Opinião
Mudey acredita que o futuro dos seguros se escreve nos canais digitais

Com pouco mais de cinco meses de atividade, a insurtech portuguesa Mudey tem uma solução inteiramente online de compra e gestão de seguros. Ana Teixeira, cofundadora, explicou ao Link To Leaders o que caracteriza o seu projeto e analisou a trajetória do mercado segurador para o digital.
A Mudey é uma start-up portuguesa que chegou ao mercado em julho deste ano com uma plataforma de compra e gestão de seguros, 100% digital, gratuita, e que, através de inteligência artificial, descomplica o processo de compra e gestão de seguros e permite avaliar as diferentes soluções de mercado e contratar os seguros pretendidos. Atingir os cinco mil utilizadores até ao final do primeiro ano de atividade é a meta que esta insurtech quer alcançar. A ambição de internacionalizar o conceito também está no horizonte.
Ana Teixeira, profissional com mais de 10 anos de experiência na distribuição de seguros digitais em projetos pilotos no Reino Unido e em França, é a cofundadora da Mudey e revelou ao Link To Leaders alguns dos objetivos para o projeto, além de analisar o impacto da digitalização no setor segurador tradicional.
A Mudey assume-se como um mediador de seguros 100% digital. O que vos distingue no setor das insurtechs?
Em primeiro lugar, distinguimo-nos pela adoção de uma completa desmaterialização dos processos, que permite ao utilizador autonomia e total controlo do processo de compra e gestão dos seus seguros. Utilizamos uma fórmula que, através de inteligência artificial, permite simular, comparar, comprar e gerir diferentes tipos de seguros e de várias seguradoras. Contribuindo, dessa forma, para a tomada de decisões informadas pelos nossos utilizadores, no seu próprio tempo, em qualquer lugar, de uma forma simples, intuitiva e transparente.
Por outro lado, a Mudey consegue diferenciar-se pelo portefólio alargado de seguros, em que é possível simular, comparar, comprar e gerir, de forma automática e 100% digital. De momento, são 11: vida, saúde, viagem, acidentes pessoais, bicicleta, trotinete, drones, crianças, família, dentário e empregada doméstica. No caso do seguro de vida, somos pioneiros: somos a primeira em Portugal onde é possível adquirir um seguro de vida de forma 100% digital.
Por fim, na área pessoal de cada utilizador – a Wallet Mudey – disponibilizamos, de momento, quatro serviços gratuitos, no que à gestão de seguros diz respeito: um local único para centralizar e gerir os seguros (o utilizador sabe, em tempo real, quais os seguros contratualizados, quais as seguradoras associadas, qual o preço e periodicidade de pagamento, qual a data de renovação, etc); um local para armazenar e centralizar a documentação, em formato digital; um serviço de mediação personalizada e pesquisa de mercado consoante as suas necessidades, interesses, ocupação profissional e até hobbies; serviços inteligentes de gestão de renovações.
“(…) o digital já ocupa um papel fundamental nas nossas vidas, e o setor dos seguros não é exceção”.
A desmaterialização de processos é o futuro no setor segurador? O setor tradicional vai morrer ou a coexistência com o digital é o caminho?
Acreditamos que o futuro se escreve nos canais digitais. É para lá que caminhamos, inevitavelmente e de forma bastante natural. No mundo atual, o digital já ocupa um papel fundamental nas nossas vidas, e o setor dos seguros não é exceção.
É nossa convicção que existirá espaço para os dois tipos de modelos, coexistindo um com o outro, pelo simples facto de que continuarão a existir consumidores que, por uma razão ou por outra, se revêm mais no modelo tradicional. No entanto, essa coexistência implicará certamente uma adaptação do setor mais tradicional a esta nova realidade, e conduzirá a uma distribuição diferente da relevância dos dois modelos, distinta da atualmente existente.
Como tem sido a recetividade dos clientes à vossa abordagem 100% digital? Os clientes/utilizadores portugueses já estão preparados para esta realidade?
É importante mencionar que, até ao momento, dos mais de 1.500 utilizadores que já utilizam a nossa plataforma, todos eles são portugueses. Quanto à recetividade do digital, diríamos que se trata de um processo gradual e de educação do consumidor a esta nova forma de se fazerem as coisas. A grande vantagem da compra online é que permite que o utilizador seja autónomo, ao seu próprio ritmo. Mas para nós, em simultâneo, é importantíssimo que exista sempre um canal de comunicação aberto, pronto a apoiar o utilizador em qualquer parte do processo. Através do chat online ou de um e-mail, oferecemos uma rede de segurança para qualquer eventualidade.
