Femtech expandem-se além das aplicações de fertilidade

Há duas novas tendências no setor das femtech que estão a atrair fundadores e investidores.
Os analistas consideram que o mercado femtech em 2025 poderá valer 48 mil milhões de dólares (44,6 mil milhões de euros), e que o seu espectro de desenvolvimento pode ir além do rastreamento da fertilidade , abrangendo áreas como menopausa, sexo, terapia e amamentação. Porém, e como adianta a Shifted, há duas novas tendências entre as start-ups que se dedicam a responder tecnologicamente às necessidades femininas.
Segundo algumas empreendedoras, como a fundadora da Syrona Women (uma femtech de investigação sobre uma ampla gama de problemas de saúde feminina), os investidores voltam-se agora para a “próxima grande novidade no setor de femtech”. Existem duas áreas que despertam particular atenção: tecnologia para a menopausa e uma síndrome chamada endometriose.
E os exemplos começam a aparecer neste campo, como é o caso da KaNDy Therapeutics, uma start-up que desenvolve um tratamento não hormonal para sintomas da menopausa. O seu maior desafio consiste em superar a ampla falta de conhecimento sobre o quão debilitante é a menopausa para milhões de mulheres. Esta start-up recebeu, em 2018, uma ronda de financiamento série C de 25 milhões de libras (27,1 milhões de euros).
A endometriose é outro dos pontos de interesse das femtech. Trata-se de um problema de saúde que apesar de afetar o mesmo número de pessoas que a diabetes (cerca de uma em cada 10 mulheres), recebe significativamente menos recursos e atenção. Por cada dólar (um euro) aplicado na investigação em endometriose, são investidos 200 dólares (186 euros) na diabetes.
Um número crescente de celebridades falou sobre a sua luta com esta doença (da modelo Alexa Chung à cantora Dolly Parton), o que ajudou a aumentar a consciencialização, mas ainda é uma doença relativamente desconhecida. Logo, uma oportunidade como comprovam o número crescente de investidores atentos às inovações que vão surgindo neste campo.
No ano passado, várias start-ups voltadas para o mercado da endometriose receberam grandes financiamentos em rondas de Série A. Entre eles, a NextGen Jane, que obteve 9 milhões de dólares (8,3 milhões de euros), e a start-up de testes não invasivos DotLab, que levantou 10 milhões de dólares (9,3 milhões de euros) em investidores como a Tiger Global Management.
Novas start-ups como a que desenvolve a aplicação Phendo ou a start-up israelita Gynica, anunciaram que em breve irão iniciar testes para tratamento à base de canabis no recém-licenciado Lumir Lab, também sinal de que os fundadores desejam lançar empresas focadas no tratamento da endometriose. O mercado global de endometriose poderá atingir o valor de 2,3 mil milhões de dólares (2,14 mil milhões de euros) nos próximos cinco anos.
As aplicações de fertilidade também olham para a menopausa
Algumas aplicações de fertilidade – que se dirigem as mulheres de 20 e 30 anos – estão também a redirecionar o foco para o mercado da menopausa. Isto porque o mercado destas aplicações encontra-se muito fragmentado, o que não o torna apetecível para os consumidores que não querem descarregar diferentes apps para serviços semelhantes. Querem sim ter o máximo de informação possível sobre a sua saúde num só local. Assim, a capacidade de agrupar serviços é uma das razões pelas quais muitos investidores acreditam que há muito potencial de crescimento para as start-ups de aplicações de fertilidade ao alargarem o âmbito de ação.
Captar o interesse de investidores do sexo masculino
Habitualmente, um dos entraves para fundadores de start-ups femtech (que procuram solucionar um problema de saúde das mulheres) é o desafio de captar o interesse dos financiadores de capital de risco, que são predominantemente do sexo masculino.
Mas há sinais de mudança, como deixa antever o grande grande número de start-ups de femtech que obtêm financiamento. A start-up Syrona espera fechar uma série A de 3 milhões de libras (3,25 milhões de euros) nos próximos meses e já arrecadou cerca de 1 milhão de libras (1,08 milhões de euros) desde o lançamento em 2017. A Apricity recebeu 8 milhões de euros da Kamet Ventures, apoiada pela AXA, e espera fechar uma série B até ao final do ano.
Crescimento difícil em alguns mercados
O interesse da Europa em femtech variado consoante os países. Há uma maior abertura para falar sobre os problemas de saúde das mulheres no norte da Europa, o que ajudou a centralizar o mercado e a colocar o Reino Unido na linha da frente.
Em declarações à Shifted, Laurence Fontinoy, fundadora da start-up Woom, constata que há falta de competitividade em femtech no sul da Europa. A fundadora considera que a importância de construir uma comunidade é o motivo pelo qual tem sido mais difícil para as start-ups do resto da Europa penetrar em mercados como, por exemplo, o espanhol.
Outra razão pela qual as start-ups de fertilidade estão centralizadas no Reino Unido deve-se ao facto deste mercado ser predominantemente privado, o que significa que há mais procura e maior probabilidade de sucesso financeiro pois os serviços não são gratuitos. O serviço nacional de saúde britânico reembolsa alguns ciclos de fertilidade, mas não a maioria deles.
Por outro lado, estudos revelam que um em cada sete casais do Reino Unido tem dificuldade em engravidar, e se pensarmos que um ciclo de tratamento de fertilização in vitro pode custar até 5 mil libras (5,4 mil euros) e que é recomendado que as mulheres abaixo de 40 anos façam até três ciclos, é evidente o investimento financeiro em jogo.
Há por isso uma lacuna no mercado que as start-ups podem preencher com novas aplicações, que, se bem sucedidas, irão fornecer soluções escaláveis que podem ser usadas globalmente.