Opinião

Reagir à subida dos custos

Alexandre Meireles, presidente da ANJE*

A crise inflacionista é o mais recente desafio à resiliência das empresas. A inflação estava já a subir devido à disrupção nas cadeias globais de abastecimento causada pela pandemia e, com a guerra na Ucrânia, este indicador económico conheceu um agravamento constante, atingindo, em setembro, os 10% na zona euro.

A subida dos preços incide em especial na energia, nas matérias-primas e nos produtos alimentares, sendo responsável por um crescimento exponencial dos custos da produção industrial e agrícola. Por outro lado, a inflação está a provocar uma redução significativa do poder de compra, penalizando sobretudo os setores dos serviços e do retalho. Acresce que as taxas de juro têm vindo a subir, circunstância que retrai o investimento e aumenta o custo da dívida das empresas.

O agravamento exponencial da estrutura de custos tem como consequências imediatas a perda de competitividade e um maior endividamento das empresas. O tecido empresarial português trabalha, em muitos casos, com margens de lucro estreitas e, por isso, não pode repercutir no consumidor/cliente o aumento continuado dos custos. Além disso, muitas empresas não conseguem melhorar a sua eficiência energética ou explorar outras fontes energéticas, como a biomassa ou a energia solar.

Por tudo isto, os próximos tempos vão exigir às empresas maior resiliência, eficiência e disciplina. Para superar as dificuldades, há que melhorar o controlo das despesas (sobretudo energéticas), otimizar os custos, aumentar a eficiência interna, inovar na relação com os clientes e ser assertivo nas vendas.

Isto significa que, tal como na pandemia, as empresas são obrigadas a grandes transformações na sua cadeia de valor ou mesmo no seu modelo de negócio. Neste pressuposto, as transições digital e energética veem reforçada a sua urgência, uma vez que ambos os processos podem fazer baixar a estrutura de custos das empresas.

No caso da transição digital, trata-se de introduzir tecnologias que melhorem a produtividade e a eficiência, provocando um desagravamento das despesas. No caso da transição energética, o objetivo é reduzir o consumo de eletricidade, gás natural e combustíveis fósseis, substituindo-os por energias mais limpas e baratas.

Mas há outras medidas, não estruturais, que podem ser tomadas para baixar os custos das empresas. Por exemplo, atuando sobre as pequenas despesas (telecomunicações, energia, seguros, automóveis, economato, etc.), que no seu conjunto representam um custo não despiciendo. Estas despesas resultam da relação com os fornecedores, a qual deve estar sempre a ser avaliada e melhorada. Convém negociar com os fornecedores com regularidade, de forma a otimizar as condições do negócio e a obter prazos de pagamento mais favoráveis.

Deve ser ainda definido um plano rigoroso de prevenção e controlo de custos. Plano, esse, que inclua a obrigatoriedade de autorização superior para qualquer aquisição, a adoção de regras rígidas no uso de economato, a introdução de planos de poupança energética, a racionalização dos gastos com material informático ou a implementação de sistemas de gestão da qualidade.

É também conveniente rever os planos de financiamento. Há que auscultar o mercado para verificar se a empresa está, de facto, a usufruir dos produtos e serviços bancários mais adequados e com os preços mais competitivos.

Em suma, há diferentes maneiras de enfrentar os efeitos da inflação, sendo certo que isso exigirá às empresas flexibilidade e capacidade de adaptação à nova realidade económica.

*Associação Nacional de Jovens Empresários

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Alexandre Meireles

Alexandre Meireles

Alexandre Meireles foi presidente da Direção Nacional da ANJE-Associação Nacional de Jovens Empresários até julho de 2024. Natural de Amarante, é licenciado em Engenharia Eletrotécnica, no ISEP, e tem o Curso Geral de Gestão da Porto Business School. A sua carreira profissional está ligada a diferentes setores de atividade, entre os quais restauração e saúde. No período de 2009 a 2011 foi energy division coordinator no grupo Mota-Engil, e depois dessa experiência abraçou a atividade empresarial. Alexandre Meireles é cofundador... Ler Mais..

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