Start-ups europeias enfrentam um desafio: a escassez de talentos

Muitas start-ups europeias enfrentam problemas na contratação de profissionais para funções na área de software developers. E quando o conseguem, a retenção é o outro desafio. A solução para este problema pode estar nos estagiários com formação no local de trabalho.
Os programadores de software são um dos recursos mais difíceis de conseguir para as start-ups de tecnologia. Talvez por isso estas sejam cada vez mais fãs dos “smart grad”: jovens recém-saídos das universidades ou sem o curso terminado, sem experiência prática, mas com muita força de vontade e empenho numa vasta gama de tarefas numa fase inicial de negócios. Este tipo de colaboradores tendem a permanecer mais tempo nas empresas e podem tornar-se insubstituíveis. Um jovem nestas condições não reúne exatamente as mesmas características de quem já tem um percurso na área, no entanto pode colmatar algumas lacunas na start-up.
Veja-se o exemplo da WhiteHat, uma start-up de londrina que coloca juniores em empresas de tecnologia e que também dá formação aos estagiários, e que afirma que 65% dos seus recursos são não-brancos e que cerca de metade pertence ao escalão que usufruía de refeições escolares gratuitas. “Os estágios são uma ótima forma de aceder a jovens mais ambiciosos e diferenciados”, explicou na imprensa internacional Sophie Adelman, cofundadora da WhiteHat, na opinião de quem “estes jovens não são uma fonte de mão-de-obra barata, eles estão realmente a mudar o jogo e podem ter muito impacto.”
Start-ups como a empresa de pagamentos Transferwise, a empresa de jogos Improbable e a companhia de energia verde Bulb (que recebe dois estagiários da WhiteHat por mês) já entraram neste esquema. Outras start-ups londrinas, como a financeira Funding Circle e a empresa de brinquedos educativos Kano também recrutam colaboradores juniores através da empresa LDN Apprenticeships. As funções vão desde o recrutamento até a administração de empresas e vendas.
Ainda no Reino Unido, a London VC LocalGlobe anunciou que irá lançar, em parceria com a WhiteHat, uma empresa de promoção de estágios. Este projeto é em parte motivado pela vontade de aumentar a diversidade socioeconómica das equipas dentro do portefólio da empresa de venture capital que, na opinião da sócia da LocalGlobe, Suzanne Ashman, é um dos pontos mais fracos da empresa.
Sendo esta uma aposta, ao que tudo indica, positiva, porque é que mais empresas não estão a optar por esta solução? O cofundador da WhiteHat, Euan Blair, esclarece que um dos principais desafios na adoção desta estratégia é a falta de consciencialização. A adoção de estratégias de formação nas empresas de todos os tipos é baixa, sendo a lacuna maior nas start-ups. No caso do Reino Unido, o responsável da WhiteHat refere que o governo cobra 95% dos custos de formação de um estagiário, se estiver a trabalhar numa empresa pequena. E por esta aposta os empregadores ficam isentos de algumas contribuições sociais. Por outro lado, os empregadores podem transferir até 25% dos seus fundos anuais de formação para outros empregadores dentro de sua cadeia de abastecimento, para que start-ups e empresas pequenas possam beneficiar desses fundos adicionais.
Porém muitas empresas ficam reticentes com a hipótese de formação no trabalho, pois essa componente ocupará tempo que não têm. Para suportar esta perspetiva, Micael Holmström, CEO da Tretton37, uma start-up sueca de tecnologia que administra um programa de formação de dois anos para software developers, admite que “é preciso um esforço muito grande para ter sucesso”. No entanto, acrescenta que o esforço compensa. Os formandos, muitos dos quais são profissionais em mudança de percurso, trazem experiências diferentes do “mundo real” para a empresa e têm “uma enorme paixão por aprender e por questionar tudo, o que representa uma ótima oportunidade para a empresa avaliar o seu status quo. Esta postura ajuda a Tretton37 a explorar uma nova fonte de talentos e “agrega funcionários valiosos que iniciaram as suas carreiras de programador imersos nas nossas formas de trabalhar”. Este empreendedor sueco refere que o apoio governamental poderia ser positivo em especial para remover a carga administrativa na execução dos programas. “Isso seria benéfico para todo o ecossistema de start-ups e para a sociedade em geral.”
Através de reuniões regulares, organização de equipas desportivas e workshops, a WhiteHat espera oferecer aos seus formandos uma experiência semelhante ao que os estudantes encontram na universidade. O modelo da WhiteHat – com seus bootcamps de codificação, encontros comunitários e foco em competências digitais – parece ser uma alternativa para ultrapassar o problema de falta de recursos na Europa. Pelo menos a crer no que afirma a cofundadora da WhiteHat, Sophie Adelman, que confidenciou que a sua empresa já está a ser abordada para oferecer estes serviços fora do Reino Unido.