Opinião
O desafio do Retalho
Os últimos dois anos tiveram um impacto muito significativo em vários aspetos da nossa vida, sobre os quais já muito foi escrito. Apesar de estarmos num período de alguma incerteza, em particular em alguns países europeus, a verdade é que tudo isto passará e ficaremos a braços com os resultados de uma pandemia num mundo que terá de aprender a lidar com uma doença endémica (como tantas outras).
Ninguém pode afirmar como estaremos daqui a um ano, isso já ficou claro para todos depois de todas as mudanças que sofremos em ritmo “montanha-russa”, mas uma coisa é clara: os padrões de comportamento das pessoas mudaram e todas as indústrias terão de se adaptar a quem nós, enquanto indivíduos, nos tornámos.
O Retalho, em particular, tem vários desafios à sua medida. Senão, vejamos:
- O trabalho remoto, forçado durante um período, criou espaço para modelos de trabalho híbridos em muitas realidades. Isto significa que muitas pessoas diminuirão o número de vezes que saem de casa para se deslocarem ao escritório.
- Os transportes estavam dimensionados para um determinado fluxo de pessoas em horas específicas do dia. Neste momento, esses fluxos estão a ser impactados por diferentes movimentos e, além disso, há muitas pessoas que hoje em dia preferem deslocar-se em veículo próprio nas vezes que vão ao escritório – o que reduz a carga nos transportes e aumenta o trânsito.
- A educação sofreu mudanças irreversíveis – algumas das quais até já deveriam ter acontecido há mais tempo. Facto é que neste momento, pelo menos na teoria, temos escolas, professores e alunos preparados para uma realidade híbrida que lhes permita ficar em casa “by design”, como em algumas universidades, ou sempre que necessário, como em instituições de ensino para os mais jovens.
- As cidades estavam estruturadas de acordo com um fluxo de pessoas que, recorrentemente, se deslocava. Todas as pessoas que se deslocavam para trabalhar, potencialmente deixando os filhos nas escolas pelo caminho, mudaram a sua forma de estar e comportam-se de maneira diferente hoje em dia. Por essa razão, vemos um excesso de oferta a nível urbano de vários retalhistas e um défice em várias das zonas onde aumentou a densidade populacional fruto de algum êxodo das cidades (algo que já tinha acontecido há 100 anos atrás, na última pandemia).
Todas estas situações fazem com que a indústria do Retalho, nos seus vários papéis, tenha em mãos um desafio significativo. Está, neste momento, estruturada e organizada para responder a padrões de comportamento (mencionados acima) que já não se verificam. E, ao contrário de outras indústrias, o Retalho adapta-se a nós e aos nossos comportamentos. Que mudaram. Significativamente.
A tecnologia terá um papel preponderante nesta adaptação, e a forma como a mesma pode ajudar na transformação digital da indústria do Retalho será alvo de um outro artigo, por tudo o que pode implicar. Mas que não restem dúvidas da dimensão do desafio e da urgência em agir para lhe responder – através, entre outras coisas, da Tecnologia.