Entrevista/ “Temos como objetivo fechar o primeiro contrato nos Estados Unidos em 2019”

Pedro Pacheco, CEO da BERD

Nos últimos 10 anos aumentou 20 vezes o volume de negócios. Está a preparar 125 pontes modulares para o Peru e estabeleceu um recorde na construção de uma ponte na Turquia, composta por quatro viadutos.  E promete não ficar por aqui. Quem o garante é Pedro Pacheco, CEO da BERD, em entrevista ao Link To Leaders.

Começou como um spin-off da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) há 12 anos, pelas mãos de Pedro Pacheco e Diogo Graça Moura. Desde o início que a BERD (Bridge Engineering Research & Design), sediada em Matosinhos, exporta 97% do que concebe, com fornecedores em mais de 20 países e projetos nos cinco continentes. Fornece soluções integradas de Engenharia de Pontes e atua na venda ou aluguer de equipamentos de grande porte para a construção de pontes.

Em entrevista ao Link To Leaders, Pedro Pacheco garante que a empresa tem como visão ser líder mundial na área de soluções e métodos construtivos para a construção de pontes e viadutos, estando presentemente no Top 3 desta área de atuação.

As previsões para este ano apontam para um crescimento na ordem dos 100% e para um volume de faturação muito perto dos 20 milhões de euros, afirma o CEO da empresa.

Como nasceu a BERD?
A BERD nasceu para explorar comercialmente o OPS e a sua aplicação a cimbres autolançáveis. O OPS (Organic Prestressing System) é um sistema de pré-esforço inteligente, internacionalmente patenteado e criado por um grupo de investigação da FEUP – Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.

A empresa de engenharia foi criada em 2006, numa altura em que o mercado português entrou numa íngreme retração na área de métodos construtivos de pontes e viadutos, após um ciclo de muitos anos de construção de infraestruturas em Portugal. Fatores que motivaram o processo de internacionalização logo em 2007.

“Os prémios recebidos, nomeadamente o prémio internacional da FIB, foram importantes para a afirmação da BERD nos mercados internacionais, que representaram a totalidade da sua faturação nos primeiro anos”.

Na altura, o projeto foi apresentado à Mota-Engil, que já conhecia as suas potencialidades, e à Portugal Ventures, bem como a outras sociedades de capital de risco. Foi um processo fácil?
Foi um processo de capitalização assente na estratégia de demonstração da criação de valor potencial a acionistas e stakeholders. Foi importante explicar que se tratava de um projeto de retorno a médio/longo prazo, dado o setor e a tecnologia. Foi necessária persistência para a entrada do projeto no mundo empresarial, visto que uma das primeiras tentativas para dar dimensão empresarial ao sistema OPS não foi acolhida por entidades públicas, condicionada pela não aplicação industrial do projeto. No entanto, esta primeira barreira não demoveu a empresa que estabeleceu contactos com a indústria e conseguiu o apoio da Mota-Engil e da Martifer, conseguindo 100% do financiamento para a investigação.

Acreditando na viabilidade do projeto, a equipa desenvolveu um modelo laboratorial, associado à criação de uma estrutura metálica, com 14 metros. Esta foi enchida com água, de modo a demonstrar que sem o “músculo” (o sistema OPS) a trabalhar a estrutura descia 14 centímetros, mas com os “músculos” não havia deformação.  Através deste modelo tornou-se possível evidenciar que a tecnologia tinha relevantes vantagens na construção de pontes. Em 2005 foi construída a primeira ponte com o novo sistema tecnológico. Simultaneamente o grupo de investigação já agregava competências complementares, apostando em profissionais de topo.

Os prémios recebidos, nomeadamente o prémio internacional da FIB, foram importantes para a afirmação da BERD nos mercados internacionais, que representaram a totalidade da sua faturação nos primeiro anos. Foi também relevante a adesão de muitos prestigiados players internacionais ao novo sistema, como foi o caso de um dos cinco maiores projetistas do mundo, o espanhol Javier Manterola – que realçou que a conceção da BERD vinha impulsionar a construção de pontes para limites nunca antes imagináveis.

