Entrevista/ “Tenho a visão de criar o WBAF Portugal”

Hugo Mendes, senador no World Business Angels Investment Forum

Hugo Mendes foi recentemente nomeado representante de Portugal na Assembleia do World Business Angels Investment Forum – WBAF. Ao Link To Leaders, o também CFO do grupo Macauto explicou o que representa o cargo e o papel que espera desempenhar neste fórum mundial.

Na semana passada, o World Business Angels Investment Forum (WBFA) nomeou Hugo Mendes como senador na Assembleia Magna do WBAF onde representará Portugal no Comité Internacional Financeiro na Assembleia Magna. Trata-se de uma “organização internacional comprometida a colaborar globalmente para capacitar o desenvolvimento económico no mundo, criando novos instrumentos financeiros para inovadores, start-ups, e pequenas e médias empresas”.

Hugo Mendes, diretor financeiro do grupo Macauto, tem agora em mãos a missão de contribuir para ajudar a ligar o ecossistema em torno da atividade de business angels em Portugal com todos os 55 países representados no WBAF e criar pontes entre eles.

Como encara o desafio de ser nomeado senador representante de Portugal na Assembleia do World Business Angels Investment Forum – WBAF?
Esta nomeação reveste-se de grande importância, pois representa uma excelente oportunidade de conectar todo o ecossistema em volta da atividade de Business Angels em Portugal com os 55 países que estão hoje já representados no WBAF. Cabe-nos facilitar a passagem nas pontes que foram agora criadas.

Qual será o seu papel/missão nesse cargo?
Portugal passa a ter voz no seio do WBAF, portanto o papel do senador é de ser um porta-voz do seu país relativamente a todos os temas ligados à atividade de Business Angels nessa organização. Por outro lado, espera-se igualmente que faça o mesmo no sentido inverso, isto é, que possa conectar e trazer mais players e investidores internacionais para Portugal no sentido de fomentar o crescimento económico e social do país.

Qual a sua opinião sobre a inclusão de líderes financeiros na WBAF?
Representam uma parte do ecossistema envolvente. É importante, assim como é importante a inclusão de líderes de outras esferas, nomeadamente através da criação do Comité Global dos Líderes de Start-ups, de Mulheres Líderes, do Comité Científico e Académico e até mesmo do Comité dos Legisladores.

O que mais destaca na atividade desenvolvida pela WBAF?
Por um lado, a visão de que os business angels, através do exercício da sua atividade, podem dar um contributo precioso ao desenvolvimento social e ao crescimento económico mundial através da sua ação local. Por outro, os meios que estão a ser postos à disposição para realizar essa visão, são igualmente de destacar. No passado, houve tentativas de criar uma organização que fosse a referência mundial dos business angels, mas tal não se veio a concretizar.

Tenho a visão de criar o WBAF Portugal para que possamos fazer a nível local o mesmo que se faz a nível internacional. É necessário profissionalizar ainda mais a atividade…

O que gostaria de implementar no seio da WBAF?
Tenho a visão de criar o WBAF Portugal para que possamos fazer a nível local o mesmo que se faz a nível internacional. É necessário profissionalizar ainda mais a atividade, facilitar o acesso à profissão e encontrar outras formas de fomentar a atividade, nomeadamente ao nível dos benefícios atribuídos às start-ups e aos business angels. Não basta um incentivo fiscal marginal e de acesso muito difícil, mas outras formas como, por exemplo, facilitar o processo de exportação, a redução de taxas aduaneiras nas importações, mais protocolos com o mundo académico e científico que permitissem o acesso a I&D mais facilmente. São apenas exemplos, mas o Estado nunca vai ficar a perder com o desenvolvimento desta atividade que cria valor para o país.

Quais os princípios que devem reger os business angels?
Creio que os mesmos que para ser um bom profissional em qualquer outra área. Ética, resiliência, curiosidade, mente aberta e compromisso.

O Hugo é diretor do departamento financeiro do grupo Macauto Industrial, o segundo maior produtor de cortinas de sol para automóveis no mundo. Que balanço faz desta sua função?
É uma função desafiante. Que estratégias seguir, que riscos gerir, o quê, onde, quando e como, são questões fáceis de colocar, mas muitas vezes complexas de responder no mundo empresarial.

Quais os projetos para o futuro da Macauto industrial?
Queremos e estamos a reforçar a nossa posição no mercado sul e norte-americano, assim como na China e na Europa. Cada um pelas suas razões e motivos, mas estes são os mercados preferenciais para a Macauto.

