Entrevista/ “Sem atitude não podemos ser empreendedores”
Queria ser pintora ou artista, mas deixou-se levar por um apelo maior de se aliar ao negócio de família. Rita Nabeiro está à frente da Adega Mayor, tendo herdado o espírito empreendedor do seu avô.
Nasceu e vive em Lisboa, mas quase todas as semanas vai até Campo Maior, a vila de oito mil habitantes onde o avô nasceu e fez fortuna. Formada em Design de Comunicação pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, Rita Nabeiro começou o seu percurso profissional em 2005, na área de design e comunicação. Primeiro numa agência de publicidade em Itália e de seguida em Portugal, na agência Brand New.
Dois anos mais tarde, deixou-se levar pelo apelo maior de se aliar ao negócio de família. Dentro do Grupo Nabeiro, começou por integrar o departamento de marketing da Delta Cafés, mas a aposta do Grupo Nabeiro na área dos vinhos levou-a até à direção de marketing da Adega Mayor, onde se destacam projetos como as edições especiais e as Wine Talks. Em 2012, assumiu a direção geral da Adega Mayor, posição que ainda mantém e com atitude, não fosse esta a palavra que usa para retratar a sua forma de estar na vida e nos negócios.
Rita Nabeiro é também uma mulher de causas. Durante seis semanas, no último ano, dedicou-se ao voluntariado em São Tomé. Desta experiência aprendeu uma importante lição: “não é preciso muito para sermos felizes”. O Link To Leaders esteve à conversa com Rita Nabeiro.
Quem é a Rita, sem cargos nem nome de família?
A Rita é uma mulher alegre, independente e criativa que gosta de cultivar as amizades, de viajar, do contacto com outras culturas e com a natureza. A Rita é uma pessoa simples, fascinada pelos seres humanos e, sobretudo, pelas suas histórias.
Quando era criança, o que queria ser quando fosse grande?
Queria ser pintora ou artista. Fascinava-me e ainda me fascina a criação a partir de uma folha em branco.
Como é que a Rita se tornou empreendedora?
Se tiver como referência as pessoas que começaram do zero, então não me posso considerar uma empreendedora. Na realidade, já tive um pequeno negócio pessoal quando terminei a faculdade e, na mesma altura, também me envolvi nalguns projetos artísticos. Daí, passei por duas agências de publicidade, antes de integrar o Grupo Nabeiro. Hoje contribuo para o negócio familiar e, por isso, prefiro usar a palavra atitude para retratar a minha forma de estar na vida e nos negócios. A atitude é o ingrediente necessário para sermos empreendedores e é também algo que devemos ter em todas as esferas da nossa vida. Sem atitude não podemos ser empreendedores.
O futebol também passa pela sua vida, com o Campomaiorense e agora o Lusitano de Évora. O que a atrai neste desporto?
O Campomaiorense surge pela ligação do meu pai. O Lusitano é algo recente, mas têm em comum o desejo de voltar a colocar o Alentejo no mapa do desporto que move multidões, em todo o mundo e em Portugal.
O que é o Grupo D’Uva? O que levou a criar este grupo de mulheres e que mais-valias traz?
O grupo D’Uva surgiu por um acaso, na sequência de uma reportagem realizada para a Notícias Magazine (Diário de Notícias), em 2012. A entrevista retratava 12 produtoras no ativo, pertencentes a casas de referência de produção de vinho em Portugal, com responsabilidades em áreas distintas das empresas de cariz familiar às quais pertencem, como a viticultura, gestão, marketing ou vendas.
Apesar dos diferentes elementos do grupo terem perfis distintos, percebemos que era mais o que nos unia do que o que nos separava e que devíamos unir esforços. O grupo é hoje constituído por 8 produtoras: eu, em representação da Adega Mayor, a Catarina Vieira (Herdade do Rocim), a Francisca van Zeller (Quinta Vale D. Maria), a Luísa Amorim (Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo), a Maria Manuel Poças Maia (Poças Júnior), a Mafalda Guedes (Herdade do Peso – Sogrape), a Rita Cardoso Pinto (Quinta do Pinto) e a Rita Fino, do Monte da Penha.
Reunindo algumas das principais regiões produtoras de vinho, queremos, acima de tudo, contribuir para a valorização e promoção dos vinhos portugueses como um todo, dentro e fora do país, criando sinergias internas, partilha de conhecimento e de contactos, ao mesmo tempo que mostramos a sua riqueza e diversidade. O facto de sermos mulheres foi o que nos uniu, mas não nos resumimos a esse aspeto. Sendo o vinho um dos produtos de excelência em Portugal, queremos contribuir para a valorização do vinho português dentro e fora de portas, mostrando um setor dinâmico, fresco e contribuindo com ideias e ações que tenham impacto e diferenciação.
A Rita é ainda uma artista no mundo do vinho com um toque feminino? Do que não prescinde no seu dia a dia e como consegue fazer tudo?
