Opinião
Melhorar a atenção médica dos cidadãos na Índia

Sou levado a pensar que os países ricos, quase sem esforço de preparação fina dos seus recursos humanos, quando veem necessidades pontuais resolvem-nas dando mais vistos de trabalho aos profissionais necessitados de outros países do Terceiro Mundo, cobrindo assim a sua lacuna.
Parece interessante, mas não passa de uma profunda injustiça que os países ricos cometem, afundando ainda mais os países pobres, depois de os ter explorado na sua colonização.
Pensando um pouco e com toda a serenidade, as grandes fontes de pobreza e miséria no nosso mundo vêm das fortes tempestades sociais e económicas criadas pelos países colonizadores nos países que eles iam gradualmente dominando, por terem melhores armas e talvez também uma maior coesão, em boa medida fortalecida pelo passado de pirataria, que faltava muito aos países dominados. Com a dominação, aprovaram-se um conjunto de leis votadas nos seus parlamentos, para lhes dar aparência de legalidade, ou de democraticidade, como hoje se faz com o aborto ou a eutanásia, esquecendo-se que os representantes do povo não podem pronunciar-se sobre o direito à vida, que é inalienável.
Mais: eles reduziram os colonizados à escravidão, com argumentos sem sentido, como a cor da pele ou outros, que apenas serviam para serem ainda mais explorados pelo colonizador. Esta loucura da escravatura terá sido das mais abjetas, com consequências difíceis de ultrapassar, dada a sua profunda penetração e a desorganização social daí resultante.
E aquela exploração continua hoje sob aparências mais sofisticados: os trabalhadores intelectuais, estão desejosos de sair do seu país, onde reina a desorganização, própria dos países colonizados. Eles podem trabalhar melhor e render mais num país desenvolvido…e organizado. Assim, logo ao apresentar-se a possibilidade, os candidatos aparecem sem demora.
Os países mais desenvolvidos deveriam pensar no que lhes custaria formar os profissionais que vão chamando, de forma quase imediata. Fossem eles a formar, para além dos custos diretos da sua formação, haveria que esperar ainda uns bons seis ou sete anos para ter médicos e engenheiros aptos para o exercício profissional. Bom seria que pelo menos todo este custo acumulado pudesse ser revertido para o país pobre donde veio o médico ou engenheiro, para apoiar o sistema educativo donde foram roubar o profissional pronto para o trabalho.
Esta longa introdução vem a propósito de que a Índia tem atualmente 612 Medical Colleges onde, em cada ano, podem entrar 92 mil alunos, após um exame de seleção uniforme para todos eles. “É necessário um número tão elevado de médicos na Índia?” Sim, porque a OMS preconiza no mínimo 1 médico por mil habitantes e a Índia está a esforçar-se por corresponder, tendo até à data um pouco menos do que o valor desejado. Além disso, os médicos da Índia estão quase todos nos países de língua inglesa, onde eles se adaptam com toda a facilidade. De facto, na Índia, trata-se de formar médicos para as suas necessidades internas e para complementar as necessidades dos outros, como os EUA, Reino Unido, Austrália, Canadá, etc.
Nos EUA, em 2019, haveria cerca de 938.980 médicos ativos; os de origem e formação indiana contavam para 29,5% do total da população de médicos, o que é um número que espanta. Lia há pouco que 25% dos médicos do NHS – National Health Service britânico eram de origem indiana e formados na Índia. De acordo com a WHO-World Health Organization, os médicos formados na Índia constituem 9%de todos os médicos registados no Reino Unido e formam o maior grupo de médicos formados no estrangeiro.
De acordo com uma Associação de médicos de origem indiana, há mais de 50 mil médicos que servem metade da população do Reino Unido. Na Austrália, em cada cinco médicos um é indiano. No Canadá é um em cada 10.
Todas essas necessidades levaram a aumentar drasticamente o número de Faculdades de Medicina na Índia. Havia 335 Medical Colleges, 181 privados e 154 do Estado, por volta de 2010. Hoje já alcançam o número de 612, recebendo 92 mil alunos em cada ano.
Importa muito que o aumento de Faculdades vá sendo acompanhado de uma boa qualidade de ensino teórico e boas práticas hospitalares como estão estipuladas, para que os médicos prestem um serviço de alto valor.
Nunca ninguém está formado na perfeição e, ao longo de toda a vida médica, ele vai aprendendo da sua reflexão, das leituras que faz e também da troca de impressões com os seus colegas mais sabedores e experimentados. Essa, sim é uma boa fonte de aperfeiçoamento da qualidade do exercício profissional.
*Professor da AESE-Business School, do IIM Rohtak (Índia) e autor do livro “O Despertar da Índia”