Opinião

Fibrenamics, a plataforma que quer levar a ciência à sociedade

Fernando Cunha, diretor executivo da Fibrenamics

Plataforma internacional com uma equipa multidisciplinar de investigadores que desenvolve produtos inovadores com base em fibras. Esta é a Fibrenamics, uma start-up integrada na Universidade do Minho que já está a dar cartas em vários setores de atividade. O diretor executivo, Fernando Cunha, explicou ao Link To Leaders a estratégia de crescimento do projeto.

Criada no seio da Universidade do Minho, a Fibrenamics saltou para a ribalta em 2011 no âmbito do programa Ciência Viva e desde então o percurso tem sido de crescimento. Alicerçada numa equipa multidisciplinar, com áreas científicas que vão desde uma multiplicidade de engenharias (Têxtil, Civil, Polímeros, Biomédica, Mecânica, Materiais, Química, Eletrónica, etc.) até às ciências humanas e da comunicação, a Fibrenamics possui 45 patentes, mais de 750 artigos publicados em conferências e revistas científicas, e mais de 50 produtos desenvolvidos conjuntamente com agentes industriais. Já ganhou um prémio Inovação da NOS e tem projetos implementados pelo Ministério da Defesa e pela Seleção Nacional de Futebol, entre outros.

Ao Link To Leaders, Fernando Cunha, profissional que está ligado à Fibrenamics desde a primeira hora e que atualmente assume a direção executiva, traçou o percurso do projeto, as dores de crescimento e as ambições de expansão e de internacionalização.

O que é a Fibrenamics e como surgiu?
A Fibrenamics é uma plataforma internacional e multidisciplinar para o desenvolvimento de produtos inovadores com base em fibras e materiais compósitos. A plataforma tem como grande objetivo levar a ciência até à sociedade, desenvolvendo a sua atividade a quatro níveis: Intelligence, Science, Technology e Business.

A Fibrenamics teve a sua afirmação em 2011 no âmbito do programa Ciência Viva que se apresentou com o objetivo de desenvolver conteúdos para a divulgação, nos media, sobre os últimos progressos na área dos materiais à base de fibras, bem como o de levar o extraordinário mundo das fibras até às escolas básicas e secundárias nacionais.

Os excelentes resultados do projeto – que incluiu a produção de uma série documental exibida na RTP2 – permitiram a evolução da plataforma no sentido daquilo que é hoje: o agregador de todos os que acreditam que o futuro está cheio de fibra e um dinamizador do desenvolvimento de produtos inovadores através do fomento da relação universidade-empresa.

Qual a relação da Fibrenamics com a Universidade do Minho?
A Universidade do Minho é a casa mãe da Fibrenamics, sendo que existe uma forte ligação entre ambos e uma forte partilha de competências e recursos.

Quais foram os grandes desafios que encontraram pelo caminho?
Desde a criação até ao momento os desafios verificados foram diversos e a vários níveis. No início sentiu-se a necessidade de aproximar o tecido económico dos centros do saber como são as Universidades. Depois deste tecido empresarial mobilizado era necessário demonstrar que o desenvolvimento e conversão de ciência em produtos inovadores era algo alcançável para estas empresas. Falamos então da transferência de conhecimento para a sociedade.

Nos dias de hoje os desafios ao nível da evolução da ciência e da tecnologia são cada vez mais velozes e o tempo de implementação mais curto, por isso temos de ser capazes de ser cada vez mais ágeis e dinâmicos nesta resposta.

“(…) a Fibrenamics foi recentemente reconhecida pela União Europeia como um caso de sucesso e exemplo de boas-práticas na valorização e transferência de conhecimento”.

O futuro passa por uma mais fácil interação entre a universidade e as empresas? Como vê o papel do Estado a este nível?
Neste momento podemos dizer que a interação Universidade – Empresa já se encontra implementada, com dinâmicas próprias e fluídas. Aliás, a Fibrenamics foi recentemente reconhecida pela União Europeia como um caso de sucesso e exemplo de boas-práticas na valorização e transferência de conhecimento. O Estado, os diversos ministérios e as diversas agências têm ao seu dispor um conjunto de incentivos e medidas que permitem fomentar a transferência de conhecimento e inovação no tecido empresarial, sendo que as empresas têm aproveitado estes incentivos para complementar o seu investimento através, por exemplo, do Portugal 2020.

Como se partilha conhecimento entre os centros de conhecimento e as empresas? Quais os grandes desafios e oportunidades que se colocam nos dias de hoje?
A transferência de conhecimento é um processo através do qual o know-how técnico-científico é transmitido, de forma contínua, aos stakeholders envolvidos. Ou seja, a transferência de conhecimento é uma forma especial de comunicação e interligação em que a mensagem veiculada está associada a um novo conhecimento técnico ou científico.

Este processo inicia-se sempre por uma atividade fulcral para as entidades no setor primário da transferência, normalmente universidades: a vigilância tecnológica ou intelligence. O processo de intelligence tem sido cada vez mais implementado de forma estrutural, durante a última década, nas empresas líderes mundiais (Google, T-Mobile, Apple, Inditex, etc.) sendo assumido como um processo fundamental para a criação de inovação e competitividade.

Um fator crítico de sucesso na transferência de conhecimento é o próprio conhecimento técnico-científico. O processo de transferência de conhecimento científico e tecnológico, muitas vezes realizado diretamente entre os centros tecnológicos e as entidades empresariais, tem apresentado, nos últimos anos, algumas lacunas, quer na sua concretização, quer na sua eficácia.

