Entrevista/ “Como o Maurício Umansky gosta de afirmar, o preço é apenas um indicador, porque o luxo é uma experiência”

Ayres Neto, sócio gerente da The Agency Portugal

“Durante o primeiro ano de atividade pretendemos ter cerca de mil imóveis em carteira, que podem valer 500 milhões de euros. Se tudo correr como previsto, venderemos cerca de 200 imóveis e vamos faturar 6 a 8 milhões de euros em 2023”, revela Ayres Neto, sócio gerente da The Agency Portugal, em entrevista ao Link To Leaders.

A imobiliária norte-americana de luxo The Agency, conhecida pela série da Netflix “Buying Beverly Hills”, está a entrar em Portugal e conta já com 30 pessoas contratadas, tendo como objetivo no primeiro ano angariar 500 milhões de euros em imóveis.

Em entrevista ao Link To Leaders, Ayres Neto, sócio gerente da agência em Portugal, explicou que “Portugal é um país de referência no mercado imobiliário. Apesar da dimensão do país, o mercado imobiliário é um dos mais dinâmicos da Europa e um dos mais apetecíeis, quer para morar, quer para investir”.

O arranque da operação da agência em Portugal começou com a abertura de um escritório na Avenida da Liberdade, em Lisboa. Mas as previsões são para alargar a outras cidades: no final do ano está prevista a abertura de outro escritório em Cascais, seguir-se-á, em 2024, um terceiro escritório no Porto e outro no Algarve.

O que é a The Agency?
A The Agency é uma boutique de imobiliário de luxo, gerida por agentes imobiliários e altamente tecnológica, com clientes em todo o mundo, no segmento residencial, novos empreendimentos, resorts, arrendamento de luxo e arrendamentos para férias. Foi fundada em 2011 por Maurício Umansky, que ainda hoje trabalha no terreno como agente imobiliário, e desde esse ano fechou mais de 57 mil milhões de dólares em transações imobiliárias. Neste momento, tem mais de 70 escritórios em oito países, e é uma das marcas imobiliárias de luxo que mais cresce em todo o mundo.

O que distingue a The Agency do modelo de gestão tradicional de uma imobiliária?
Independentemente do país onde está, da cidade, do agente ou do cliente, a forma de trabalhar é apenas uma. Por isso, colaboração e parceria são peças chave que unificam o modelo de gestão. Apesar do rápido crescimento, preferimos manter-nos sempre como uma boutique, com uma abordagem mais pessoal, muito fiel à nossa origem. No dia a dia vivemos uma gestão colaborativa, uma vez que todos partilham do mesmo sistema, das mesmas equipas centrais – apesar de existirem equipas locais em cada país – dos mesmos recursos, das mesmas ferramentas e da tecnologia de ponta.

Esta abordagem colaborativa só é possível porque cada novo mercado é aberto em regime de parceria. Ou seja, existe um sócio gerente que trabalha lado a lado com as equipas centrais, de modo a garantir a uniformização e os padrões de qualidade da marca. Esta proximidade na forma de trabalhar garante que a visão do negócio e a abordagem ao cliente estão salvaguardadas. Na The Agency cada cliente é um cliente e cada imóvel é único, por isso todos são tratados de forma exemplar. Prima-se pela criação de uma relação de confiança com cada um e pela oferta de um serviço de excelência, sempre.

“Portugal é considerado a porta de entrada na Europa para as empresas que pretendem iniciar a expansão do seu negócio neste continente”.

O que levou a The Agency a escolher Portugal para abrir escritório? O que mais atraiu a empresa no mercado português?
Portugal é um país de referência no mercado imobiliário. Apesar da dimensão do país, o mercado imobiliário é um dos mais dinâmicos da Europa e um dos mais apetecíeis, quer para morar, quer para investir. Por isso, Portugal é considerado a porta de entrada na Europa para as empresas que pretendem iniciar a expansão do seu negócio neste continente. Além disso, quando comparado com outros países, a taxa de compradores é significativamente elevada, 79% dos portugueses é proprietário, contra, por exemplo, 55% de alemães que preferem arrendar.

