Opinião
A complementaridade de dois países que se respeitam
![Teresa Fiúza_Portugal Ventures](https://linktoleaders.com/wp-content/uploads/2023/05/TF_Portugal-Ventures.jpg)
Nunca tinha estado no Brasil. E não podia ter tido melhor batismo: assistir e participar na Web Summit Rio de Janeiro. Parti sem expetativas, regresso cheia de ideias.
No que respeita à nova revolução que estamos a viver, a revolução tecnológica, Portugal e o Brasil são países perfeitamente complementares.
Tivemos a sorte (que deu trabalho a muita gente) de receber a Web Summit em Lisboa desde 2016. Tivemos o engenho de o saber aproveitar para desenvolver e afirmar o ecossistema empreendedor português.
Temos a desvantagem de ter um mercado pequeno, com 10 milhões de consumidores. Temos a grande vantagem de pensar no Mundo como o nosso mercado potencial. Seguramente que a necessidade ajudou a aguçar o engenho. As start-ups portuguesas sabem que para vingarem têm de se afirmar internacionalmente e por isso preparam-se para a abordagem a mercados internacionais, seja à procura de negócio, seja em busca de investidores para novas rondas de investimento.
Participaram desta missão 25 start-ups portuguesas, das quais o país se deve orgulhar. Fomos a segunda maior missão internacional, segundo a organização do evento (apenas os EUA tiveram maior representação do que Portugal).
E fizemos muito bem: abordar um mercado que é gigante e está ávido de desenvolvimento tecnológico, com vários programas e organizações nacionais e estaduais, com destaque para o Sistema S (Sebrae, Senac, Senai, Sesi, Sesc, Sescoop, etc).
Relativamente ao evento (é impossível não estabelecer comparações, mas tendo sempre presente que o Rio de Janeiro está a recebê-lo pela primeira vez):
– o mesmo look and feel, que faz toda a diferença;
– conferências muito interessantes, em que a Inteligência Artificial foi o tema dominante: fiquei agradada por ver como a ética está muito presente na mentalidade dos founders e decisores;
– start-ups expositoras e participantes com maioria expressiva de origem brasileira: mas não duvido que em breve teremos no Rio de Janeiro o mesmo bulício internacional a que assistimos em Lisboa, em que ouvimos falar inglês a todo o momento, mesmo entre portugueses;
– existem temas a afinar, como o transporte das 20 milhares de pessoas, desde as instalações do RioCentro, na Barra da Tijuca, onde decorreu o evento, até ao centro da cidade.
– incrível a Receção oferecida à comitiva portuguesa, organizada pela Câmara de Comércio e Indústria de Portugal no Rio de Janeiro, em articulação com a Startup Portugal, no Palácio de São Clemente, onde funciona o consulado de Portugal no Rio de Janeiro.
São muitos os brasileiros que procuram Portugal para reprogramar as suas vidas. Entre eles, existem seguramente investidores e empreendedores, que terão um ecossistema português a acolhê-los de braços abertos. Portugal representa uma grande oportunidade para o mercado brasileiro chegar a quase 500 milhões de consumidores europeus.
Os investidores brasileiros encontram em Portugal uma geração jovem tecnicamente muito bem preparada, multilingue e que estudou em Portugal, Espanha, França, Inglaterra, Alemanha, Itália.
Com a livre circulação de pessoas, bens e capitais no espaço da União Europeia, Portugal constitui uma oportunidade incrível. É o verdadeiro hub natural para o Brasil se internacionalizar para a geografia cultural e economicamente mais diversificada do mundo.
Se soubermos conjugar os benefícios da dimensão do Brasil e da qualidade do seu talento, com o ímpeto de desenvolvimento internacional do ecossistema empreendedor português, podemos criar uma verdadeira Nação Digital de Língua Oficial Portuguesa. E porque não começar a fazê-lo no contexto de desenvolvimento de um hub de inteligência artificial? A Europa será, porventura, o espaço geográfico onde o desenvolvimento da Inteligência Artificial vai dar os maiores passos: pela diversidade cultural, pela história, pelo desenvolvimento tecnológico e criatividade e pela diversidade de consumo.
A complementaridade de dois povos que se respeitam será um acelerador natural do empreendedorismo luso-brasileiro.