Opinião

O poder da autenticidade num mundo movido pela conformidade

Rita Vilas-Boas, investidora e consultora de start-ups

Já se apercebeu que hoje, o facto de vivermos numa sociedade cada vez mais caracterizada pela superficialidade, o poder da autenticidade sobressai ainda mais? Pois a mim, isto acontece-me. E muito.

Durante muitos anos tentei ser (ou parecer) uma pessoa diferente daquilo que sou. Entre querer ser “amada” por todos, também queria ser aceite e respeitada. A verdade, é que isso não é possível, sobretudo quando temos opinião (e às vezes muita opinião) sobre um vasto leque de temas.

Finalmente, um dia, comecei a sentir uma vontade cada vez maior de me aceitar não só porque me sentia melhor comigo mesma e com as minhas qualidades, mas sobretudo porque me sentia também melhor com os meus defeitos. Isto não me aconteceu do dia para a noite. Foi todo um processo, similar ao processo do luto, na realidade. Primeiro vem a negação, depois a raiva, negociação, depressão e finalmente aceitação. Como em tudo, terminamos a perceber que é melhor aceitar do que lutar contra a natureza e o livre arbítrio. Mais vale focarmo-nos nas nossas qualidades, do que alguma vez querermos melhorar um pouquinho os nossos defeitos. E porquê? Porque as qualidades são a nossa maior vantagem competitiva! É ao nos destacarmos da multidão, que sobressaímos e que nos tornamos únicos; e é com essas qualidades diferentes, focando no que podemos distinguir, é assim que nos diferenciamos.

Abraçar e aceitar a autenticidade requer coragem, desafiar as normas e expetativas da sociedade. Ter coragem para defender as nossas ideias, por exemplo, num mundo empresarial ou familiar (ainda bastante) conservador, ou desafiar estruturas governamentais com processos com alicerces fracos (ou até vazios), são muitas vezes vistos duma forma como negativa (e até ofensiva). Por isso, a forma como dizemos e passamos as mensagens também requer cautela. Mas isso fica para outra vez.

O que gostaria de partilhar hoje, são as vantagens, que para mim, advêm de ter aceite e não ter vergonha da minha autenticidade.

  1. Realização profissional (e pessoal):

Ter oportunidade de viver a vida nos meus próprios termos, guiada pela nossa bússola interna (princípios e valores), e não por pressões externas. Isto resulta numa maior qualidade de vida (incluindo saúde mental), melhor (não necessariamente maior) integridade e, acima de tudo, potencial de criar um maior impacto positivo.

  1. Relações interpessoais e liderança:

Dar espaço para as pessoas à nossa volta dizerem o que pensam, sem juízos de valor, tem um impacto incrível – pode destruir relações (e bem, porque essas não as queremos) mas torna as outras, as que ficam, muito mais genuínas e verdadeiras. Quando criamos espaço para dizermos o que pensamos, ainda que muitas vezes não partilhemos das mesmas opiniões, cultivamos empatia. Líderes autênticos dão o exemplo; inspiram e capacitam os outros cultivando um ambiente de autenticidade, frontalidade e propósito. São pessoas que não têm medo de ser vulneráveis.

No passado mês de março, fui convidada para uma mesa-redonda sobre empreendedorismo, com exemplos em Portugal. Com uma audiência de cerca de 120 alunos do MBA Executivo da Judge Business School de Cambridge, de cerca de pelo menos 20 nacionalidades. Não tenho dúvida de que foi a minha forma transparente e autêntica que cativou este grupo; em horas convidaram-me para viajar até Cambridge em 2024 onde serei key-note speaker no jantar de gala de fecho do próximo curso do MBA. E que orgulho!

Embora a autenticidade possa parecer algo radical, o seu poder é inegável. Na minha opinião, e na minha experiência, ajudou-me no caminho para a realização pessoal, a obter relações mais genuínas, conseguindo despoletar um impacto positivo à minha volta que jamais imaginaria se não o tivesse feito desta forma.

 

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Rita Vilas-Boas

Rita Vilas-Boas

Rita Vilas-Boas é investidora e consultora de start-ups, com mais de 20 anos de experiência em gestão, tendo desempenhado vários cargos de liderança em sete países, em três continentes. Trabalhou 10 anos em empresas de FMCG (P&G e L'Oréal) assumindo inúmeras funções comerciais regionais e globais. Durante cinco anos trabalhou para empresas familiares capazes de entregar excelentes resultados globais de P&L. Viveu em Xangai durante quatro anos liderando a estratégia de marketing e o portefólio de uma start-up, uma das... Ler Mais..

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