Além de tudo isto, é também um dos destinos preferidos dos estrangeiros para viver e investir, por isso quando a The Agency começou a definir o seu plano de expansão, Portugal estava no topo das prioridades. Como o mercado do luxo também tem vindo a crescer no país, a escolha foi óbvia. Para além dos argumentos que já mencionei, Portugal tem o 7.º maior EPI (English Proficiency Index) do mundo, o que o torna muito interessante para os clientes internacionais. Oferece segurança, qualidade de vida, um clima ameno praticamente todo o ano, excelente oferta pública e privada de saúde e educação e uma oferta cultural e gastronómica de excelência.

Como a The Agency trabalha com parceiros em cada novo mercado, uma vez tomada a decisão, procuraram um parceiro local que partilhasse a mesma visão e que tivesse um profundo conhecimento do mercado imobiliário de luxo. E acabaram por me convidar para sócio gerente da The Agency Portugal.

Quais os objetivos e missão para o mercado português?
Durante o primeiro ano de atividade pretendemos ter cerca de mil imóveis em carteira, que podem valer 500 milhões de euros. Se tudo correr como previsto, venderemos cerca de 200 imóveis e vamos faturar 6 a 8 milhões de euros em 2023.

“Para já, a maior aposta é para o residencial, seja em imóveis reabilitados ou novos empreendimentos, porque, curiosamente, muitos dos estrangeiros que nos procuram têm como objetivo residir no país”.

Qual o segmento de maior aposta em Portugal? Residencial, novos empreendimentos, resorts, arrendamento de luxo, arrendamentos para férias…?
É apenas uma intenção tendo em conta as características do mercado e de quem nos procura, mas poderá evoluir. Para já, a maior aposta é para o residencial, seja em imóveis reabilitados ou novos empreendimentos, porque, curiosamente, muitos dos estrangeiros que nos procuram têm como objetivo residir no país.

Quantas pessoas contrataram para abrir o primeiro escritório em Portugal?
Neste momento, a equipa é composta por praticamente 30 agentes, de pelo menos 12 nacionalidades, que falam um total de 13 idiomas.

Quais os desafios que terá de enfrentar para liderar uma equipa multilíngue de agentes imobiliários?
Na verdade são agentes da minha confiança, escolhidos por mim e com muitos dos quais já trabalhei no passado. É uma equipa muito experiente, muito profissional que partilha a mesma visão que eu, a mesma forma de trabalhar, pelo que acredito que vai ser muito fácil. São agentes que já trabalhavam no mercado nacional e que têm um profundo conhecimento do mesmo e, hoje em dia, a língua não é de todo um entrave. É uma mais -valia que gostamos de explorar na The Agency. São a minha equipa de confiança, para criarmos relações de confiança também.

Está nos planos abrir escritórios noutras cidades portuguesas?
Sim. Para já vamos abrir em Lisboa e este ano pretendemos abrir também em Cascais. Apesar do escritório ser em Lisboa, a minha equipa já está representada de norte a sul do país, com agentes especializados nestas áreas geográficas. Em 2024, temos a intenção de abrir escritórios físicos no Norte, no Porto, e a Sul, no Algarve.

Pode falar-nos mais sobre os projetos que serão desenvolvidos em Portugal?
Temos um projeto baseado numa tríade de metas. Sermos importantes no segmento residencial, no qual já estamos bem posicionados devido ao nível dos nossos consultores e à qualidade da marca. Queremos também entrar e crescer no segmento de empreendimentos, sempre em parceria e integrados com empresas locais e internacionais. E, por fim, crescer no segmento comercial, nomeadamente em Golden Visas, que é um dos nossos pilares, em função do nosso perfil e da proatividade junto dos mercados internacionais. Isto porque, atualmente, o investimento comercial é uma das melhores opções para os Golden Visa porque não têm as restrições geográficas que se aplicam ao mercado residencial.