“O investimento de fundos como a ES Ventures são muito importantes para empresas e projetos que estão a começar, pois reconhece o valor de projetos, que carecem de capital e apoio para a sua expansão internacional”.

Em 2011 deu-se a adesão indireta da Espírito Santo Ventures (via holding) ao projeto, no aumento de capital. Que leitura fazem da existência destes fundos e do quanto estão acessíveis para as empresas “inovadoras” em Portugal?
Foi muito relevante o reconhecimento no Concurso Nacional de Inovação BES. A iniciativa do Banco Espírito Santo, em parceria com a Fundação Ilídio Pinho e com a Siemens Portugal e com mais dez parceiros nas áreas da ciência, tecnologia e inovação e nas vertentes académica e empresarial. A BERD foi uma das empresas premiadas, foi a finalista selecionada entre os 211 candidatos da primeira edição do concurso, tendo sido distinguida graças ao seu carácter inovador e grau de excelência científica. O investimento de fundos como a ES Ventures são muito importantes para empresas e projetos que estão a começar, pois reconhece o valor de projetos que carecem de capital e apoio para a sua expansão internacional.

Quais são atualmente os principais objetivos da empresa?
A BERD tem como objetivo fechar o primeiro contrato nos Estados Unidos em 2019, bem como consolidar as vendas de pontes modulares a nível internacional. Além disso, queremos continuar a investir no desenvolvimento de novos produtos e serviços, em particular de um novo produto/serviço que irá revolucionar a engenharia de pontes mundial e cujo plano de negócios já está muito avançado.

“No entanto, o maior fator de diferenciação, no mercado global de construção de pontes onde atua, é o M1, que com o seu OPS integrado representa uma inovação tecnológica que deu novos limites à construção de tabuleiros de pontes e viadutos”.

O que diferencia o vosso produto?
A BERD diferencia-se, essencialmente, por pensar todas as vertentes da engenharia de pontes de uma forma transversal e inovadora. Através do serviço integrado 360º (projeto – método construtivo – construção), são utilizados os conhecimentos e o know how de projeto e construção de pontes para prestar serviços de consultadoria altamente qualificados e de grande valor acrescentado aos seus clientes. Isto resulta na otimização de todo o projeto de construção de uma ponte, aportando soluções inovadoras para o desenvolvimento e otimização de estruturas, tornando-as mais leves, de rápida instalação, fácil transporte e grande durabilidade.

“One Bridge, One Solution” é o nosso slogan que traduz o caráter personalizado das soluções inovadoras e integradas, encarando cada projeto como único e utilizando a experiência para encontrar a melhor e mais eficiente solução para os nossos clientes. Estar perto dos clientes é o nosso propósito, assim como abraçar cada projeto com paixão, entregando as melhores soluções, produtos ou serviços.

Através de um rigoroso controlo de fabrico e rastreabilidade dos materiais, garantimos qualidade. Gerimos o fabrico de estruturas seguras garantindo um produto que requer uma manutenção mínima e de simples execução. O design das Pontes MBS cumpre os principais standards internacionais, as respetivas capacidades de carga e é uma nova forma de pensar as pontes modulares.

No entanto, o maior fator de diferenciação, no mercado global de construção de pontes onde atuamos, é o M1  que, com o seu OPS integrado, representa uma inovação tecnológica que deu novos limites à construção de tabuleiros de pontes e viadutos. Antes da criação do OPS apenas era possível construir vãos até 78 metros, com o método de construção in situ com cimbres autolançáveis. Ao obter equipamentos mais leves, devido à incorporação do sistema OPS,  estes podem agora ser maiores e chegar a novos limites. Em 2016-2017 a BERD, com este sistema, obteve um record mundial com a construção do primeiro vão de 90 metros.

O que tem contribuído para o sucesso da BERD?
A BERD – Bridge Engineering Research & Design – fornece soluções integradas de engenharia de pontes e atua na venda ou aluguer de equipamentos de grande porte para a construção de pontes. Tem desenvolvido esforços no sentido de se posicionar como líder mundial na área de soluções e métodos construtivos para a construção de pontes e viadutos, estando presentemente no Top 3 mundial desta área de atuação.

