Quer filhos empreendedores? Deixe-os brincar na rua

Se nasceu antes da explosão da tecnologia, lembra-se de passar a infância a brincar na rua até o sol se pôr. Brincar ao ar livre era uma parte crítica do crescimento e, embora as coisas tenham mudado, estar com os amigos num ambiente não estruturado é tão relevante hoje como o foi há centenas de anos.
Brincar lá fora com os colegas até quase escurecer, ir de bicicleta à casa de um amigo, jogar à bola num descampado ou correr pela rua até a mãe chamar era a norma – e, enquanto crianças, ensinou-nos muito mais do que percebemos na altura.
Infelizmente, brincar de forma não estruturada já não é a mesma coisa hoje em dia, e não só afeta o desenvolvimento do cérebro de uma criança como também pode ter um efeito dominó negativo no mundo, do ponto de vista do desenvolvimento, de uma perspetiva social, emocional e económica.
Yuko Munakata, professor de psicologia e neurociência na Universidade do Colorado, contou à CBS News, que “quanto mais tempo as crianças têm em atividades menos estruturadas, mais autodirecionadas são, e o inverso também é verdade. Quanto mais tempo passam em atividades estruturadas, menos capazes são de usar a função executiva”.
Também Caroline Martinez, pediatra e especialista em comportamento no Hospital Infantil Kravis no Mount Sinai Medical Center em Nova Iorque, referiu à CBS News que “o excesso de atividades nas crianças pode ser prejudicial ao seu desenvolvimento”. A especialista diz que a função executiva do cérebro inclui uma ampla gama de capacidades de raciocínio que incluem planeamento, resolução de problemas, tomada de decisões, regulação de pensamentos e de ações.
Quando as crianças não têm oportunidade de brincar por elas, perdem partes críticas da sua evolução, o que pode levar a doenças mentais, incluindo depressão e ansiedade. Além disso a falta de brincadeira pode contribuir para uma saúde física precária, conduzindo à obesidade e doenças associadas ao sedentarismo.
Quando as crianças brincam começam por se basear nas suas experiências passadas, quer tenham sido com adultos com quem aprenderam ou através de atividades anteriores com amigos ou irmãos – é assim que elas começam a construir memórias e a aprender realmente. Além de que brincar de forma livre fornece-lhes uma experiência positiva, permitindo que explorem e descubram enquanto desenvolvem a imaginação, recorrendo à sua criatividade natural e aprimorando a capacidade de pensamento crítico.
Conheça as cinco vantagens da brincadeira para o empreendedorismo, segundo a Forbes.
1. Descoberta
Quando as crianças brincam, estão a descobrir o mundo à sua volta. Estão a aprender a encontrar as coisas e como as consertar, e também estão a aprender como as coisas funcionam e não funcionam. Segundo a Budding Scholars, “a descoberta da brincadeira é uma parte importante na vida de uma criança. A outra parte é o jogo imaginativo, ou faz-de-conta, que permite que as crianças aprendam sobre o mundo e como este funciona. Elas aprendem melhor a fazer, então o tipo de brincadeira imaginativo é um ajuste natural para o seu desenvolvimento”.
2. Pensamento crítico
Quando as crianças brincam lá fora estão expostas a muitas situações diferentes, incluindo resolução de conflitos e solução de problemas, o que leva ao pensamento crítico. Por exemplo, quando duas crianças andam de bicicleta e uma quer seguir um caminho mas a outra não quer ir – nesse momento, esta última precisa de tomar uma decisão crítica. Estas pequenas atividades diárias dão-lhes a oportunidade de aprender a tomar decisões essenciais no início das suas vidas.
3. Resolução de problemas
Quando as crianças são pequenas, geralmente gostam de fazer muitas brincadeiras imaginárias. Quando os jovens brincam juntos, aprendem a resolver os problemas sozinhos dentro da comunidade. E também aprendem a negociar, a coordenar, a criar competências de liderança e a procurar maneiras diferentes de resolver um problema ou preocupação. E a resolução de problemas é fundamental para o empreendedorismo.
4. Procedimentos e processos
Quando as crianças brincam, começam a desenvolver hábitos e rotinas. Enquanto estudantes, quando estes hábitos vêm à superfície, juntam-se naturalmente e criam processos que podem melhorar o que quer que estejam a trabalhar no momento.
Quer estejam a trabalhar num projeto com amigos, a iniciar um jogo no parque ou a construir algo na pré-escola, estão ao mesmo tempo a aprender a desenvolver e a implementar processos e práticas. Esta é uma capacidade necessária para os empreendedores de sucesso.
5. Falhar
Quando os bebés aprendem a andar, é vê-los a cair e voltar a levantar sem pestanejar. Quando as crianças brincam num ambiente não estruturado e sem julgamentos, estão a aprender sobre o fracasso – a cair e a levantar de novo, as vezes que for necessário.
Vejamos o exemplo de um grupo de meninas a brincar à macaca: à medida que vão jogando podemos notar que algumas se inclinam para a competição, outras aprendem competências de liderança e muitas aprendem que, mesmo que não ganhem naquela vez, haverá sempre uma próxima vez.
Se os pais não deixarem os filhos falharem, estão a prepará-los para elevados níveis de ansiedade e depressão quando se tornarem jovens adultos. Todas as crianças devem aprender que o fracasso e o sucesso andam de mãos dadas, e que ninguém vence imediatamente ou raramente vence na primeira tentativa.