Diria que podes tirar a pessoa da arte, mas não tiras a arte da pessoa. Por isso, procuro transportar a minha sensibilidade para o que faço e isso é fundamental para manter vivo o meu espírito criativo. O vinho é um produto de histórias e também ele é um ato de criação, onde o enólogo faz a magia e eu aponto o condão. Em relação ao meu dia a dia, estaria a mentir se dissesse que consigo fazer tudo o que gostaria em 24h (dormir bem inclusive!). À medida que as responsabilidades aumentam, o tempo torna-se mais escasso e precioso. Por esse motivo, valorizo os momentos que tenho para mim e para estar com os que me são queridos, sejam amigos ou familiares, valorizo a leitura de um bom livro ou revista e a prática de desporto. É fundamental exercitar quer a mente, quer o corpo.
Quem mais a ajudou na sua vida profissional?
Consigo identificar muitas pessoas em diferentes momentos da minha vida que me ajudaram a crescer, enquanto profissional. Começando pelos meus colegas, onde iniciei a minha carreira profissional, à minha família, que me tem sabido passar conhecimento, ao meu avô em particular, que me ensina pelo seu exemplo. Não posso deixar de mencionar outras pessoas, nomeadamente algumas mulheres que, com palavras simples de incentivo, provocaram em mim um efeito transformador. Por fim, mas não por último, a minha equipa direta. São eles que me desafiam, mas que também me ajudam a querer ser melhor todos os dias.
O que a leva a abraçar causas e a dedicar-se seis semanas ao voluntariado em São Tomé?
Há muito tempo que queria passar por uma experiência de voluntariado fora do país. Colocar-me ao dispor dos outros e poder retribuir com uma ínfima parte daquilo que recebo diariamente. Uma experiência destas coloca-nos fora da nossa zona de conforto e aprendemos muito. Desde valorizar as coisas que damos por adquiridas, como a água e a eletricidade, a valorizar coisas simples, como um sorriso genuíno e a simplicidade na forma de estar. A lição a retirar é que não precisamos de muito para ser felizes. No fundo, uma experiência de voluntariado é sempre um ato egoísta. Acabamos por receber sempre mais do que damos e desta vez não foi diferente.
Celebra-se hoje o dia da mulher. O que falta às mulheres portugueses para terem uma presença mais visível e permanente nas empresas?
Apesar de já termos conquistado muito, ainda temos um longo caminho a percorrer, até termos uma real paridade. Começaria pelas oportunidades concedidas ao acesso a determinados quadros, mas também a um nível invisível que se reflete na diferença salarial, nos benefícios no trabalho, mas também na divisão de tarefas de um casal em casa. A nova geração já tem uma sensibilidade diferente, mas ainda faltam alguns anos para termos uma paridade real. Creio que podemos começar pelos números, pois estes dão-nos uma noção real das diferenças e, por vezes, é preciso ver para crer. Começar por avaliar o ponto de partida através de dados concretos, definir objetivos e traçar estratégias. Depois, monitorizar e corrigir a rota, se necessário. Por fim, é preciso criar oportunidades de um lado e ambição do outro.
Por que há tão poucas mulheres nos Conselhos de Administração e como empresárias bem-sucedidas?
Porque ainda temos muitos homens a decidir quem deverá integrar os conselhos de administração, mas também porque há muitas mulheres que colocam barreiras a si próprias. Somos educadas a brincar com bonecas, enquanto os rapazes são ensinados a conquistar impérios. Também passa por aí.
O que considera que é eficaz para ajudar as mulheres empresárias a terem sucesso?
Em primeiro lugar, é fundamental terem confiança e acreditarem nelas próprias. Por outro lado, é importante conseguirem planear as suas carreiras. Não menos importante é conseguir encontrar equilíbrio entre as diferentes solicitações profissionais e familiares a que a mulher é sujeita. Pedem-nos para sermos supermulheres, mas, para isso, precisamos de ter supercompanheiros ao nosso lado. Por fim, diria que é importante encontrarmos pelo caminho as pessoas certas que as encorajem a não desistir. Muitas mulheres desistem quando estão a chegar ao topo, outras, tendo qualificações e competências para tal, nem vislumbram essa possibilidade.
Um conselho para uma jovem empreendedora?
Que se saiba rodear de boas pessoas e profissionais. Que procure bons mentores e conselheiros. Que não deixe os obstáculos serem um entrave à partida, porque difícil é diferente de impossível; que se questione; que se foque sempre nas soluções e não nos problemas; mas, acima de tudo, que acredite em si própria e que trabalhe afincadamente para poder crescer, como profissional e como pessoa.
Quem gostaria de inspirar um dia?
Ajo com base nos meus valores e em convicções pessoais profundas e não a pensar em inspirar alguém, pelo menos de forma intencional. Procuro lutar por um mundo melhor, através de uma mensagem e, sobretudo, de atitudes. Se essa atitude tiver eco numa pessoa ou mais e se essas pessoas fizerem o mesmo com outras, então serei uma pessoa feliz. Acredito na máxima de receber, retribuir e distribuir.
Respostas rápidas:
O maior risco: Não chegar a arriscar.
O maior erro: Ter medo de falhar.
A melhor ideia: Aquela que surge em equipa.
A maior lição: As pessoas vão-se esquecer do que disseste e o que fizeste, mas não se vão esquecer da forma como as fizeste sentir.
A maior conquista: A próxima.