O serviço que prestamos ultrapassa o mero fornecimento de máquinas, já que em grande parte dos casos desenvolvemos a solução e coordenams o projeto e a operação. Apresentamos uma solução integrada aos clientes que consiste numa interação entre projeto – método construtivo – construção. A ação da empresa está focada na pesquisa e desenvolvimento de novas soluções em metodologias de construção de pontes, que aliada a um intenso e sistemático estudo de métodos construtivos, permite, em cada caso, minimizar os custos e tempo de construção, bem como aumentar a eficiência e garantir padrões elevados de segurança.

Esta metodologia é fortalecida pelo desenvolvimento de uma política de parceria com os líderes mundiais no fornecimento em cada área, a fim de criar produtos integrados com a máxima qualidade. Também temos investido em novas áreas de negócio, como as pontes modulares, e no desenvolvimento de novos produtos.

“Após 12 anos, a BERD desenvolve atualmente a sua atividade em cinco continentes (…)”

Num contexto nacional “difícil”, a BERD optou por “uma estratégia de ataque” de mercados internacionais. Quais os mais significativos e qual tem sido a estratégia?
Desde a sua génese que estabelecemos que o mercado internacional é prioritário para a nossa atividade. Para o sucesso de uma estratégia internacional apoiada por uma forte preparação do core business da empresa, dado que a BERD nasceu para explorar comercialmente o OPS e a sua aplicação a cimbres autolançáveis.

Para o efeito foi importante definir e estudar os mercados alvo do processo de internacionalização, iniciado em 2007,  e conhecer as diferentes culturas de cada mercado. Após 12 anos, atualmente, desenvolvemos a nossa atividade em cinco continentes, nomeadamente em países como Alemanha, Bélgica, Brasil, Canadá, Colômbia, Egito, Eslováquia, Espanha, Estados Unidos, México, Peru, República Checa e Turquia, entre outros.

O processo de internacionalização continuará a ser reforçado, continuaremos a investir para nos posicionarmos como líder mundial na área de soluções e métodos construtivos para a construção de pontes e viadutos. Devido a esta estratégia de internacionalização e também ao contínuo investimento R&D, a BERD vai faturar em 2019 cerca de 20 vezes o que faturava em 2009.

As pontes modulares são uma das novas áreas de negócio e de aposta da empresa?
Depois de 10 anos a inovar e a oferecer os melhores métodos e soluções para construção de pontes e, como resultado de uma intensa aposta em I&D, criámos uma nova área de negócio: soluções de Pontes Modulares. A MBS by BERD oferece novos limites, dado que potencia a construção de vãos até 120 metros.

Vencer este concurso internacional no Peru, a par com os principais players mundiais do setor, representa um enorme reconhecimento da qualidade das soluções que apresentamos. A inovação está no ADN da empresa, pelo que entra nesta nova área de negócios alterando a oferta standard que existia no mercado e que estava restrita a adaptar o problema à solução.

Como carateriza este mercado das pontes modulares?
Os produtos existentes no mercado tinham sido desenvolvidos na II Guerra Mundial (tipo “Bailey”), reconhecidos como uma das cinco inovações militares do século XX. Vimos neste segmento uma oportunidade de criar e desenvolver pontes modulares, de tecnologia avançada e adaptadas às necessidades atuais, oferecendo soluções à medida de cada situação.

Prevemos um crescimento interessante do fornecimento de pontes modulares, numa primeira fase, nos países em desenvolvimento, em especial, na América do Sul e África. Simultaneamente, estamos a desenvolver diversas parcerias comerciais e industriais, que permitam facilitar a sua entrada e presença em alguns destes mercados.

Qual o projeto que teve mais peso para a BERD até agora?
Destaco o projeto que estamos a desenvolver na Turquia, pois pela primeira vez, graças à engenharia e inovação portuguesa desenvolvidas pela BERD, foi alcançado um recorde mundial. Abriram-se novas possibilidades na construção de tabuleiros de pontes e viadutos, com a construção de vãos de 90 metros com o método de betonagem in situ.

