Perspetivas para o private equity em 2025: aterragens suaves e liquidez disponível

“Embora 2024 tenha sido um ano discreto para a realização de negócios, começamos a observar sinais promissores que prenunciam tempos mais auspiciosos em 2025”, prevê a Schroders.
Tal como em 2023, este ano foi marcado por amplos spreads entre oferta e procura e por uma liquidez mais restrita. Quando as taxas de juro aumentam, os custos de financiamento para aquisições também sobem, pressionando os múltiplos EV/EBITDA para baixo, segundo a Schroders Capital que publicou uma análise intitulada “Perspetivas para o Private Equity em 2025: Aterragens suaves e liquidez disponível”.
Para a gestora de ativos, os compradores pagam mais para contrair menos empréstimos, reduzindo, assim, o valor que estão dispostos e aptos a oferecer por ativos. De forma semelhante, as taxas de juro mais elevadas têm exercido pressão descendente sobre os múltiplos de fluxo de caixa, enquanto a inflação aumenta os custos para empresas sem mecanismos adequados de repasse.
Por outro lado, os vendedores têm tentado alienar ativos adquiridos quando o endividamento era barato e os múltiplos estavam em ascensão. Estas dinâmicas criaram um desfasamento entre o preço que os compradores estão dispostos a oferecer e o preço que os vendedores estão dispostos a aceitar.
“Felizmente, parece que estamos a virar a página. Embora os múltiplos EV/EBITDA para grandes aquisições tenham diminuído este ano, os valores das transações estão a crescer graças a negócios de maior dimensão, indicando uma preferência por investimentos mais avultados em empresas bem estabelecidas. Os valores de saída no mercado global também parecem estar a estabilizar, com um aumento recente de saídas entre patrocinadores. No entanto, persiste um desconto significativo na valorização de aquisições de pequeno e médio porte em comparação com as de maior dimensão, sugerindo uma diferença na perceção de valor dentro do mercado. As avaliações no segmento de capital de risco também começaram a recuperar, um sinal encorajador, dado o desempenho anteriormente negativo deste segmento”, explica.
A primeira metade de 2024 também registou um volume sem precedentes de transações de fundos de continuação (também conhecidas como operações conduzidas por um General Partner – GP) e de negócios secundários conduzidos por LP (parceiros limitados), enquanto os parceiros limitados procuravam liquidez. “À medida que nos aproximamos de 2025, muitas das dinâmicas que têm exercido pressão descendente sobre os múltiplos deverão abrandar ou inverter-se. Nomeadamente, a descida das taxas de juro e das pressões nos custos deverá promover múltiplos mais elevados, à medida que os custos de financiamento diminuem e os fluxos de caixa melhoram”, aponta a Schroders.
Um ambiente preparado para saídas
“O private equity de grande capitalização continua repleto de liquidez disponível – capital já angariado à procura de oportunidades. Com a melhoria das condições e o regresso da liquidez, os nossos múltiplos de saída neste segmento do mercado deverão aumentar, devido ao desequilíbrio entre a elevada procura por negócios e a oferta reduzida”, diz a gestora de ativos.
De acordo com dados da Preqin entre 2010 e 2022, a captação de fundos por parte de grandes fundos de capital cresceu 10,7 vezes, enquanto o fluxo de negócios aumentou 3,6 vezes. Isso ocorreu apesar de existirem 40 vezes mais fundos de pequena e média dimensão no mercado do que fundos de grande dimensão.
Este desequilíbrio entre a oferta e a procura de capital aumenta os múltiplos de entrada para grandes transações, reduzindo o potencial efetivo de desempenho.
