Opinião

O que 2023 nos deixou e o que esperar de 2024

Daniela Meirelles, empreendedora e business advisor

No ano passado, várias start-ups alcançaram o tão almejado status de unicórnio – start-ups avaliadas no mercado em 1 bilião de dólares. No entanto, apesar desse marco, houve uma queda de 60% nos investimentos do setor em comparação com 2022.

A baixa liquidez no mercado gerou uma série de demissões no setor. As start-ups tiveram que ajustar o tamanho das suas equipas e dos seus investimentos, visando garantir sustentabilidade a longo prazo.

Esse cenário foi identificado pelo relatório Inside Venture Capital, da plataforma Distrito, que comparou os investimentos no mercado brasileiro de start-ups em maio de 2022 com o mesmo período de 2023. A partir do terceiro trimestre de 2023, observou-se uma melhoria gradual do interesse dos investidores de venture capital em realizar novas rondas de investimento.

O cenário das start-ups no Brasil em 2024 promete ser altamente favorável, impulsionado pela melhoria da economia. A estimativa da Selic, a taxa básica de juros, é de 9% para 2024, representando uma queda em relação à expetativa de 11,75% para 2023. Além disso, a correção nos valuations do ano passado trouxe maior maturidade ao ecossistema, levando investidores a buscar múltiplos mais realistas e os empreendedores a consolidar negócios mais sólidos e sustentáveis, adotando melhores práticas de governança e maior transparência com seus stakeholders.

O vice-presidente da Abstartups, Felipe Matos, acredita que em 2024 veremos uma retoma nos investimentos, ainda em ritmo lento, mas já sinalizando um retorno à normalidade do mercado. Segundo ele “a indústria vai melhorar lentamente e o número de captações aumentará. Uma das razões é que cada vez mais start-ups chegarão ao fim da sua carreira e precisarão de um novo aporte”.

Com a perspetiva de arrefecimento da inflação e aquecimento do mercado, tanto empreendedores quanto investidores brasileiros vislumbram uma maior liquidez nos próximos meses, o que poderá resultar numa retoma de crescimento no setor. 56% dos líderes empresariais projetam um crescimento superior a 10% em 2024. Além disso, o setor de fusões e aquisições no Brasil tem grandes chances de recuperação até 2024.

Diogo Garcia, sócio-diretor líder do Programa Emerging Giants da KPMG no Brasil, acredita que um dos sinais de que os investimentos em start-ups em estágios mais avançados podem aumentar em 2024 é que grandes fundos de Growth, como o Riverwood Capital e a Bicycle Capital, conseguiram fechar as suas captações. “Investidores internacionais, que por ora estavam fora do Brasil e da América Latina, já sinalizam interesse em voltar a investir na região”.

Um dos principais critérios para uma start-up se destacar no mercado em 2024 é sua a capacidade de execução. Entretanto, mais do que a viabilidade de “fazer acontecer”, essas empresas precisam ter um planeamento estratégico claro e prático.

Na visão de Bruno Henrique Silva, gerente de Integração da Softplan, o que às vezes acontece é que a empresa tem um ótimo eixo de projeções, mas falta capacidade de execução para fazer o mínimo, além de uma equipa alinhada e consistente nos mesmos propósitos. Nesse sentido, o gestor destaca o foco como outro critério essencial para quem deseja destacar-se no mercado brasileiro de start-ups: “Aqui no Brasil nós temos vários tipos de empreendedores, inclusive aqueles que montaram uma start-up tech sem ter qualquer preocupação inicial com a geração de caixa. E hoje eu acho que isso deve ser uma prioridade no setor. Você tem que gerar caixa, ter uma boa capacidade de execução e uma equipa ótima ao seu lado, além de ter pé no chão”, finaliza o gestor.

A palavra de ordem para as start-ups hoje é: conquistar retorno financeiro, ter equipas enxutas, fazer gestão mais racional do caixa, buscar constantemente eficiência, com foco no crescimento sustentável. As start-ups que seguirem essa receita terão mais chances de prosperarem em 2024 e tirarem proveito dos bons ventos que sopram a favor da economia brasileira.

Que 2024 seja um bom e próspero ano a todos. E com novos unicórnios!

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Daniela Meirelles

Daniela Meirelles

Daniela Meirelles é empreendedora, business advisor, mentora de start-ups e palestrante (Branding, Empreendedorismo e Liderança). Foi fundadora da DBRAND, consultora de branding, marketing e inovação; fundadora/CEO da Yuppy, start-up de media, marketing e eventos; mentora nos programas Startup Rio, Startup Weekend e Founder’s Institute; palestrante; e também atua na organização do II Chapter da Singularity University, no Rio de Janeiro. Tem 15 anos de experiência em marketing, branding e desenvolvimento de novos negócios. Desenvolveu inúmeros projetos para pequenas, médias e... Ler Mais..

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