Este equipamento, desenvolvido por nós, está a trabalhar na construção dos tabuleiros de quatro viadutos, parte integrante da construção da linha ferroviária de Alta Velocidade que ligará Ankara a Sivas. O M1 potenciou uma maior rapidez na construção, economia de custos e criação de um projeto mais sustentável e ecológico

Estes quatro viadutos, com um comprimento total de 6151 metros, estão a ser executados por dois equipamentos fornecidos por nós: o M1-90-S, utilizado para vãos de 90 metros, e o M55-S, para vãos até 55 metros.

Com que volumes de negócio e faturação encerraram 2018? Quanto preveem faturar este ano?
A par do investimento na área inicial de negócio e extensão do tipo de cimbres autolançáveis que disponibiliza, a BERD expandiu a sua atividade a novas áreas de negócio, como as pontes modulares e o desenvolvimento de novos produtos, de modo a alargar o seu território de atuação. Neste âmbito, o ano de 2018 ficou marcado pela expansão da  na atividade e por uma evolução muito positiva do volume de negócios para 2019.
12 anos  após a fundação, a empresa vai crescer mais de 100% este ano, estando previsto um volume de faturação de 20 milhões de euros. Conseguimos afirmar-nos no Top 3 a nível mundial.

Que projetos têm em carteira para este ano?
Além da construção do tabuleiro de quatro viadutos que referi, também estamos presentes na construção de uma das maiores pontes da Colômbia, a ponte Pumarejo. Será a maior e mais moderna ponte construída até aos nossos dias na Colômbia. Com um comprimento total de 3240 metros e uma altura de 45 metros sobre o Rio Magdalena, para permitir a passagem de embarcações de grande dimensão, a ponte vai fazer a ligação de Barranquilla a Magdalena. Será uma estrutura muito segura contra sismos e destinada a tráfico pesado, com 38,2 metros de largura para duas vias com três faixas cada, mais duas vias pedonais e ciclovias.

Temos também contrato com JV Vinci/ Bouygues/ Orascom/ Arabco para fornecimento de uma LG36-S tecnologia de ponta, que entrou em operação em fevereiro deste ano para construção de 5 km de linha de metro, no Cairo. E o contrato com a Ferrovial/ Porr para fornecimento de dois equipamentos M1-70-S para construção dos viadutos de aproximação da nova ponte sobre o Danúbio.

Paralelamente, já está em curso a referida nova área de negócios, tendo vencido em 2018 o concurso internacional, no valor de 17 milhões de dólares, lançado pelo Ministério dos Transportes e Comunicações Peruano, que deverá potenciar  oportunidades em novos mercados no segmento das pontes modulares. As pontes modulares serão entregues no verão de 2019, assegurando uma poupança de cerca de 25% ao Governo peruano em relação aos concursos anteriores. O concurso internacional abrange o fornecimento de 125 pontes modulares, com vãos entre os 15 a 60 metros.

Como perspetiva 2020?
Analisamos as nossas contas em triénios, devido a tratarem-se de ciclos longos de negócio. Pretendemos terminar o triénio 2018-2020 com uma faturação 100% superior ao triénio anterior, expandir o negócio de pontes modulares e entrar no mercado norte-americano na área de equipamentos.

“De 2009 para 2019 a BERD aumentou 20 vezes o volume de negócios. Na próxima década, com a aposta nas novas áreas de negócio, pretendemos aumentar novamente 20 vezes o volume de negócios”.

Como imagina a BERD daqui a cinco anos?
De 2009 para 2019 aumentámos 20 vezes o volume de negócios. Na próxima década, com a aposta nas novas áreas de negócio, pretendemos aumentar novamente 20 vezes o volume de negócios. Os sinais são promissores e os planos de negócios são ambiciosos, mas realizáveis como foram os que nos trouxeram até aqui.

Respostas rápidas:
O maior risco:
A entrada em novas áreas de negócios tem um maior risco associado.
O maior erro: Evitar cair na tentação de entrar em guerras de preços com fabricantes de países cujos custos industriais são muito baixos, como é o exemplo da China.
A maior lição:  A constante aposta na qualidade e na excelência, a par de um investimento em I&D considerado o suporte da evolução.
A maior conquista: Reconhecimento da relevância do OPS (Organic Prestressing System) e valorização internacional da atividade.
A maior prioridade na gestão: A atividade com maior valor acrescentado na gestão é o recrutamento.

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