Opinião
Gerações
Há, talvez desde que o humano teve consciência de si próprio e da vida em comunidade, uma questão geracional. Aqueles que um dia foram jovens, à medida que vão envelhecendo vão-se tornando mais conservadores, menos propensos ao risco e às mudanças e, inevitavelmente, um dia afirmam, mais ou menos explicitamente, que “no meu tempo é que era bom! Isto agora é uma desgraça!”
Não é verdade! Os tempos actuais não são uma desgraça, nem as (novas) gerações estão perdidas! Bem pelo contrário, as gerações que vivem o tempo presente são em media melhor preparadas e mais interessadas na sua vida, nas suas comunidades e na sociedade em geral.
Há medida que eu próprio vou ficando menos jovem acredito menos em generalizações, em “dramas civilizacionais” tantas vezes propagados por media reféns de uma pseudo-elite que fala muito mais entre si do que para as pessoas em geral. A vida “on-line” que hoje nos é permitida pelos incríveis avanços tecnológicos que vimos vivenciando, com tudo de bom e mau que que lhes estão associados, leva a histerismos instantâneos, a “causas fracturantes” e indignações selectivas, “incendiando a internet” sem que na verdade nada se incendeie nem nada mude no essencial da vida das pessoas.
Somos o corolário de múltiplos interesses, cada dia mais difíceis de catalogar numa única categoria. Somos humanos, possuidores de virtudes e defeitos, uns dias alegres e felizes outros irritáveis e irritantes. Somos novos e velhos, independentemente da idade. Pertencemos a grupos diferentes, muitas vezes sem nos darmos conta. Somos o passado, somos o presente, somos o futuro. A melhoria generalizada da saúde e do aumento da esperança média de vida, o acesso facilitado à tecnologia e a soluções facilitadoras do dia a dia e do contacto com “o outro”, faz com que a questão geracional se vá esbatendo. Está e estará presente sempre, mais não seja porque há motivações e capacidades diferentes em função da idade e da frescura física e mental que à mesma está associada. Mas o discurso de que o tempo actual é hoje dos adultos e será amanhã dos jovens muitas vezes serve apenas quem o profere. O tempo actual é de todos os que hoje o vivem, jovens, adultos ou velhos, como o futuro será de quem o viver e nele tiver impacto.
No fundo, por muitas voltas que o mundo dê, as grandes questões foram, são e serão sempre as mesmas, entre outras a liberdade vs servidão, a verdade vs mentira, a ética e o caracter vs falta deles, a riqueza vs pobreza, a paz vs guerra, a saúde vs doença… a vida vs morte.
Há uma questão que ao longo dos tempos sempre teve, tem e terá, impacto brutal nas nossas vidas e nas grandes questões que a guiam, a do grau de liberdade com que a vivemos. Esta questão, infelizmente e independentemente das gerações que “fazem” o mundo actual, é uma questão a que devíamos dedicar atenção. E não dedicamos. E por isso pagamos um preço, cada vez mais elevado.
Vale a pena repetir um principio caro à economia, o do Custo de Oportunidade, de que sempre que tomamos uma decisão (pior quando alguém a toma por nós!) e dela obtemos ou julgamos obter um determinado benefício, estamos a renunciar à melhor opção alternativa possível não realizada. De uma forma simples, quando o Estado toma uma decisão fá-lo com o nosso dinheiro. Dinheiro que nos retirou em impostos arrecadados ou nos retirará via impostos futuros, que pagamos ou pagaremos para saldar dívidas contraídas em nosso nome, mas nem sempre em nosso benefício. Devíamos fazer a pergunta de quanto nos custa cada “investimento” do Estado em qualquer área da sua (quase) infinita intervenção. Se esse dinheiro está a ser melhor utilizado do que seria se fossemos nós, cidadãos, a aplicá-lo. Se fizéssemos essa pergunta, chegaríamos muitas vezes à conclusão que seria muito melhor se aplicado por nós, com maior impacto na nossa vida e na vida da nossa comunidade.
Não devíamos esquecer, nunca, que o Estado impacta profundamente na nossa vida, muitas vezes negativamente. E que sempre que o faz, fá-lo com o nosso dinheiro. Sim, o nosso!
Nota: Este artigo segue a antiga ortografia por vontade expressa do seu autor.