“O mercado imobiliário português é muito competitivo, existem muitos players, bons players, por isso não queremos ser só mais um”.

Como será feita a abordagem ao mercado nacional?
Com muita paixão, muito conhecimento, muito foco, muito profissionalismo. O mercado imobiliário português é muito competitivo, existem muitos players, bons players, por isso não queremos ser só mais um. Queremos ser o parceiro no verdadeiro sentido da palavra. Queremos criar relações de confiança e fazer a diferença na experiência de compra ou venda de uma casa, porque não nos podemos esquecer que neste negócio existem dois lados – quem vende e quem compra – e ambos devem ser clientes satisfeitos.

Portugal é a porta de entrada para outros mercados europeus? Quais os que estão na lista de prioridades da The Agency para este ano?
Sim, Portugal é um dos mercados mais dinâmicos, mais apetecíveis e maduros da Europa, pelo que é sempre um bom teste e um bom incentivo. Em relação a futuras aberturas, é prematuro falar. Neste momento, estamos  100% focados na abertura do mercado português.

“Consoante o perfil de comprador também varia o conceito de luxo. Por exemplos, os mais pragmáticos, que procuram modernidade, segurança, vão para o Parque das Nações (…)”.

Quais as tendências do setor do imobiliário de luxo para este ano?
Como o Maurício Umansky gosta de afirmar, o “preço é apenas um indicador, porque o luxo é uma experiência”, e o conceito de luxo para mim, pode ser diferente do de outra pessoa. As tendências podem variar desde a localização, das áreas, dos acabamentos, das acessibilidades ou das áreas de lazer como piscina, varandas, jardim. Consoante o perfil de comprador, também varia o conceito de luxo. Por exemplo, os mais pragmáticos, que procuram modernidade, segurança, vão para o Parque das Nações, os mais românticos podem preferir o Príncipe Real ou o Chiado. Ou então, temos também aqueles que preferem estar perto de tudo, mas sem a confusão do centro. Que já têm os filhos criados e que agora querem voltar a aproveitar o tempo livre e que optam por um apartamento nas Avenidas Novas.

Nasceu no Brasil, viveu na Argentina e nos Estados Unidos durante 20 anos, antes de se mudar para Lisboa. De que forma a sua vivência e experiência anterior o poderão ajudar nesta sua nova função?
A experiência é algo que vamos somando e que nos ajuda a evoluir, não só enquanto pessoas, mas também a nível profissional. Apesar de ter nascido no Brasil, sou luso-brasileiro por parte do meu pai, por isso a cultura portuguesa esteve sempre muito presente na minha vida e desde cedo que me habituei a lidar com múltiplas nacionalidades e diferentes culturas. Talvez por isso, gerir uma equipa multicultural e ter o mundo como potencial cliente seja algo tão natural para mim. Mas, eu próprio sou uma pessoa muito extrovertida, muito comunicadora, perfecionista, que gosta de relações fortes e duradouras, e estas características são fundamentais para se fazer a diferença no setor imobiliário.

“(…) quem sabe não teremos um episódio de Buying Beverly Hills cá em Lisboa!”

Que outras novidades podemos esperar da The Agency para este ano?
Para já, acredito que todas as novidades foram partilhadas no que respeita ao mercado nacional, mas teremos certamente novidades ao nível de novos mercados para breve. Do ponto de vista mais mediático, quem sabe não teremos um episódio de Buying Beverly Hills cá em Lisboa!

Respostas rápidas:
Maior risco: Crescer rápido demais sem estrutura. Há que plantar, regar, cuidar para colher mais à frente. Passar etapas é a semente do fracasso.
Maior erro: Medo de errar, este nunca nos leva a lugar nenhum. Coragem e determinação sempre.
Maior lição: Trabalhar em equipa sempre, ouvir e aprender com todos.
Maior conquista: Ter a possibilidade de, junto com a minha equipa, abrir a maior imobiliária de luxo dos EUA em Portugal.

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