Entrevista/ “Investimos entre 2 e 20 milhões de libras em start-ups”
Esteve em Lisboa na última semana, para participar na Web Summit. Ao Link To Leaders, Vinoth Jayakumar, Principal da Draper Esprit, fundo europeu sediado em Londres, confessou que, neste momento, procura start-ups na área dos seguros, da tecnologia financeira e de software empresarial.
No entanto, o asiático não descarta a possibilidade de investir noutras áreas, pois a Draper Espirit, fundada por Draper, um investidor de risco norte-americano que fazia parte da DFJ Venture Capital, um fundo de Silicon Valley, é generalista e “não coloca nenhum setor de fora”.
Onde está sediado em termos mundiais?
Estou em Londres, mas sou da Malásia, Ásia. Estou em Londres há 12 anos. Colaboro com um fundo de capital de risco, o Draper Esprit. É um fundo europeu sediado em Londres, que recentemente passou por um processo de IPO, mais concretamente em junho passado, tendo levantado 100 milhões de libras. Estamos neste momento a fazer negócios por toda a Europa, investindo na última fase, metade na Série A e metade na Série B. Também investimos na Série C e em negócios de expansão, mas esporadicamente.
Quais os setores em que investem maioritariamente?
Somos um fundo bastante generalista, mas temos conhecimentos de software e serviços, pelo que fazemos investimentos em muitas empresas e start-ups nessas áreas. Participámos também em algumas empresas de e-commerce e de media, como a plataforma de cinema LoveFilm, adquirida pela Amazon, bem como alguma experiência em hardware, especialmente na área dos microchips espaciais. Saímos recentemente de uma empresa chamada Movidius, que faz chips para os drones dos DJI.
Atualmente estão a investir em que empresas?
Tivemos a LoveFilm e agora estamos numa plataforma de caixas de snacks variados, a graze.com, também na DataHug, uma empresa de software, entre muitas outras em que investimos. Neste momento, temos uma equipa apenas dedicada ao setor da saúde, pelo que estamos à procura de empresas digitais também neste setor. Já temos alguns investimentos na área, como a Push Doctor, com base no Reino Unido, em que podemos ter um médico ao telefone, para que as pessoas não tenham de se deslocar até ao hospital, o que poupa muito tempo e acelera o processo de tratamento dos pacientes.
Quais os países em que mais investiram até agora?
A maioria das empresas em que investimos são do Reino Unido. Também investimos em alguns países nórdicos e em França, onde temos um sócio, e na Irlanda. Neste momento, estou focado em investir em empresas europeias, a partir da Draper Esprit.
Que lições aprendeu dos investimentos que já fez?
Todos os que trabalham nesta área do investimento são abordados a todo o momento por stat-ups. O problema é que a maior parte das pessoas abordam qualquer investidor sem critério. É preciso fazer primeiro alguma pesquisa sobre a pessoa que vai abordar e a quem vai fazer o seu pitch ou a empresa que representa, para ver se as áreas de atuação são coincidentes. Por exemplo, se é um investidor de capital de risco que investe na Europa, se tem interesse em Portugal. É preciso perceber porque vamos abordar esse investidor. De outra forma, todos só perdemos tempo, pois há um limite de emails que os investidores conseguem ver, de pitch que conseguem ouvir e, em muitos casos, os fundos disponíveis são muito limitados, pelo que não conseguem investir em muitos negócios ao mesmo tempo.
Resumindo, primeiro é preciso pesquisar sobre esse fundo de investimento, perceber a sua forma de atuação e, quando estiver a fazer o pitch, mostrar o produto e explicá-lo de forma muito clara e direta, e falar de forma rápida sobre os KPI. Mostrem-nos o produto, como funciona, quantos subscritores tem, quantos pagantes e quantos gratuitos, quantos renovam o serviço todos os meses, qual a taxa de conversão das suas vendas, pois é isso que queremos saber o mais rapidamente possível, antes de sabermos se estamos interessados e com quanto.
E apenas investe financeiramente?
Somos o Draper e a Esprit. O Draper é um investidor de risco norte-americano muito conhecido, que fazia parte da DFJ Venture Capital, um fundo muito conhecido de Silicon Valley. Ele decidiu sair e estabelecer-se por conta própria com a Draper Associates, que está em todo o mundo, do Japão à Índia, Singapura, Londres, e nós somos o fundo europeu da Draper. Ajudamos empresas que atuam no contexto em que nos movemos, ajudamos empresas a entrar nos EUA, mas nunca de forma passiva apenas com capital.
