Opinião

No mundo das Superestrelas…

Pedro Celeste, diretor-geral da PC&A

Quando olhamos para a evolução das marcas que mais se distinguiram nos últimos anos, somos obrigados a constatar que estamos perante uma realidade onde existem empresas superestrelas, comandadas pelos respetivos super empreendedores que lhes deram origem ou força suplementar.

É neste registo se encontram Apple, Google, Microsoft, Amazon e Facebook. O somatório da capitalização bolsista destas cinco marcas equivale a 8,3 biliões de dólares, só superado pelo PIB das duas maiores potências mundiais do momento, EUA e China. E não estamos a considerar nesta equação a importância e dimensão que Alibaba, JD, Wish ou Shein têm no e-commerce mundial, onde agregam centenas de milhões de clientes, sobretudo a Oriente. A propósito, recorde-se que, no que diz respeito ao comércio eletrónico mundial, as empresas chinesas transacionam cerca de três vezes mais volume de negócios que as empresas norte-americanas.

Desde que o mundo tem evoluído e migrado para o mundo digital, com particular incidência a partir do início da pandemia, estas marcas têm conhecido uma evolução estratosférica, apesar da turbulência que tem sido gerada à volta de algumas delas, com particular destaque para o Facebook.

É que o número de clientes que estas empresas servem corresponde a cerca de 65% da população mundial. E se umas representam produtos e serviços, outras preenchem o seu espaço na sociedade como geradoras de conteúdos, formas de comunicação, pesquisa e interação.

É expectável que se vão formando corpos maiores à medida que algumas empresas de segunda linha incorporem a lógica de diversificação destas cinco marcas, passando a fazer parte do seu portefólio, através de processos de aquisição de empresas, ou mesmo fusão. Foi assim que o Facebook integrou o Messenger, WhatsApp ou Instagram; foi assim que a Microsoft integrou o Snapchat e o Skype e tentou o TikTok. Foi assim que a Google comprou o YouTube, Waze, HTC ou a Motorola Mobility; foi assim que a Amazon comprou a Metro-Golden-Mayer (MGM) por 8,5 mil milhões de dólares, quando antes já havia adquirido a Whole Foods por 14 mil milhões de dólares.

Tudo isto foi o passado recente. Adivinha-se um futuro que será ainda mais avassalador e que irá progredir de forma geométrica. O Facebook propõe-se entrar na área da realidade virtual, onde a nova marca Meta (num processo semelhante àquele que levou a Google a criar a Alphabet) promete ser um dos principais protagonistas, com o conceito metaverse.

A Microsoft adquiriu por cerca de 20 mil milhões de dólares a Nuance, com a finalidade de se afirmar na área da inteligência artificial.

A Amazon tem aspirações a liderar diferentes mercados, desde a distribuição na indústria farmacêutica, à exploração espacial, tendo todas as condições para se transformar na maior fintech mundial (neste momento é o Ant Finantial da Alibaba).

A Apple olha para o mercado da realidade aumentada como o futuro da empresa, quando já se conhece a sua ambição na tecnologia automóvel, com a compra da empresa de inteligência artificial especializada em condução autónoma Drive.ai e da chinesa Didi Chuxing (“Uber chinesa”), onde investiu 1.000 milhões de dólares e que tem cerca de 500 milhões de clientes, prometendo manter uma média de aquisições de uma empresa por mês.

E que dizer da Google, que aspira constituir-se como o ambiente online 24/7, não importando quem somos, o que fazemos ou o que queremos procurar, seja através de Android, Chromebooks, Smartwatch ou Google Home ao mesmo tempo que se projeta como a plataforma de eleição da Uber, Netflix ou Candy Crush?

Por falar em Google, é muito provável que seja aquela que reúne mais condições para integrar dentro do seu portefólio de negócios uma outra grande marca e alargar o âmbito da sua oferta, uma vez que também tem grandes aspirações a dominar toda a indústria de hardware, competindo com a Apple e com a Samsung.

Todos parecem querer tudo, prometendo entrar nas áreas vizinhas, onde vão encontrar algumas das outras quatro marcas. E a única certeza que podemos ter é que a distância que as separa dos PIB’s dos dois maiores países do mundo se vai desvanecer, dando lugar a um ainda maior protagonismo destas Superestrelas: que se confrontam a nascente e poente!

É verdade que este domínio mundial gera um poder imenso, sendo potencialmente perigoso quanto à proteção da nossa individualidade e segurança. Nesse caso teremos uma Supernova. Mas também é verdade que somos livres de sermos seus clientes/utilizadores ou de os rejeitar. Vai predominando a vontade de ficar!

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Pedro Celeste

Pedro Celeste

Doutorado em Gestão pela Universidade Complutense de Madrid. Diplomado pelo INSEAD, London Business School, Wharton School, University of Virginia, MIT Management Sloan Management School, Harvard Business School, Imperial College of London, Kellogg School of Management de Chicago e IESE Business School. Na Católica Lisbon School of Business & Economics é Diretor Académico dos Executive Master in Management e coordenador do Programa Avançado de Marketing para Executivos, do Programa de Gestão Comercial e Vendas, do Programa de Gestão em Marketing Digital... Ler Mais..

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