Entrevista/ “Muitos sonham mas poucos fazem”

É frequente conhecer pessoas que me dizem que gostariam de ter um negócio próprio. Sonham com a independência financeira que um negócio pode trazer. Sonham com a possibilidade de escolherem quando e onde trabalhar. Sonham com poder decidir sobre a sua vida como bem entenderem, sem ter de dar satisfações a outros.
Sonham, mas poucos fazem. Poucos avançam para a criação do seu negócio. Nos Estados Unidas chama-se a estas pessoas os “wannapreneurs”. São os que gostariam (“wanna”) de ser empreendedores (“preneurs”), mas que ficam pelo “gostariam”. Cá, e também lá, são muitas as pessoas que vivem com este desejo mas sem nunca o conseguirem concretizar.
Nos útimos meses tenho dedicado especial atenção a estudar as razões do “wannapreneurship” e, mais interessante, como ajudar as pessoas a ultrapassar os obstáculos que as impedem de avançar. Com a ajuda dos meus alunos, colegas e amigos foi possível identificar, após entrevistar mais de 50 “wannapreneurs”, os principais obstáculos que levam tantos a não concretizar o sonho de um negócio próprio. Das várias razões que foram referidas irei neste artigo abordar três:
(1) tenho medo de fracassar;
(2) é muito complicado, demasiada burocracia;
(3) não posso deixar o meu emprego atual, preciso do salário para fazer frente aos meus compromissos.
Podiamos analisar com detalhe cada uma destas razões e, provavelmente, demonstrar que a dimensão destes obstáculos é menor do que parece. Mas há um outro caminho que podemos seguir se quisermos ajudar os “wannapreneurs” e serem “entrepreneurs”. Esse caminho consiste em reduzir efetivamente cada um destes obstáculos.
Existem pelo menos duas formas de reduzir o medo de fracassar. A primeira é aumentar a probabilidade de um negócio próprio ter sucesso, o que acredito ser possível criando negócios previamente validados, ou seja, negócios que já foram testados no mercado e que demonstraram ser rentáveis.
A segunda é reduzir as consequências do fracasso, assegurando que no caso do negócio não ser sustentável que os custos de o fechar são nulos ou muito reduzidos, tanto em termos financeiros como em termos sociais. No fundo, trata-se de transformar a criação de um negócio numa experiência, que como todas as experiências têm um princípio, um durante e um fim, sendo o resultado principal a aprendizagem que resulta de uma nova vivência e da realização de um sonho. Done, checkmark!
No que respeita à complexidade e burocracia, uma forma de reduzir ambas é não obrigar a criar uma empresa por quem queira ter um negócio. Embora hoje o processo de criação de uma empresa seja em Portugal muito mais fácil do que quando eu criei a minha primeira há mais de 30 anos, ainda assim implica diversos trâmites legais, formais e fiscais que assustam os menos conhecedores. Porque não disponibilizar às pessoas que queiram experimentar ter um negócio próprio uma plataforma de serviços que lhes assegure, entre outras coisas, a emissão de faturas, cobranças, recebimentos e pagamento dos impostos?
Nos últimos anos assistimos a um fenómeno novo. O aparecimento dos “side-projects” que consistem em ter um negócio próprio em paralelo a um emprego. Hoje é possível lançar um negócio, dedicando apenas algumas horas por semana ao seu desenvolvimento, e assim conseguir conciliar uma atividade empreendedora com um emprego. Para mim, os “side-projects” são a melhor forma de fomentar o empreendedorismo junto de pessoas que não podem deixar de receber os seus salários no final de cada mês.
Existem outros obstáculos referidos nas entrevistas como, por exemplo, ser preciso muito dinheiro para financiar o arranque e não saberem como se faz. Estou empenhado em continuar na descoberta de uma forma de ajudar as muitas pessoas que gostariam de ter um negócio próprio mas que ainda não conseguiram concretizar o seu sonho. E quem sabe, talvez este seja o meu “grande sonho.”