Sentamo-nos muitas vezes com as empresas, para analisarmos em conjunto a sua estratégia. Outras vezes, ajudamos com serviços financeiros, quando olhamos para orçamentos, fluxos de caixa. Mas, muito frequentemente, os sócios da Draper pensam e atuam na base do que podemos ajudar naquela empresa, que contactos podemos trazer. Se querem entrar nos EUA, como o conseguimos fazer acontecer…
O que é mais frequente acontecer, quando empresas em que investem não dão certo?
É difícil de dizer. Uma das coisas interessantes, quando se é investidor de capital de risco, é que, obviamente, quando investimos, é a pensar que se trata do melhor investimento que eles poderão ter. Claro que só podemos fazer o investimento com base na melhor informação de que dispomos. O mais provável é tudo parecer estar com bom aspeto e acreditarmos que se trata de um bom investimento. Mas o que acontece muitas vezes, é que o mercado específico em que opera essa start-up mudou e, se formos lentos a acompanhar essa mudança, surgirá alguma outra que ocupará o espaço que deixámos em aberto.
Isto reduz as margens ou, inclusivamente, acaba com o que era gerado de retorno. De qualquer das formas, cria pressão sobre o retorno do investimento, o que obviamente é o fator-chave para a sobrevivência da empresa. É preciso gerar receitas, para ter dinheiro para reinvestir no negócio. Com o que mais me deparo, são empresas que lutam com a gestão do fluxo de caixa. Há muitos que atuam nessa área, com empréstimo para gestão de caixa, como o Silicon Valley Bank ou o Columbia Partners. Mas continuo a achar que a questão é saber gerar dinheiro e reinvesti-lo no crescimento da empresa.
Em média quanto investem?
Fazemos negócios entre 2 e 20 milhões de libras, mas o mais habitual é investir entre 3 e 5 milhões de libras.
O que espera deste Web Summit?
Estive com outros investidores europeus. Basicamente, espero sair daqui com os conhecimentos que adquiri, com contacto de pessoas superinteligentes, com o contacto também de algumas empresas potencialmente interessantes e quero perceber o que os outros andam a fazer.
Que países veio procurar ao Web Summit para investir?
Estou muito atento a Lisboa, Madrid, Barcelona e Helsínquia.
O que achou do dia dos investidores?
Foi fantástico. De manhã, houve mesas redondas com temáticas à volta da inteligência artificial, acesso a investimento de risco, como levantar o primeiro fundo, coisas que interessam a diferentes estágios de desenvolvimento de investidores de risco. Encontrei muitas pessoas que já conhecia e que não via há algum tempo, pessoas com quem já tinha falado por email, mas com quem nunca tinha estado fisicamente, o que foi muito bom. Foi um dia essencialmente social, de convívio entre todos.
Que tipo de start-ups portuguesas lhe interessariam?
Ainda não olhei com atenção para o cenário português, mas, neste momento, procuro start-ups na área dos seguros, da tecnologia financeira, como pagamentos, na área da cibersegurança e de software empresarial. Destas áreas, as prioritárias são as dos seguros e da tecnologia financeira. Mas, como somos generalistas, não colocamos nenhuma área de fora.
O que o faz pensar em investir em Portugal?
Há algumas coisas que estão a mudar em alguns países europeus. Espanha e Portugal estão a mostrar uma atuação mais forte a nível governamental e ao nível da aceleração de start-ups. Como o talento nestes países é atualmente bastante bom e mais barato que no resto da Europa, torna-se mais fácil às empresas instalarem-se neles e crescerem. O aspeto negativo que apresentam é o mercado português ser demasiado pequeno para estas start-ups. Dou como exemplo a Seedrs e a Farfetch que têm uma equipa operacional em Portugal, mas cujo negócio está no resto da Europa.
É um modelo interessante, mas acho que é uma questão de tempo até a economia portuguesa apanhar as restantes e afirmar-se como economia por si mesma. Não sei o que vai acontecer depois do Brexit, mas sei que Portugal vai continuar na Europa, obviamente, o que torna o país interessante para nós, visto poder aceder ao resto da Europa via Portugal. Entram também aqui em questão cidades como Barcelona, Madrid, Helsínquia, pelo que temos de esperar para ver como vai tudo decorrer.