Opinião
O meu projeto de vida: a Educação!
Chegámos assim ao final do mês de julho e damos início a uma época em que a maioria das famílias faz uma pausa para repor energias. É importante parar e ter tempo para fazer aquilo de que mais se gosta e que habitualmente não temos tempo para o fazer.
As férias são um período essencial para o nosso equilíbrio e bem-estar e só assim podemos ganhar mais energias para enfrentar os desafios com os quais nos vamos deparando ao longo do ano. Quem me conhece sabe que vivo para o meu trabalho e para as minhas equipas, desde que ingressei no Grupo Ensinus em 2016 e passei a ter a meu cargo uma série de membros das nossas Comunidades Educativas presentes nos diferentes países membros da CPLP que o meu dia a dia é passado entre reuniões, chamadas, emails, enfim, um dia que parece ter 48 horas!
Por isso, este período é tão importante para mim, não só porque preciso de fazer uma pausa e de definir novos objetivos, como também consigo passar tempo de qualidade com os meus filhos e com os meus amigos. Só assim posso dar mais de mim às minhas equipas e potenciar novas ideias. Desafiamos a nossa mente quando somos confrontados com arte, cultura, cinema, quando estamos livres de preocupações, quando estamos mais despertos para aquilo que acontece ao nosso redor, e as férias são um bom período para isso. Por isso, quando regresso em setembro venho sempre com novas ideias e objetivos que quero cumprir, venho com uma imensa vontade de mudar e desafiar as pessoas com quem trabalho e a mim mesma. Quero transmitir-lhes a confiança e a emoção que tenho pela área da educação.
No mês de junho tive a oportunidade de estar em mais um encontro anual da Associação das Universidades de Língua Portuguesa – AULP – que aconteceu no Rio de Janeiro, cujo tema foi “Migrações, Desigualdades e Desenvolvimento Sustentável” e no qual vou refletir também nas minhas férias. Porque estes encontros são importantes para que possamos pensar sobre uma série de questões na área em que trabalho e constituem uma excelente oportunidade para pensar naquilo que conquistámos, para onde estamos a caminhar e para onde efetivamente queremos ir. E este “para onde queremos ir” é sempre mutável, ele vai sendo aprimorado e ajustado em função do presente e das ideias e objetivos que vamos tendo.
Sempre soube para onde quis ir, sempre soube que a minha missão de vida era a educação, que tinha de seguir o legado que é me deixado pelo meu pai, o Professor Doutor Manuel de Almeida Damásio. Esta ida ao Brasil tornou-se ainda mais especial, pois tive a oportunidade de visitar um dos polos da Universidade Lusófona que fica situado na Comunidade de São Gonçalo e que funciona em regime pós-laboral, pois de dia é um colégio, o Colégio Paraíso, também pertencente ao Grupo Lusófona.
Esta visita, por coincidência, ou não, aconteceu no dia em que completei 54 anos de idade. Quando entrei dentro do edifício percebi o que o meu pai idealizou para o Grupo Lusófona, ele sabe bem qual o caminho que quer seguir, ele sabe qual a função da educação: contribuir para a criação de uma sociedade mais justa e igualitária. Emocionei-me ao ver aquelas crianças ali e o orgulho que tinham em pertencer àquele colégio, pois sabiam a oportunidade única que era ali estar. Emocionei-me ao ver a função que aquele colégio e universidade cumprem naquela localidade em particular. Emocionei-me ao perceber que tal como o meu pai, eu também tenho este gene de através da educação tentar tornar a vida dos outros mais fácil.
Quando cheguei à Universidade de S. Gonçalo lembrei-me de imediato da Universidade Lusófona da Guiné-Bissau, pois também ela cumpre um grande propósito no país. Para mim, aquela universidade deve ser um projeto de vida para os alunos que a escolhem e deve contribuir para a criação de Capital Humano que será, consequentemente, retido no país e de preferência em setores chave para a economia.
Num dos artigos que apresentei na AULP abordei o trabalho exemplar que temos vindo a desenvolver na Guiné-Bissau na nossa Universidade que foi fundada a 14 de novembro de 2008. Como sabem, o país apresenta uma riqueza da biodiversidade como resultado da sua localização costeira privilegiada. Os seus recursos naturais são únicos e a Universidade Lusófona disponibiliza uma série de cursos que vão ao encontro das necessidades do país de forma a potenciá-los. Na Guiné-Bissau existem apenas 11% de cursos científicos e tecnológicos na área do ensino superior e um curso ligado à área agrícola, pescas e à indústria extrativa, comprovando que a oferta curricular não se encontra ajustada às reais necessidades do mercado (Lundy, 2018). Não é por acaso que um dos cursos de maior prestígio é o de Ciências do Mar e do Ambiente (CMA) que tem sido uma fonte de dinamização de conhecimento e tem tido um notório reconhecimento a nível internacional através da elaboração de diferentes projetos europeus relacionados com a área de estudo.
Neste mesmo encontro anual apresentámos na Assembleia Geral da AULP a proposta para que, em 2027, seja a Universidade Lusófona da Guiné-Bissau a anfitriã para receber todos os seus parceiros com o objetivo de dar a conhecer o melhor que o país tem para oferecer. A começar pela sua riqueza paisagística, que encontra o seu expoente máximo no arquipélago dos Bijagós, que, desde 1996, é protegido pela UNESCO devido ao reconhecimento como Reserva da Biosfera, não descurando a diversidade cultural e a hospitalidade da população. Tenho desenvolvido um grande projeto na Guiné-Bissau e o país têm-me retribuído em dobro aquilo que ofereço. Tem-me mostrado que estou no caminho certo e que a educação tem o poder de transformar a sociedade.
E regressando ao tema das férias começam, como todos os anos, impreterivelmente no dia 1 de agosto. Este ano, mais do que nunca vou reconfortada e com a convicção de que estou no caminho certo e a viver a vida que sempre escolhi, em prol dos outros, em prol do bem comum, em prol da educação. Este é o projeto de vida que me faz uma mulher mais feliz e completa. Obrigada por confiar no nosso Grupo, obrigado por fazer parte deste que é um projeto que tanto nos enobrece, o Ensino Lusófona. E claro, boas férias!
Lundy, B. (2018). Rubuilding Tertiary Education in Guinea-Bissau: Can it be done? Forum for International Research in Education. Vol (4), Iss. 3, pp. 169-190.