Por outro lado, os fundos de pequena e média dimensão registaram um crescimento do fluxo de negócios de 4,2 vezes face a um crescimento de captação de 2,9 vezes. Uma menor oferta de capital, combinada com uma procura relativamente maior, favorece múltiplos de entrada mais baixos. Estes preços de entrada reduzidos fazem uma enorme diferença – como aprendemos em Econ 101, a oferta e a procura têm um impacto significativo nos preços. No contexto de private equity, expresso em múltiplos EV/EBITDA, este desequilíbrio entre oferta e procura traduz-se num desconto de cerca de 5-6 vezes.
Um escudo contra a volatilidade
O retorno da inflação em 2022 abalou os mercados. O private equity, como a maioria das classes de ativos, sofreu com esta volatilidade. Embora os efeitos secundários ainda se façam sentir, as aquisições de pequena e média capitalização tiveram um desempenho positivo durante este período, superando os mercados cotados em 24%.
O Nasdaq e o MSCI registaram desempenhos negativos de -32% e -18%, respetivamente, entre dezembro de 2021 e dezembro de 2022, enquanto as aquisições de private equity de pequena e média dimensão apresentaram um retorno de +6%. Este episódio, tal como períodos semelhantes anteriores, demonstra que o private equity, especialmente no segmento de pequenas e médias aquisições, não apenas mantém um desempenho respeitável durante períodos de elevada volatilidade, como também abre uma diferença de desempenho relativo face às ações cotadas.
Entre as as razões para o sucedido, a Schroders refere que “estruturalmente, a natureza do capital comprometido permite que as empresas mantenham a propriedade de ativos durante períodos de crise e os vendam quando as condições de mercado são favoráveis, evitando assim “liquidações forçadas” a avaliações deprimidas. Além disso, a natureza mais estável do private equity protege os investidores de armadilhas psicológicas, como vender em pânico no momento errado. O capital comprometido também oferece flexibilidade para angariar fundos e investir durante disrupções no mercado, aproveitando oportunidades. Por fim, o alinhamento de interesses entre as empresas e os seus investidores, alcançado através de compensações baseadas no desempenho, promove uma abordagem dedicada e motivada”.
Já do ponto de vista fundamental, as empresas de private equity tendem a apresentar uma composição setorial distinta em relação aos mercados cotados, com foco em indústrias menos cíclicas, como saúde e tecnologia, e menor exposição a bancos e indústrias pesadas. Além disso, o private equity costuma preferir crescimento e disrupção, procurando empresas com elevado potencial de expansão. Privilegiam também modelos de negócio baseados em receitas recorrentes e geradoras de caixa, que tendem a ser menos voláteis. Adicionalmente, as empresas de private equity têm maior controlo sobre as empresas do seu portefólio, permitindo-lhes realizar ajustes oportunos durante períodos turbulentos
Por fim, do ponto de vista técnico, a avaliação de investimentos não realizados baseia-se na contabilidade de justo valor, em vez de transações de mercado, o que pode oferecer algumas vantagens em termos de valorização.
Esta resiliência durante períodos turbulentos, combinada com um desempenho robusto em tempos de menor volatilidade, favorece retornos superiores a longo prazo. O que tudo isto nos revela sobre as perspetivas para 2025?
“Tem-se dado atenção ao ambiente desafiante de saídas no private equity atualmente. Contudo, isto é algo esperado. Embora o private equity tenda a sofrer quedas menos acentuadas quando os mercados recuam, também tende a recuperar a um ritmo ligeiramente mais lento na subida. No entanto, acreditamos que este é um custo relativamente pequeno para os investidores, considerando que quedas menores significam que os investimentos em private equity precisam de ganhos percentuais menores para recuperar as perdas“, afirma a gestora.
Acompanhar o dinheiro
As transações secundárias lideradas por General Partners (GP), também conhecidas como fundos de continuação, envolvem a transferência de um ou mais ativos de um fundo existente para uma nova estrutura, que continua a ser gerida pelo patrocinador original. A primeira metade de 2024 registou um volume recorde de transações secundárias, com quase metade delas sendo lideradas por GPs. Parte desta tendência deve-se aos General Partners manterem ativos valiosos, enquanto outra parte está relacionada com os níveis mais baixos de liquidez disponíveis para saídas.
