Como será a sua relação com o dinheiro no futuro?
Os dados vão mudar a forma como pensamos e interagimos com dinheiro. A nossa vida vai tornar-se muito mais conveniente, o que faz com que os próximos anos prometam ser uma época emocionante para se ser cliente.
Na próxima década, o modo como lidamos com dinheiro e como efetuamos pagamentos vai passar por um processo de transformação. As alterações resumem-se em três palavras: inclusivo, invisível, instantâneo. São os três “i” em ação, avança na Business Insider o empreendedor Junta Nakai, que passou 14 anos na Goldman Sachs e que hoje lidera os serviços financeiros da start-up Databricks (fundada pelos criadores do Apache Spark).
De acordo com Junta Nakai, os próximos dez anos marcam o fim do status quo. Até 2030 as carteiras dos consumidores vão ter uma aparência diferente. A maneira como interagimos com o dinheiro vai ser diferente. E as marcas que hoje associamos a finanças vão ser diferentes. E, surpresa: os dados vão desempenhar um papel central na modernização dos serviços financeiros.
Inclusivo
Novos tipos de dados vão permitir uma forma mais holística e dinâmica de subscrição de serviços na área dos seguros e da banca. Os consumidores vão deixar de ficar obcecados com os seus créditos à medida que métricas mais confiáveis e personalizadas vão ficando disponíveis. Por exemplo, nos EUA não é tido em conta se a renda da casa é paga dentro do prazo. Este aspeto não entra na avaliação de crédito. Isto porque o status quo exige que os indivíduos já façam parte do ecossistema financeiro para se tornarem clientes. Um dos motivos é a economia de servir os menos favorecidos não ser favorável aos incumbentes. Como resultado, aqueles que se situam na periferia do sistema acabam a pagar mais por menos.
Porém, à medida que a utilização de conjuntos de dados novos e alternativos se torna dominante, uma grande parte da população – dos trabalhadores temporários aos novos imigrantes – terá mais opções do que antes e a um custo menor.
O panorama está a começar a mudar. A 3 de dezembro de 2019 os reguladores nos EUA divulgaram novas orientações relacionadas com o uso de dados alternativos. As diretrizes incentivam a utilização responsável de dados alternativos para “melhorar a velocidade e a precisão das decisões de crédito”, sobretudo para os clientes que estão fora do sistema bancário convencional.
Invisível
A noção de “pagamento” vai mudar totalmente em muitas das transações diárias. Pagar por um bem ou serviço será como um reflexo, semelhante a quando, hoje, sai de um carro de serviço partilhado após ter chegado ao destino sem ter de pegar na carteira. As finanças serão cada vez mais incorporadas em aplicações, software e hábitos de todos os dias.
Ao fazer compras online, as opções de financiamento serão recomendadas no check-out. Ao conduzir, a sua aplicação de mapas vai incluir um preço, taxa de juro e cotação de seguro para um carro novo com base nos seus padrões de condução e no histórico de pesquisa. Quando se reformar, o seu portefólio irá reequilibrar-se para se ajustar aos padrões de consumo esperados.
Empréstimos, seguros e investimentos não serão destinos únicos por si só, mas sim um serviço omnipresente fornecido no dia a dia. As finanças serão cada vez mais invisíveis para o consumidor.
A aplicação front-end irá deter a perceção/comportamento do cliente e os dados resultantes. O que fará com que bancos, seguradoras e gestores de ativos corram o risco de se tornar utilities com baixa brand awareness, pouca diferenciação e reduzida lealdade por parte do cliente.
Por exemplo, a ANT Financial (uma das grandes fintech do mundo) cumpre em simultâneo a função de PayPal, Moody’s, Citi, Blackrock, Western Union e American Express para os clientes chineses. Este disruptor com base em dados foi fundado há apenas cinco anos e vale hoje quase tanto quanto o Citigroup, com 1/20 do número de funcionários.
Instantâneo
Os bancos, seguros e investimento digitais de raiz, em conjunto com a inteligência artificial (IA), vão tornar as finanças muito mais rápidas, a funcionar em tempo real e preditivas. O tempo para aprovar e financiar uma hipoteca diminuirá de semanas para minutos. Os pedidos de seguro serão pagos imediatamente. As devoluções de impostos serão feitas assim que concluir o preenchimento no software. Os produtos financeiros serão entregues de modo imediato.
Na base desta rapidez/velocidade estão os dados. Permitem uma melhor gestão de risco, possibilitando experiências do cliente relacionadas com dinheiro que vão ao encontro das mesmas necessidades de satisfação instantânea que, atualmente, já exigimos a outros setores. Por exemplo, o banco online da ANT Financial, o MYbank, tem um modelo de negócios “3-1-0”, em que um candidato leva três minutos para se inscrever, a IA demora um segundo para tomar uma decisão ao analisar mais de 3000 variáveis, e são necessários zero funcionários para concluir o processo de empréstimo do começo ao fim. A taxa de incumprimento é de apenas 1%.
Na próxima década os dados vão tirar vastos segmentos da população das sombras dos bancos. Tal vai mudar a forma como pensamos e interagimos com o dinheiro. E vai tornar a vida muito mais conveniente, criando oportunidades para milhões. Ou seja, vai ser uma década emocionante para se ser cliente.