assumindo a sua preponderância. Claro está que, as mais recentes, estando numa fase de maturação, estarão com menos destaque, mas nem por isso com menos potencial de crescimento. No caso da Imovendo destaca-se no mercado imobiliário digital com um modelo disruptivo, porque oferece um modelo inovador que elimina os intermediários tradicionais. Já a Fixando tem um crescimento acelerado e é líder em Portugal, especialmente no mercado de serviços locais. A Flipai é a mais recente plataforma e está a emergir no setor de crédito, com grande potencial de crescimento.
De alguma forma são projetos complementares, com eventuais sinergias, ou vivem por si só, isoladamente?
Cada um destes projetos operam de forma independente e em mercados distintos, mas de certa forma pode dizer-se que são complementares em termos de tecnologia e metodologia. Partilham entre si uma filosofia comum de eficiência e otimização digital, o que promove a existência de sinergias, especialmente no campo da inovação tecnológica.
“(…) a IA permite uma personalização mais eficaz dos serviços, facilita a automação de processos (…)”
Até que ponto a tecnologia e ferramentas como a IA estão a transformar a forma como se fazem negócios?
Na minha perspetiva, a IA permite uma personalização mais eficaz dos serviços, facilita a automação de processos, reduzindo custos operacionais. Não há dúvida que esta tecnologia acelera a resposta e a ligação com os clientes. A IA tem ainda um potencial enorme na previsão de tendências e comportamento dos utilizadores, o que permite agilizar muito os negócios.
Qual das áreas de atuação em que está envolvido tem sido a mais desafiante, a que tem posto mais à prova as suas skills empreendedoras?
Qual quer uma das áreas em que tenho trabalho tem sido desafiante. O mercado imobiliário (Imovendo) é altamente competitivo e exige inovação constante, no caso da Flipai é desafiante pela complexidade das regulamentações no setor financeiro. Acrescentando ainda que gerir a confiança e segurança no setor financeiro é sempre uma barreira adicional. Tudo isto me obriga – e ainda bem que assim é – a ajustar continuamente às mudanças tecnológicas e de mercado.
Enquanto plataformas tecnológicas quais as dificuldades mais recorrentes nos projetos que cofundou?
As dificuldades mais recorrentes prendem-se com a construção e manutenção da confiança dos utilizadores, com a adaptação de cada projeto às regulamentações específicas, como o crédito na Flipai. Representa também um desafio a necessidade de termos de escalar as plataformas tecnologicamente à medida que os utilizadores crescem e adaptar às necessidades de cada mercado.
“A expansão internacional é também uma meta importante para crescer (…)”.
Que expetativas tem para esses projetos, considerando que estão em mercados altamente concorrenciais como o imobiliário e a intermediação de crédito?
As expetativas são altas. Aposto numa inovação constante para diferenciar da concorrência, com o objetivo de ser uma referência de qualidade e eficiência em cada setor. A expansão internacional é também uma meta importante para crescer, para tal quero garantir um crescimento sustentável através de tecnologia avançada.
A transformação digital e o desenvolvimento tecnológico estão a correr bem em Portugal, na sua opinião?
Sim. Portugal está a progredir bem, mas ainda há áreas a melhorar, nomeadamente na forma de pensar e agir. A cultura empresarial precisa de evoluir para acelerar a transformação digital. É necessário maior desenvolvimento das infraestruturas digitais, mas também mais apoio a start-ups e maior fomento à inovação são fundamentais.
Há vários anos que está ligado ao lançamento de negócios e start-ups na área da internet. Como avalia esse percurso e os altos e baixos que eventualmente encontrou pelo caminho?
O Standvirtual foi o meu primeiro grande sucesso, há mais de 20 anos. Enfrentei altos e baixos, mas a resiliência foi fundamental. A experiência internacional ajudou-me a adaptar às mudanças do mercado, mas sinto que continuo a aprender com a evolução constante da tecnologia e dos mercados digitais.
A passagem pelo mercado internacional entre 2014 e 2021 fez de si um empreendedor diferente/melhor? Em que medida?
A experiência internacional ajudou-me a gerir melhor equipas e projetos internacionais. Permitiu-me desenvolver uma perspetiva global sobre como gerir negócios em grande escala. Aprendi novas abordagens e práticas empresariais em mercados mais maduros, e tive a feliz oportunidade de ver a dimensão que um negócio pode atingir globalmente.
“O financiamento adequado continua a ser um desafio para muitos (…)”.
O que ainda falta aos empreendedores portugueses para serem mais inovadores e bem-sucedidos? Ideias? Financiamento?
Na minha opinião, a cultura empresarial tem que ser mais tolerante ao risco e incentivadora da inovação. Sem dúvida que precisamos de mais apoio em termos de infraestruturas e de mentorias, por exemplo. O financiamento adequado continua a ser um desafio para muitos, bem como o custo inicial muito elevado, sobretudo pela carga fiscal e complexidade fiscal do sistema português.