Um dos aspetos diferenciadores na atuação das plataformas de transferência de conhecimento, inseridas nos contextos universitários, centra-se na introdução na cadeia de valor, de processos de geração e valorização de conhecimento científico que propiciem a disseminação de maior know-how e a geração de maior valor acrescentado, caracterizados na Fibrenamics pelas suas unidades de atuação Science e Technology.

Posteriormente, o trabalho cooperativo em rede coordenado por uma plataforma de transferência de conhecimento científico e tecnológico, surge então para promover o pilar Business. A envolvência de toda a cadeia de valor, e a criação de redes interativas entre diferentes setores de atividade fomentada pelo trabalho cooperativo em rede, é igualmente um fator diferenciador e catalisador do negócio.

“(…) é possível destacar os quatro produtos desenvolvidos em parceria com o Ministério da Defesa:  colete e capacete balísticos, joalheiras e cotoveleiras para proteção ao impacto”.

Quantos produtos desenvolveram até ao momento? Pode destacar alguns?
A Fibrenamics desenvolve a sua atividade de uma forma multissectorial, sendo que, os produtos que desenvolve são igualmente em diversas áreas. Atualmente, conta com mais de 50 produtos desenvolvidos com o tecido económico. Desta forma, é possível destacar os quatro produtos desenvolvidos em parceria com o Ministério da Defesa:  colete e capacete balísticos, joalheiras e cotoveleiras para proteção ao impacto. Estes produtos estão atualmente a ser utilizados em forças militares projetadas em cenários internacionais como o Iraque e República Centro Africana.

Por outro lado, desenvolvemos em parceria com a SIR (Sonae Indústria de Revestimentos) uma nova geração de painéis decorativos com a capacidade de serem Termoldados. Com a empresa Barcelcom desenvolvemos umas peúgas de compressão que tem funcionalidades de terapia e de reabilitação através da eletroestimulação. Esta peúga é utilizada principalmente por atletas e durante o Mundial de Futebol que se realizou na Rússia, foi utilizada por jogadores da seleção nacional durante essa competição. Este produto foi distinguido com o Prémio Inovação NOS.

Em parceria com a MundoTêxtil foi desenvolvida uma nova coleção de felpos inovadores com elevada capacidade de absorção e de libertação de humidade, para as áreas da saúde, desporto e bem-estar. Recentemente desenvolvemos um produto a partir da valorização dos resíduos de EVA para o setor automóvel, proteção pessoal e arquitetura com características de gradiente de propriedades, com a empresa ERT.

Com a empresa IMPETUS, parceiro de longa data da Fibrenamics, desenvolvemos vários produtos inovadores, nomeadamente vestuário interior para incontinentes, sistemas de compressão graduada para correção da postura corporal e, mais recentemente, em fase de conclusão, um pijama para distúrbios do sono, utilizando extratos naturais.

Por fim, gostaria de destacar o desenvolvimento de uma nova geração de materiais compósitos com inclusão de fibras naturais que está a ser potenciado em tabliers de automóveis pela TMG automotive.

Com quantos parceiros conta atualmente a Fibrenamics?
Atualmente contamos com mais de 300 parceiros.

Qual o investimento já realizado nos diversos projetos de I&D da Fibrenamics?
Mais de 25 milhões de euros.

“A plataforma assume-se como um espaço de networking e partilha de conhecimento entre especialistas (…)

Braga era uma cidade muito vocacionada para o comércio e serviços e hoje afirma-se já como um dos concelhos mais exportadores do país. Considera que a Fibrenamics tem contribuído para este cenário?
Sim, de facto esta evolução da região foi, e está a ser sentida, em diversos setores económicos, isto porque as colaborações assentam numa base regular, onde, desta forma, é possível criar não apenas tecnologia, mas também produtos e serviços que fazem toda a diferença na competitividade de uma empresa. Aliás, no último evento que a Fibrenamics promoveu, em novembro passado, foi possível apresentarmos a nova plataforma digital. A plataforma assume-se como um espaço de networking e partilha de conhecimento entre especialistas, onde passaram a estar disponíveis novas ferramentas tecnológicas e um maior número de conteúdos técnicos.

Na sua opinião, quais as tendências que vão moldar o futuro?
As tendências para o futuro vão responder aos desafios societais que atualmente temos pela frente. As tendências incluem a área do desenvolvimento de produtos e processos sustentáveis, cidades sustentáveis, mobilidade urbana, as fábricas do futuro estarem integradas com a indústria 4.0, entre outras.

Faz parte da estratégia da Fibrenamics apostar na internacionalização?
Enquanto uma plataforma internacional de transferência de conhecimento, já se encontra a desenvolver a sua atividade ao nível internacional, destacando-se a partilha de conhecimento em diversos projetos e grupos de trabalho internacionais, quer pelas redes colaborativas COST, quer pelos grupos de trabalho da Agência Europeia de Defesa e da NATO.

Também na dinamização de encontros científicos internacionais como são a conferência ICNF (International Conference on Natural Fibers) na área das fibras naturais, e o AUXDEFENSE na área dos materiais avançados para a defesa. Ao nível do desenvolvimento de produto haverá uma aposta na implementação da nossa metodologia de trabalho em outros países, especialmente fora da Europa.

Como vê o projeto dentro de dois anos?
Nos próximos anos iremos continuar a crescer e Fibrenamics será uma interface de transferência de conhecimento que irá continuar a recriar o futuro na área dos materiais fibrosos e compósitos orientada para uma resposta aos desafios da sociedade, com uma forte componente internacional.

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