Opinião
O velho normal quer voltar do pré-digital
Durante a pandemia ouvimos várias vezes a referência “ao novo normal”! Novos hábitos de interação e de gestão foram adotados pelas empresas, baseadas em plataformas tecnológicas, para manterem as suas operações ativas.
Quiseram chamar transformação digital ao facto de as empresas “terem as suas equipas em teletrabalho”. Na realidade, aquelas que apenas usaram 2019 e 2020 para teletrabalho, fizeram “apenas” relocalização de postos de trabalho temporário. Em sentido pragmático, é o equivalente a que a empresa tivesse feito obras no escritório e pediram às pessoas que durante esse período fossem trabalhar a partir de casa.
Transformação digital é mudar processos e não “injetar” tecnologia nas empresas. As empresas que entenderam isso, têm uma grande oportunidade de se transformarem digitalmente, tornando-se mais competitivas e mais eficientes, mudando a forma como trabalham e interagem com os seus clientes, colaboradores e parceiros. Aquelas que de facto fizerem a transformação dos seus processos terão certamente ganhos no médio prazo.
O risco ao nível empresarial é para aquelas que apenas ficaram “pela rama” e, na fase pandémica, mandaram as pessoas para casa acederem às aplicações, mantendo a atividade como sempre fizeram.
Querem voltar a 2019, colocando tudo como antes!
Voltando ao pica-ponto das 9h às 18h. Ficando felizes por verem de novo o “escritório cheio” diariamente e as equipas sentadas nos seus postos de trabalho “habituais”.
O risco para muitas empresas é que achem mesmo que o novo normal volta a ser o antigo normal. Se o fizerem, vão perceber muito em breve que 2019 ficou lá atrás.
A pandemia trouxe para já apenas uma aceleração de hábitos de relação, os quais são importantes de adequar nos processos das organizações. Estes hábitos de relação com clientes, parceiros/fornecedores e colaboradores irão ter um impacto no médio prazo na nova realidade humana e empresarial.
- Relação mais forte com os clientes, uma vez que o cliente procura essencialmente o resultado de um produto e serviço, através de uma experiência imersiva que lhe seja o mais conveniente possível, no momento em que precisar e no local onde ele estiver e não onde a empresa está.
- Relação mais eficiente com os parceiros e fornecedores, que procuram racionalidade e objetividade nos negócios. Uma negociação pode ter um envolvimento pessoal e físico (não obrigatório), com um olhar real de pessoas e para pessoas, capazes de criar a confiança, mas a atividade operacional das transações diárias deixa de ter essa necessidade. As relações operacionais passarão a ser muito mais eficientes e mensuráveis se forem digitais.
- Relação de envolvimento e qualidade com os colaboradores. Sendo fundamental uma base presencial, capaz de garantir alinhamento e cultura, é também importante garantir que os modelos de gestão e de relação com as equipas funcionem por objetivos e não por tempo “sentado na cadeira de escritório”. O equilíbrio família-trabalho é muito mais agilizado e de qualidade, se se conseguir a entrega do objetivo na data ‘X’ e com a qualidade ‘Y’, independentemente do horário em que o colaborador trabalha. Acima de tudo, mudar de uma cultura de paternidade (alguém que gosta de ter o seu filho ‘ali’) para uma cultura de responsabilidade (garantia de autonomia e entrega). Tal, só é possível, se se mudar o processo de relação que a empresa tem com as suas equipas.
O tempo não pára! E aqueles que queiram voltar aos processos e hábitos de início de 2019, vão entender certamente num futuro próximo que já estamos em 2022 e que há uma concorrência que já atua como se estivesse em 2025. Ou seja, uma concorrência mais ágil, eficiente e certamente com vantagem competitiva e maior sucesso no mercado.