 Vejo Portugal a tornar-se cada vez mais como a escolha de muitas empresas e empreendedores. Isso é ótimo.

Também é investidor. Quais os maiores desafios que enfrentam os investidores portugueses?
É relativo. Tudo depende dos mercados em que investem, segmento e através de que veículos. Pode ser relativamente fácil ou muito complexo, não há uma resposta direta e transversal.

No entanto, e de uma maneira geral, diria que o acesso a investidores globais pode ser desafiante, assim como levar as nossas start-ups a esses mesmos investidores também. Temos bons projetos, boas equipas, bom produto, mas falta escala e mais meios para escalar. Tipicamente, vejo muitos projetos em que me questiono se caso estivéssemos nos Estados Unidos, o percurso e desfecho desses projetos seria bastante diferente.

Mas há que referir que está a mudar. Vejo Portugal a tornar-se cada vez mais como a escolha de muitas empresas e empreendedores. Isso é ótimo. Temos tudo para ter sucesso na realidade, há que continuar a concretização.

Quais têm sido as suas áreas de investimento prioritárias?
Na área imobiliária, da mobilidade urbana, blockchain e na Ásia.

O que mais o atrai na hora de investir?
Primeiro, tentar perceber o melhor possível a visão de cada projeto e compreender se me identifico com ela e também se consigo projetar-me da mesma forma que os empreendedores.Depois, tentar aferir a qualidade da equipa, do produto/protótipo se já existir. Perceber se e em que moldes poderia ajudar e acompanhar o projecto é igualmente muito importante. Por fim, a expetativa e a excitação de imaginar o caminho a fazer para concretizar a dita visão.

Como vê a proliferação de plataformas de crowdfunding? Acha que podem ser complementares aos business angels em matéria de angariação de investimento?
Sim, porque não? Há já tantos bons exemplos que nasceram através dessas plataformas. O leverage que a massa dos investidores crowdfunding dá, pode ser muito importante, pelo que complementar.

Fundou ainda uma consultora que visa apoiar o investimento estrangeiro em Portugal. Pode falar-nos um pouco mais sobre este projeto?
É mais uma boutique imobiliária onde acompanhamos os clientes que investem em Portugal. Nos 10 anos que estive fora, não raras vezes quando eu falava que Portugal era um país maravilhoso com um potencial enorme, olhavam-me com um ar surpreendido. Hoje em dia felizmente, esta situação já evoluiu muito.

Sempre ficou a vontade de poder, de alguma forma, mostrar a essas pessoas o nosso país e mudar algumas ideias preconcebidas. Foi assim que nasceu este projeto no regresso a Portugal.

É mais fácil ser-se empreendedor ou investidor?
Diria que é mais fácil ser investidor. Um investir puro “apenas” investe o seu dinheiro. É diferente de um business angel ou business angel investor, onde o business angel entra também com a sua rede de contactos e o seu tempo providenciando o acompanhamento e suporte necessários.

Relativamente aos empreendedores, tem a ver com o mindset. Para algumas pessoas é “fácil” ser empreendedor, é precisamente o processo de criação de raiz de um projeto que os motiva. Quando a empresa atinge uma certa dimensão, perdem o interesse porque passam de um estado de criação a gestão. Para outros, é muito difícil de gerir essa latitude e liberdade.

De que forma a sua experiência em empresas como Vivarte e a Decatlhon contribuiram para a visão que tem do mercado global hoje em dia?
Seguramente que essas experiências foram fundamentais. Viver e trabalhar fora do país amplia sempre os horizontes, mas especialmente quando são países culturalmente muito distintos do nosso, como no caso da China. Trabalhar vários mercados mundiais, especialmente o asiático durante todo este tempo, foi uma experiência inesquecível. A escala é muito diferente da nossa, os volumes são de outra dimensão.

Naturalmente que trabalhar em empresas mundiais ajuda a ver o mercado como sendo único e global, mas não é tudo. A cultura da empresa e a capacidade de se projetar no futuro são fundamentais. Há ainda muitas empresas internacionais que ainda pensam muito localmente.

Projetos para o futuro…
Naturalmente, continuar a ajudar ao desenvolvimento da Macauto e da minha consultora, mas espero que 2019 seja prolífero em novos projetos e iniciativas ligadas ao projeto de criação da WBAF em Portugal. Que este projeto possa ajudar e abrir portas a muitos empreendedores!

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