“As razões pelas quais apreciamos as transações secundárias lideradas por GPs permanecem inalteradas. Os patrocinadores recorrem a estas transações para aumentar o valor do portefólio de uma empresa, permitindo mais tempo e/ou capital para o seu desenvolvimento estratégico”, frisa a gestora. Ao realizar uma transação liderada por GPs, os patrocinadores podem adotar uma perspetiva de longo prazo sobre uma empresa, prolongando efetivamente o período de retenção de um ativo para além dos tradicionais quatro a seis anos. Para além deste horizonte temporal alargado, os veículos de continuação possuem características específicas que beneficiam GPs, LPs e os próprios ativos que detêm, reforça.
Benefícios para novos investidores
A Schroders diz que “o risco de blind pool (o perigo de comprometer capital sem saber qual será o investimento final) é eliminado porque o LP pode ver o ativo existente e como o GP o geriu no passado. O risco de execução (o risco do plano pretendido não ser executado conforme originalmente planeado) pode ser mitigado porque os GPs aproveitam as competências e conhecimentos adquiridos na primeira fase de gestão do ativo”.
A Schroders defende também que “investir em secundárias lideradas por GPs também elimina parte do chamado risco da ‘curva em J’ observado em fundos primários, que é o risco de incorrer em taxas e custos antes de obter qualquer retorno dos investimentos em empresas”.
“No caso das secundárias lideradas por GPs, o capital é aplicado imediatamente – e, na verdade, os investidores podem frequentemente desfrutar de um ‘aumento inicial’, pois o preço de aquisição é normalmente acordado cerca de seis meses antes da execução da transação, sendo altamente provável que a empresa continue a desempenhar e crescer durante esse período”, refere a sociedade.
A Schroders defende que as transações lideradas por GPs oferecem aos LPs uma estrutura económica e de comissões mais atrativa, alinhando melhor os seus interesses em comparação com um compromisso primário padrão, aumentando, em última análise, a eficiência no setor de private equity.
Por seu turno, “os LPs que investem num veículo de continuação podem esperar um maior alinhamento de interesses, dado que os GPs normalmente transferem o seu carried interest para o veículo de continuação e aumentam a sua participação no investimento em conjunto com os LPs”.
“Num compromisso primário típico, o capital comprometido pelos GPs pode variar entre 1-5%, enquanto um fundo de continuação liderado por GPs pode ter até 10-15% de capital comprometido”, acrescenta a Schroders.
Benefícios para os investidores existentes
A Schroders aponta que os LPs obtêm acesso a várias opções, incluindo vendas totais ou parciais das suas participações, que de outra forma poderiam não estar disponíveis, reduzindo a dependência de estratégias de saída tradicionais. “Embora isso tenha sido criticado ao longo dos anos como uma forma de evitar o prazo tradicional de saída de 4 a 6 anos, oferece liquidez aos LPs dos fundos primários e estende o horizonte de investimento para ativos valiosos com potencial de crescimento adicional”, refere.
Benefícios para a empresa
Os GPs podem identificar um potencial de valorização adicional no ativo, mas não dispõem de mais capital de seguimento no fundo para investir. Ao criar um veículo de continuação, conseguem alocar capital adicional no ativo para executar o plano de crescimento renovado, defende a Schroders.
“O planeamento pode continuar por mais três a cinco anos sem a interrupção causada por mudanças na administração, na propriedade ou pelo processo de due diligence associado”, destaca a gestora de ativos.
“À medida que atravessamos o atual ambiente de liquidez mais restrita, continuaremos a apostar em secundárias lideradas por GPs como uma forma de preservar a qualidade do portefólio. De um modo geral, as secundárias lideradas por GPs apresentam menos surpresas, sejam positivas ou negativas”, conclui a Schroders.