Opinião

Customer on Board

Pedro Celeste, diretor-geral da PC&A

Não há Relatório e Contas que não mencione o foco da empresa na criação de valor para o cliente, enaltecendo assim um propósito que emana diretamente da sua proposta de valor da e dos seus desígnios estratégicos.

Um cenário bem diferente é aquele que consta da ordem de trabalhos de muitas empresas nas suas reuniões de Comissão Executiva, ou seja, no “Board”.

Se é verdade que as empresas mais dinâmicas e bem-sucedidas dão expressão real a essa preocupação nos seus fóruns mais relevantes, outras há onde o tema nem sequer consta da agenda. As primeiras são aquelas para quem a satisfação dos clientes é a condição primária para fidelizar, captar mercado e fomentar um passa-palavra positivo, capaz de gerar rentabilidade e competitividade. São aquelas para quem a qualidade de serviço não se anuncia, mas se projeta em cada ato e comportamento.

As segundas são as que dividem a ordem de trabalhos entre dinâmicas estratégicas, portefólio de oferta, logística ou vendas, sempre com um enfoque económico-financeiro de cada uma das medidas. E nada está errado neste racional, como é evidente.

O que torna o panorama mais sombrio e contribui para uma visão estratégica mais míope, é quando o foco na criação de valor para o cliente premeia pela ausência no seio das suas reuniões executivas. É, tão só, não compreender que todas as áreas funcionais da empresa estão dependentes da sua capacidade em saber ler e produzir valor nas dinâmicas do mercado.

Um exemplo típico de reunião do Board foca-se nos resultados das vendas. Mas, mais do que analisar o volume de negócios, margens e resultados é saber responder, por exemplo, às dinâmicas comerciais: por que razão se perdem e ganham clientes? Para quem se perde e a quem se ganha? O que devemos colocar em prática para potenciar o grau de satisfação dos clientes? O que mais contribui para aumentar a qualidade de serviço e trazer a voz do cliente para dentro da organização? Como se garantem testemunhos vivos de clientes na comunicação da empresa que espelhem a imagem do posicionamento pretendido? Em suma, o que fazer para potenciar a experiência dos clientes em cada momento de verdade da sua jornada, física, relacional ou digital? Ocultar esta reflexão e olhar para gráficos de evolução de vendas é ver o último frame de um filme sem o ter percebido.

É que, na verdade, as soluções encontradas para resolver cada uma das questões anunciadas pelas várias áreas funcionais da empresa, impactam diretamente no tema da criação de valor para o cliente: é na motivação das pessoas, na rapidez dos processos, na desburocratização administrativa, na qualidade do atendimento, na eficácia da comunicação e numa maior eficiência operacional. Perceber isto, é garantir o médio e longo prazo numa perspetiva saudável, seja pelo ponto de visto económico-financeiro, ou social.

Escusado será dizer que sem clientes não há empresas. Sem clientes satisfeitos não há empresas que perdurem.

Só há uma forma de gerar e manter vantagens competitivas no mercado. É saber lê-lo, analisá-lo para lhe poder entregar mais valor, o qual será compensado em “dobro” em resultados. É disso que trata o Marketing.

Mas para isso é necessário que o Cliente esteja on “Board”.

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Pedro Celeste

Pedro Celeste

Doutorado em Gestão pela Universidade Complutense de Madrid. Diplomado pelo INSEAD, London Business School, Wharton School, University of Virginia, MIT Management Sloan Management School, Harvard Business School, Imperial College of London, Kellogg School of Management de Chicago e IESE Business School. Na Católica Lisbon School of Business & Economics é Diretor Académico dos Executive Master in Management e coordenador do Programa Avançado de Marketing para Executivos, do Programa de Gestão Comercial e Vendas, do Programa de Gestão em Marketing Digital... Ler Mais..

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