Opinião

Mais exits precisam-se!

Francisco Ferreira Pinto, administrador executivo da BusyAngels

Na sequência da divulgação da aquisição da startup biotech Lymphact, uma das participadas da Busy Angels, pela britânica GammaDelta Therapeutics, julgo que é importante destacar a importância que os “exits” (termo normalmente usado para descrever vendas bem sucedidas) têm para todo o ecossistema.

Naturalmente, as entidades diretamente envolvidas são as maiores beneficiárias, mas pensando numa lógica de médio-longo prazo todos os intervenientes do ecossistema, os atuais e os futuros, tiram partido de uma pool de exits relevantes e bem divulgados.

Um exit é o fator último de motivação para investidores, empreendedores, equipas ou políticos. Olhando para o ecossistema empreendedor como uma economia circular, é também a etapa que fecha um ciclo que se pretende virtuoso e que justifica todo o trabalho, suor, esforço e investimento que foram realizados.

Mas a importância de um exit não se limita à compensação financeira, é um garante da sustentabilidade de todo o modelo e do próprio ecossistema.

Enquanto investidor, o exit vai muito para além do retorno financeiro que gera. Permite ter e mostrar track-record, o mesmo tipo de tração e de métricas que muitas vezes pedimos às start-ups para nos apresentarem antes de investirmos. Com esses resultados, o investidor estará numa melhor posição para, por um lado, demonstrar a sua qualidade perante os empreendedores continuando a atrair os melhores projetos e, por outro lado, ter um arsenal mais robusto para convencer outros potenciais investidores privados ou públicos a apostar num setor de alto risco e num estado de maturidade ainda inicial em Portugal, principalmente quando comparado com outras classes de ativos mais tradicionais. Desta forma, e sendo bem-sucedido, o investidor conseguirá atrair mais e novos capitais para o setor, com eles apoiar mais e novas start-ups, e como tal criar mais e novas oportunidades de exit no futuro.

Outro impacto muito relevante de um exit é o efeito que tem nos empreendedores e nas equipas. Primeiro que tudo, é uma prova cabal de que é possível e de que o nível de risco assumido pode realmente ser compensado. O objetivo poderá não ser atingido na primeira tentativa e certamente nem todos o conseguirão, mas ter evidências concretas de que é possível lá chegar em Portugal é um fator crítico de motivação e confiança redobrada na aposta feita. Adicionalmente, irá certamente atrair novos empreendedores a apostar no seu projeto, a decidir arriscar numa nova start-up procurando seguir os bons exemplos. Pelo benchmark de outros mercados, verifica-se ainda que os empreendedores com exits no currículo tendem a querer devolver parte do seu sucesso, seja por via de se tornarem investidores, seja por darem mentoria a outras start-ups, seja por criarem novas start-ups que partem desde o início com uma bagagem e uma experiência diferenciadoras.

Por último, destacaria o efeito positivo dos exits no aumento da credibilidade e confiança no setor em Portugal, o que permite reduzir a perceção de risco global do mercado e, como tal, acabará por atrair mais interesse de outros compradores/investidores internacionais em outras start-ups portuguesas.

Os exits são uma peça essencial para a sustentabilidade do ecossistema empreendedor em Portugal. Apesar de ainda se contar pelos dedos os exits em Portugal, acredito que o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido pelos diferentes players irá de uma forma natural acabar por resultar num mercado de transações mais frequentes e mais consolidado, tendo um efeito benéfico para todos os seus intervenientes.

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Francisco Ferreira Pinto

Francisco Ferreira Pinto

É partner da Bynd Venture Capital, uma venture capital que investe em start-ups tecnológicas de base digital na Ibéria actualmente com mais de 30 empresas no portfólio. É também membro da direção da APBA – Associação Portuguesa de Business Angels. Anteriormente, liderou projectos de consultoria de estratégia e gestão na Deloitte e tem uma licenciatura em Engenharia e Gestão Industrial, pelo Instituto Superior Técnico, e um MBA no Lisbon MBA, da Universidade Nova, Católica e MIT.

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