Opinião
Líderes engraçadinhos!

Ah, recebeste umas graçolas, uns quantos elogios despropositados e insistentes, umas piadolas sobre o que vestes e como te comportas? Bem-vindo ao mundo dos líderes engraçadinhos e colaboradores aborrecidos. Tem impacto? Não. Um líder não é um Herman José ou um RAP. Muito menos uma Joana Marques. Estes “consomem-se” quando se quer. Não se “consomem” por tudo e por nada.
Demasiadas piadas a que um líder acha muita graça, mas que, na realidade, não têm graça alguma apenas são mais um problema.
Os resultados de um estudo publicado pela Harvard Business Review, onde investigadores se deslocaram ao sul da China para acompanhar 88 pares de líderes e colaboradores ao longo de uma semana – tendo metade dos líderes sido instruído para melhorar o relacionamento com colaboradores e o outro para aumentar as piadas – revelam que os colaboradores do segundo grupo relataram níveis elevados de “atuação superficial” e “plastificação comportamental”, ou seja, fingiram achar graça ao líder para manter o ambiente positivo. Este esforço emocional extra levou, porém, a aumentos de cansaço e, consequentemente, a uma maior insatisfação no trabalho.
Num segundo estudo, realizado em ambiente de laboratório, as mesmas equipas de investigação analisaram variáveis que podem atenuar ou agravar o impacto negativo do “líder engraçadinho”. Neste caso, participaram 212 alunos de uma escola de negócios dos Estados Unidos, divididos entre grupos com gestores de “alto humor” e de “baixo humor”. Além disso, foram expostos a dois tipos de líderes: um vestido formalmente e com um tom mais autoritário e, outro, com roupa casual que se apresentou pelo primeiro nome.
Os resultados voltaram a mostrar que os grupos expostos a uma liderança demasiado humorística se sentiram mais cansados e insatisfeitos. No entanto, essa sensação negativa foi ainda mais intensa quando a liderança se tornou autoritária e humorística em simultâneo.
Esta diferença deve-se à perceção da hierarquia no local de trabalho. Quanto maior a distância ao poder, entre colaboradores e líderes, maior a probabilidade de que piadas em excesso criem desconforto e desgaste.
Um estudo publicado no Academy of Management Journal por investigadores da Universidade da Pensilvânia e da London School of Economics and Political Science concluiu que as tentativas falhadas de humor por parte de um líder podem afetar negativamente a satisfação no trabalho. Ao longo de várias sessões, os investigadores descobriram que o exagero nos trocadilhos e nas piadolas, acabam por esgotar a energia emocional dos colaboradores, resultando numa menor satisfação profissional.
Uma conclusão é óbvia: andar a fingir que o líder tem graça é cansativo.
O humor parece ser mais ou menos consensual, mas só funciona bem quando é genuíno e nunca em excesso.
Portanto, se te sentes no papel de colaborador farto e tens uma boa relação e consegues pedir menos piadas, muito bem. Mas se não consegues pedir menos ou se o líder continuar a fazer graçolas por tudo e nada caímos, para o segundo caso, no contexto do bom senso. E o bom senso é aquilo que se diz equitativamente distribuído, mas que, na realidade, não está nada bem distribuído.
Nota: créditos a Grace Snelling pela inspiração para este texto.