Entrevista/ “Queremos chegar a 1 milhão de pessoas até 2019”
Com três anos de atividade, a DreamShaper teve origem no projeto da Acredita Portugal, uma ONG nacional dedicada a encorajar o empreendedorismo e a desenvolver habilidades sócio-emocionais.
Hoje, com a motivação empreendedora dos seus cinco sócios, a DreamShaper ambiciona vôos maiores para sua plataforma educativa. Miguel Queimado traça o perfil do projeto e as metas a que se propõe.
Quis ser médico, trabalhou para Tony Blair, na banca de investimento, em consultoria de gestão e para um grupo chinês de têxtil… Quais os maiores obstáculos que encontrou pelo caminho antes de fundar a DreamShaper?
Suponho que o primeiro obstáculo foi a falta de preparação que tinha para essas funções, sobretudo comparado com as empresas pessoas dessas organizações. Cometi muito erros e felizmente tive chefes pacientes e organizações que contratavam mais com base no potencial do que no conhecimento à partida. Quando, mais por sorte do que planeamento, liderei a minha primeira startup na China com 50-60 colaboradores, tinha apenas 22 anos e 3 anos de universidade (Ciência Politica). Os chefes pacientes e experientes fizeram falta pelo que o impacto da minha inexperiência foi consideravelmente maior. O outro obstáculo foi a gestão de múltiplas tarefas em paralelo, pois trabalhos mencionados, tive-os em paralelo com a universidade, em diferentes países (com exceção de consultoria).
Paris, Londres… de todas as suas experiências internacionais, qual foi a que mais o marcou?
Depois de ter sido um empreendedor na China, a experiência que mais me marcou foi o ritmo a que se aprende numa multinacional, as curvas de aprendizagem que encontrei, tanto nos estágios de banca de investimento, no Citigroup, como nos primeiros anos de consultoria que tive na McKinsey eram impressionantes.
Se pudesse, o que teria mudado?
Não teria mudado muita coisa em termos de opções profissionais. Eventualmente, gostaria de ter trabalhado durante um ano ou dois numa start-up de pequeno porte em São Francisco. Ia, de certeza, deparar-me com dificuldades mais próximas de uma startup jovem com que não me deparei na China, em que tinha muito acesso a capital, por exemplo.
Quando regressou a Portugal, depois de estudar Ciência Política, trabalhado em macroeconomia e no governo britânico, ajudou a estruturar o Acredita Portugal. Pode falar-nos um pouco deste projeto?
A Associação Acredita Portugal foi fundada em 2008 para fomentar a pedagogia do empreendedorismo a uma larga escala. O intuito era ajudar as pessoas a irem atrás dos seus objetivos… era uma iniciativa com o formato de um concurso e, na altura, tínhamos uma previsão de 10-20 inscrições que apoiaríamos com mentoria. Tivemos mais de 700 no primeiro ano. Não estávamos preparados logisticamente para isto. Foi dessa necessidade que surgiu a primeira versão da DreamShaper que, na altura, se chamava DreamFactory. Não podíamos imaginar que hoje a DreamShaper teria sido usada por mais de 60 mil pessoas.
É neste contexto que surge a DreamShaper?
Sim. Em 2014, percebemos que o impacto da plataforma poderia ser mais profundo num outro formato. Decidimos lançar a DreamShaper como empresa e apostar na vertente educativa e empreendedora para aplicar a plataforma nas escolas e universidades. Neste momento, somos cinco sócios na DreamShaper: o João Borges e o André Borges são os responsáveis pela operação no Brasil. O Pedro Queiró e o André Pintado são responsáveis pela operação em Portugal e eu que tenho um papel cada vez menos ativo no dia-a-dia da operação.
Que histórias mais o marcaram na DreamShaper?
Já assistimos a várias, tal como colocar professores, que nem uma conta de email tinham, a utilizar a DreamShaper. Em apenas dois ou três meses estes professores sentem não só que são capazes de utilizar a tecnologia junto dos seus alunos, como se apercebem do impacto positivo que a plataforma tem na própria capacidade dos alunos aprenderem. Também já tivemos alunos que começaram a utilizar a DreamShaper na sala de aula e que depois começaram a transpôr a plataforma para resolver problemas da escola ou mesmo das suas famílias. Quando os alunos de liceus públicos no Brasil em regiões ditas de risco, nos dizem que encontraram um rumo e um objectivo para as suas vidas e que se sentem motivados e preparados para o perseguir esse caminho, sinto a maior gratificação de todas.
Porque é que o Brasil foi o primeiro mercado a “atacar”, uma vez que está apenas na posição 123 do ranking de “Facilidade de Fazer Negócios”, elaborado pelo Banco Mundial?
De facto é um país complexo e difícil de navegar. A primeira razão é que tínhamos acesso a uma rede que não tínhamos em outros países e que foi indispensável para começarmos. O Pedro Queiró, o João Borges e eu já tínhamos trabalhado no Brasil, e por isso já tínhamos acesso a vários players que conheciam muito bem o país. Por exemplo, o João, conseguiu uma reunião com o Jorge Paulo Lemann – o empresário de maior porte no Brasil – que nos apresentou à Fundação Lemann, que é a mais prestigiada fundação de apoio à educação no país. A segunda razão foi macroeconómica: o 5º maior país do mundo e que tinha uma das maiores taxas de crescimento a nível mundial quando lançámos. A terceira razão é porque é dos mercados de educação mais atrativos: tem um dos maiores índices de educação universitária privada no mundo e é o mercado menos fragmentado a nível mundial. Por exemplo, um dos projetos que fizemos foi com a Kroton, que tem o maior grupo a nível mundial com 1,2 milhões de estudantes universitários numa só empresa. Temos a meta interna de chegar a mais de 1 milhão de alunos até 2019. Acreditamos que vamos conseguir. Em mercados fragmentados isso é impossível.
Depois destes anos, que balanço faz da DreamShaper?
Confesso que balanço está acima da minha (pouco informada) expectativa original. Estamos numa fase de internacionalização que é sempre divertida, tendo já operações em 3 países. Estamos presentes em mais de 140 escolas e universidades. Além disso, a plataforma é utilizada por mais de 60 mil alunos de várias idades desde 2014. Estou contente pelo impacto social que já tivemos a nível mundial.
Neste momento, estão a começar a olhar para outros países. O que precisam para que essa meta se concretize?
Precisamos de duas coisas: encontrar parceiros locais que tenham muito acesso ao mercado, e investidores para financiar o processo de internacionalização. Já testámos dois modelos de internacionalização e tivemos uma ótima experiência com o modelo que agora queremos replicar para o resto do mundo.
Quais os planos para o futuro?
Continuar a ter um crescimento acelerado no Brasil, que é o nosso principal mercado. Mas, ao mesmo tempo, lançar um processo de internacionalização porque queremos que a DreamShaper seja uma empresa global nos próximos anos.
Quem quiser trabalhar com vocês como pode fazê-lo?
Estamos a recrutar em Lisboa (backend, fronted, marketing e business development), e os interessados podem contactar-nos em recruiting@dreamshaper.com. Os investidores podem contactar-nos em investors@dreamshaper.com
Respostas rápidas:
O maior risco: Investimento inicial que fizemos na DreamShaper.
O maior erro: Ter recusado todas as propostas de investimento que nos fizeram para a DreamShaper nos últimos anos.
A melhor ideia: A DreamShaper como plataforma de criação de projetos empreendedores para qualquer pessoa!
A maior lição: A gestão emocional de uma equipa é a maior variável de sucesso de uma organização existente.
A maior conquista: A DreamShaper