De facto, conseguimos perceber que, por um lado, temos utilizadores que se registam e compram um seguro em 10 minutos. Já outras pessoas, não dispensam o contacto contínuo, através do chat de conversação, ao longo da sua navegação. Mas em qualquer um dos casos, acreditamos que o facto de estar alguém disponível para esclarecer uma qualquer questão, gera uma sensação de segurança e confiança imprescindível para uma compra online.
Qual o target do projeto?
A Mudey é pensada para todos os consumidores que procurem uma solução, simples, acessível, transparente e personalizada para comprarem e gerirem os seus seguros. De forma 100% digital.
O projeto Mudey ainda está na sua fase de arranque. Quais as expetativas?
A nossa prioridade, neste momento, é afirmar a Mudey no mercado nacional. Desde o lançamento da plataforma, em julho de 2020, já contamos com 1.500 utilizadores, todos eles portugueses, o que consideramos bastante positivo. Temos como meta os 5.000 utilizadores até ao final do primeiro ano de atividade.
Vamos continuar a desenvolver a nossa plataforma, disponibilizando novos produtos com compra 100% digital, bem como novos serviços na Wallet Mudey. Temos ainda a ambição de internacionalizar o conceito para os mercados da América do Sul e Estados Unidos da América, onde temos já contactos pré-estabelecidos.
“(…) a importância e a mais-valia de um seguro se aplica tanto em tempo de pandemia, como noutra fase qualquer”.
Nesta fase de pandemia, com tantos e novos imponderáveis na vida das pessoas, que sugestões dá às empresas e aos cidadãos em matérias de seguros?
Antes de mais, diria que a importância e a mais-valia de um seguro se aplica tanto em tempo de pandemia, como noutra fase qualquer. Tanto para empresas como para os cidadãos, partilho duas dicas/sugestões em matéria de seguros. Primeiro, devem ter total conhecimento dos seguros que já possuem. Saber de que forma é que os protegem, o que é que cobrem, se são adequados ao seu perfil, à sua profissão, às suas necessidades… No fundo, se estão adaptados à sua realidade, que se altera ao longo da sua vida. Apenas com este conhecimento têm o poder de tomar decisões informadas, e ter o seguro certo para quando é preciso.
Depois devem comprar os seguros quando não são necessários. É importante alterar-se o modo como se encaram os seguros e considerá-los como uma garantia de proteção e, como tal, um investimento. De facto, o contexto da pandemia trouxe um novo alerta a esta questão da prevenção. Damos mais valor à nossa família, à nossa saúde, sabemos que a nossa situação profissional pode alterar-se a qualquer momento. Neste sentido, adquirir um seguro traz uma garantia de conforto.
Quais as áreas seguradoras que considera mais prementes atualmente? Vida? Lar, Automóvel …?
De uma forma mais genérica e lógica temos de mencionar aqueles que, por lei ou por obrigações contratuais, são obrigatórios, como é exemplo o seguro automóvel ou o seguro de vida associado ao crédito de habitação.
Já por outro lado, destacamos os seguros relacionados com proteção pessoal e proteção daqueles que nos são mais próximos, por uma questão de prevenção, conforto e garantia para o futuro. Seguro de vida, seguro de saúde, de crianças, de família, são os que consideramos mais prementes.
Sendo a Mudey uma plataforma gratuita, qual o vosso modelo de negócio?
A utilização da plataforma Mudey é totalmente gratuita para o utilizador. Recebemos, por parte das seguradoras, uma comissão por cada seguro vendido
A internacionalização do conceito para mercados alvo, como América Latina e EUA, já faz parte dos vossos objetivos. Como tencionam fazê-lo sendo que em muitos países a oferta neste setor já é significativa?
Dependerá de país para país e das parcerias que estabelecermos, a forma como vamos entrar nesses mercados.
Quais os mercados prioritários para concretizarem as vossas ambições de expansão?
Os prioritários são a América Latina e os Estados Unidos da América.
Já fizeram um ronda de investimento inicial, de 720 mil euros… para quando a próxima?
Prevemos uma nova ronda para 2021.
Quem são os vossos investidores atuais?
São investidores privados, business angels.