Opinião

Recordo-me de ser jovem. Do que sentia, do que pensava, do que sonhava.

Sandra Silva, diretora-geral da Mary Kay Portugal*

Era uma mistura de pensamentos, sentimentos e emoções. Com o sonho, a excitação, a esperança e o entusiasmo de quem tem toda a vida pela frente e tudo é possível, misturava-se o medo, a angústia, a dúvida: “será que vou conseguir?”, “estou a ser muito ambiciosa…”, “deveria ouvir a voz da razão dos mais velhos e experientes que me dizem que está difícil”…

Os tempos mudaram. Tive o meu primeiro telemóvel com 22 anos aquando do meu primeiro emprego. Fiz o meu curso universitário praticamente sem recurso ao PC. Nada a ver com os jovens de hoje em dia. Ligados em permanência, com acesso facilitado a informação e a pessoas de todo o mundo.

Mas, a essência, acredito e sei, agora já mãe de adolescentes e também com jovens na equipa, essa permanece. Continuam cheios de esperança, sonhos, misturados com medos e incertezas. O que faz com que, ora avancem, ora recuem. Ora se encham cheios de força e tomem nas mãos as rédeas dos seus destinos, ora muitas vezes sucumbam “à razão” de quem sabe e já é muito experiente e diminuam ou mesmo parem as ações que os podem levar aos seus sonhos.

A todos os jovens que estão a ler este artigo, tenho uma recomendação. Uma certa dose, ou melhor, uma boa dose de loucura enquanto se é jovem não só é recomendada… é necessária. É o ingrediente essencial para alcançar o nosso máximo potencial. Porque uma certa inconsciência do caminho que temos pela frente, das dificuldades que poderemos ter que enfrentar faz-nos unicamente estar concentrados e focados no nosso sonho e prontos  a dar sempre o nosso melhor no próximo passo. E isso é tudo o que é preciso. Olhos postos no sonho e focados no próximo passo!

E digo-o por experiência própria.

Acredito profundamente que as pessoas que conquistam os seus sonhos, as que contribuem para que a sua comunidade, família, sociedade ou país avance não são os comedidos que se regem unicamente pela razão, pelo que foi possível no passado para prever o futuro, mas sim os que sonham, que vêm um pouco mais longe e estão dispostos a lutar por isso.

Eu faço parte da chamada geração rasca. Uma geração que a comunicação social da altura apelidava como muito pior do que anterior, impreparada, desmotivada, pouco envolvida e contribuinte para as causas da sociedade da altura. E já nessa altura pintavam um cenário negro de taxas de desemprego, salários muito baixos para começar. Ter um estágio na banca parecia ser o melhor que se poderia ter.

Bons empregos, uma carreira interessante para começar parecia estar reservada apenas para os jovens com “padrinhos” ou o networking certo… e eu não tinha nem uma coisa nem outra.

Felizmente vim de uma família, humilde, sim, mas que desde a minha infância sempre me empoderou, ensinou a sonhar e a lutar pelo que queria. A rejeitar a palavra impossível e a dar sempre tudo por tudo. A não aceitar que me dissessem que era impossível. Quanto mais impossível parecia ser maior era a dose de esforço e empenho que colocava no que fazia.

Isso fez com que fosse possível, porque não escutava as pessoas que davam a entender que isso não era para mim, a minha licenciatura, o estudar fora de Portugal pago com o meu trabalho em part-time de fim de semana, ingressando no mercado de trabalho, na empresa que quis com a função que queria, tendo dito que não ainda sem certezas a opções que não me entusiasmavam.

Hoje com 42 anos olho para trás. E muitas vezes parece que vejo a história repetir-se. Sim. Há mais computadores. Estamos todos mais ligados. Mas….  O que estamos a dizer aos nossos jovens?

Que é possível? Que apesar de difícil, dos obstáculos, desta nova realidade que o COVID-19 nos veio mostrar, vai ser possível que cada um deles encontre o seu caminho, o seu primeiro emprego, a sua realização profissional e pessoal?

Sinceramente, acho que podemos e devemos fazer muito melhor.

Precisamos desta nova geração de jovens e precisamos dos nossos jovens no seu melhor. Têm muito para nos ensinar e juntos em equilíbrio neste encontro de gerações podemos contribuir para que coletiva e individualmente a sociedade evolua e se desenvolva de uma forma mais equilibrada e sustentada.

Precisamos da sua apetência para as novas tecnologias, a sua maior frontalidade, a vontade de viver em paz  com um ambiente mais sustentável e também com maior equilíbrio entre a vida pessoal e profissional.

E muitas vezes acho que o que fazemos é o que fizeram connosco. A geração anterior a desvalorizar a geração seguinte. E acho que o fazemos por medo. Medo de ficar para trás. Medo de ser ultrapassados. Pela geração das Apps, do Instagram, do Tik Tok, dos lives…

Por isso… jovens… continuem a sonhar, a planear os vossos sonhos e a trabalhar. Não escutem as vozes negativas à vossa volta e sigam determinados em frente, rumo aos vossos sonhos! Procurem o apoio de quem já conseguiu e que pode contribuir para ser o vosso mentor e que vos capacite! São as nossas circunstâncias internas que determinam o nosso sucesso! Nunca as externas! Basta ver que em tempos de crise há sempre quem consiga ter sucesso!

Um vencedor é apenas alguém que se recusa a desistir! E vocês são vencedores! E o mundo precisa mais do que nunca de vocês!

Será fácil? Não! Mas vai valer a pena! Afinal trata-se da vida individual de cada um!
E digo eu… para viver uma vida plena… vale a pena COMEÇAR HOJE!

*E conselheira da Associação Começar Hoje

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Sandra Silva

Sandra Silva

Sandra Silva é a diretora-geral da Mary Kay Portugal desde 2009, ano em que entrou para a companhia. Desempenhou um papel importante e fundamental tendo sido responsável pelo turnaround da empresa em Portugal. Liderou a importante renovação da estratégia de negócio implementada em todos os departamentos. Também é membro da Plataforma Portugal Agora. Antes de chegar à Mary Kay a experiência profissional de Sandra Silva centrou-se nas áreas das Vendas e Marketing em multinacionais de grande consumo. Começou na Johnson&Johnson,... Ler Mais..

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