Opinião

Disrupção, Black Swans, Agile e seleção natural

Luís Madureira, partner da ÜBERBRANDS

Mais uma disrupção! Uma Pandemia. Em 2016, foi o Brexit. Em 2008, a falta de regulação da indústria Financeira acoplada à indústria do Imobiliário. Antes disso, eventos Geopolíticos. E antes disso, novas Tecnologias. Qual será a próxima disrupção?

Aquilo que quebra o sistema é sempre o mesmo: Black Swans. Nassim Taleb definiu-os como eventos caracterizados por três atributos: 1) são acontecimentos isolados, ou seja, estão fora das estimativas pelo que não se consegue prever a sua ocorrência; 2) têm um impacto extremo; 3) depois de acontecerem, ao olharmos para trás, conseguimos explicar a sua ocorrência parecendo até que se conseguiam prever. Só que não! Caso contrário, não seriam Black Swans!

Fonte: Visualcapitalist.com

 

Apenas dois exemplos são suficientes para perceber o que vos quero transmitir. As duas linhas do tempo acima têm algo em comum, um “insight”: os Black Swans, ou eventos raros de grande impacto são cada vez mais frequentes. E, todas as vezes sem exceção, somos surpreendidos.

“É perdoável ser-se derrotado, mas nunca surpreendido” Frederico II da Prússia, o Grande

A resposta habitual é a reação. A mesma é feita através de corte de custos. Mas esta é uma medida de curto-prazo. Quando a possibilidade de fazer mais cortes acaba, ainda fica a faltar o como voltar a crescer, o mais não seja, para o nível anterior à disrupção.

A outra resposta recai nas metodologias “Agile”. Agilidade Operacional e Tática ajudam na implementação da solução e no aumento da eficácia, mas raramente na resolução do problema.

O que necessitamos é de Agilidade Estratégica, ou seja, a capacidade de ver para além da curva, da implementação do plano, das distrações do dia-a-dia. Para isso é crítico pensar o futuro, o longo-prazo, e alinhar a empresa com a sua visão última. Esta responsabilidade recai no Competitive Intelligence que através de técnicas e métodos de prospetiva constrói cenários plausíveis baseados em: 1) factos e informação credível, assim como “weak signals”; 2) acontecimentos passados; e no 3) desenvolvimento de tecnologias em curso; para antecipar o que poderá vir a acontecer. Só assim uma Organização ou um País estão preparados para qualquer disrupção.

Estar preparado quer dizer duas coisas. A primeira é ter uma estratégia pré-definida para lidar com situações disruptivas, independente de que tipo sejam – isso implica ter feito um exercício de prospetiva e preparado estratégias genéricas para lidar com os possíveis cenários, do mais favorável ao mais adverso. A segunda é ter uma Proposta de Valor relevante no longo-prazo – para isso é necessário ir afinando essa proposta para que seja relevante não só no presente, mas também no futuro, qualquer que ele seja.

A presente disrupção, o Covid-19 e a Crise Económica que se lhe vai seguir, vai penalizar fortemente as organizações que não estavam preparadas. Vai “perdoar” as organizações que se adaptaram. E vai celebrar aquelas cuja visão e preparação estavam alinhadas! E aquelas que, por um mero acaso, estavam no sítio certo à hora certa.

Analisemos a indústria de Ecommerce Marketplaces onde o impacto é positivo. Alguns atores são claramente ganhadores. A Amazon por exemplo está a aumentar a sua capacidade para responder ao aumento da procura, enquanto que a Ocado em Inglaterra suspendeu novas encomendas até conseguir satisfazer as que já tem em carteira. A JD.com, por outro lado, adaptou-se e usou veículos autónomos para entregar bens essenciais e medicamentos em Wuhan.

Em resumo, as empresas focadas no longo-prazo, que são estrategicamente ágeis e com uma proposta de valor relevante, e que como tal rapidamente se conseguem adaptar ao novo normal, vão brilhar. As empresas que se “desenrascaram”, que deram uma cambalhota, inclusive mudando por completo a sua proposta de valor durante este período contextual de mudança – a crise – vão-se safar. Todas as outras vão ser naturalmente excluídas do mercado.

Em forma de corolário, é quando a situação é favorável que nos preparamos para a crise através do desenvolvimento de cenários e estratégias para lidar com os mesmos, assim como se ajusta a Visão das organizações para serem relevantes no longo-prazo.

Em momentos de crise como este, deveríamos estar a monitorizar a situação em tempo-real (SMINT) para implementar as melhores estratégias genéricas que se desenvolveram anteriormente com a devida adaptação à disrupção que lhe deu origem. Em qualquer dos casos, ter a capacidade de desenvolver Competitive Intelligence qualquer que seja a organização, das start-ups, às pequenas e médias empresas, às multinacionais, é absolutamente crítico.

E caso seja um investidor independente ou um fundo, a análise que têm de fazer antes de investir é exatamente a mesma: investir em start-ups que tenham uma forte proposta de valor no presente e no futuro, e que tenham a capacidade de suportar as suas decisões e desenvolver estratégias focadas no longo-prazo.

PS: VUCA, COI e FOBO também vão governar o mundo em 2020!

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Luís Madureira

Luís Madureira

Luís Madureira é fundador da ÜBERBRANDS, uma boutique de consultoria estratégica que ajuda organizações e os seus líderes a navegar o ambiente competitivo com sucesso. É Chairman da SCIP Portugal e Fellow do Council of Competitive Intelligence Fellows desde 2018. É keynote speaker e professor premiado a nível internacional (PT, US, FR, ES, SI, UK), nomeadamente pelos alunos do Ljubljana MBA por duas vezes consecutivas. Acumula o cargo de Global Competitive Intelligence Practice Lead da Presciant e previamente da OgilvyRed,... Ler Mais..

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