Entrevista/ “Temos o objetivo ambicioso de construir o primeiro banco global para negócios”
Tornar o empreendedorismo mais fácil e acessível a qualquer pessoa é o objetivo da Rauva. Jon Fath, o cofundador e CEO da plataforma, explica como.
“A nossa meta em Portugal são os 1,6 milhões de PMEs e freelancers registados no mercado e todos aqueles que se somarão a este setor a partir de agora”. Esta é a ambição Jon Fath que em 2022, conjuntamente com Sam Mizrahi, criou a Rauva, uma plataforma portuguesa que começa a dar os primeiros passos no mercado com a oferta dos seus serviços digitais integrados de gestão de negócios.
Selecionada para participar no programa Portugal Finlab, organizado pelo Banco de Portugal, CMVM e ASF, e reconhecida como uma das empresas emergentes pelo “Portugal Fintech Report 2022”, a Rauva pretende “democratizar o empreendedorismo ao mesmo tempo que proporcionamos às PMEs e freelancers uma vantagem competitiva, através do poder da tecnologia”, diz o seu CEO. Com um objetivo maior no horizonte: “construir o primeiro banco global para negócios que disponibilizará um serviço completo, integrando também serviços de contabilidade, jurídicos, bancários, pagamentos, crédito e educação”.
Quais as características da tecnologia da Rauva e de que forma pode apoiar as finanças das empresas e dos empreendedores portugueses?
A Rauva é a primeira super-app portuguesa para pequenas e médias empresas e freelancers, que tem como objetivo tornar o empreendedorismo facilmente acessível a todos. Com esta solução, pretendemos impactar 99,9% dos negócios em Portugal e ajudá-los a manterem o seu foco no crescimento e não nas questões administrativas e burocráticas.
Consideramo-nos uma super-app porque integramos vários serviços e funcionalidades de gestão de negócios de forma digital e acessível a todos. Em primeiro lugar, temos um processo de onboarding simples e 100% digital que permite que qualquer negócio registe a sua nova conta empresarial em apenas alguns minutos. Através da nossa plataforma é possível realizar pagamentos, emitir cartões de débito físicos e digitais, fazer o envio e seguimento de faturas certificadas ligadas ao portal da Autoridade Tributária, o que facilita o processo de conciliação, e, ainda, acompanhar e registar as despesas da empresa. Além dos nossos próprios esforços de desenvolvimento, continuaremos também a procurar as melhores soluções para os nossos utilizadores: quando existe uma solução melhor do que a que podemos desenvolver, estabelecemos uma parceria. Senão, construímo-la nós próprios.
Estamos, ainda, a garantir o apoio aos empreendedores durante a sua jornada, através de conteúdos educativos, e estamos a trabalhar no sentido de fornecer mais soluções. Estamos sempre em contacto com os nossos utilizadores através de questionários e entrevistas para compreender as suas necessidades e melhorar a aplicação.
A nossa solução ajuda, assim, a reduzir significativamente o tempo gasto em processos burocráticos e apoia na estratégia dos negócios. A nossa equipa é constituída por empreendedores que já passaram por estes desafios, pelo que lhes é mais fácil entender quais as reais necessidades dos utilizadores e como os podemos acompanhar durante a sua jornada de negócio.
Pretendemos democratizar o empreendedorismo ao mesmo tempo que proporcionamos às PMEs e freelancers uma vantagem competitiva, através do poder da tecnologia.
“(…) brevemente, iremos lançar serviços de contabilidade, crédito de curto prazo e invoice factoring para ajudar os empreendedores a gerir o seu working capital”.
Planeiam acrescentar novas funcionalidades à solução?
O nosso foco atual é o lançamento da plataforma e a melhoria contínua da experiência do utilizador. Contudo, brevemente, iremos lançar serviços de contabilidade, crédito de curto prazo e invoice factoring para ajudar os empreendedores a gerir o seu working capital. Como já tive oportunidade de referir, estamos sempre em contacto com os nossos utilizadores através de questionários e entrevistas para compreender as suas necessidades e melhorar a aplicação.
O produto foi pensado apenas para o mercado nacional ou tem ambições internacionais?
A Rauva foi desenhada propositadamente para responder aos desafios únicos dos empreendedores portugueses e estrangeiro no país, incluindo integrações com autoridades locais, como a Autoridade Tributária e Aduaneira para o cálculo de impostos e faturas certificadas, uma compreensão clara da burocracia exigente e as ferramentas de que um negócio necessita para simplificar os seus processos administrativos.
Contudo, o nosso objetivo é tornarmo-nos uma empresa portuguesa com impacto global e expandir-se para outros mercados nos próximos anos. Atualmente, contamos com uma equipa de 25 pessoas e pretendemos crescer e ajudar milhares de empreendedores e freelancers, enquanto contribuímos para posicionar Portugal como um mercado inovador no setor das fintech.
“(…) planeamos entrar e crescer na Região do Mediterrâneo (…) em países como Espanha, França, Itália e Grécia”.
Até onde gostariam de chegar em termos de expansão geográfica?
Nos próximos anos, planeamos entrar e crescer na Região do Mediterrâneo, o que irá atingir cerca de 50% das PMEs europeias, em países como Espanha, França, Itália e Grécia.
Afirmaram recentemente que já têm cerca de 20 mil interessados na solução. Quais as metas para este projeto?
Desde o início que começamos a criar a sua comunidade de empreendedores, fundadores e freelancers, que partilharam os seus desafios para que a nossa equipa pudesse endereçá-los logo no seu lançamento. Com isto, criámos uma lista de espera para o lançamento que alcançou as 20 mil pessoas, o que demonstra o grande potencial da nossa solução. Contudo, a nossa meta em Portugal são os 1,6 milhões de PMEs e freelancers registados no mercado e todos aqueles que se somarão a este setor a partir de agora. Como referido, temos também uma ambição global e, nos próximos anos, vamos expandir a nossa solução para outros mercados europeus.
Que impacto esperam que esta solução tenha no tecido empresarial português já que “promete” ajudar gerir os negócios?
A Rauva tem um impacto direto e positivo no dia a dia de empreendedores e freelancers – que correspondem a 99,9% do tecido empresarial português e 70% do PIB, e estima-se que as PMEs contribuam com 73 mil milhões de euros para a economia nacional até 2025. Ao otimizar e simplificar processos burocráticos e ao promover a literacia para o empreendedorismo e gestão de negócios, esta solução impulsiona a inovação destas empresas.
Como surgiu a ideia de criar a Rauva?
A Rauva surgiu com o objetivo dos seus fundadores de terem impacto no tecido económico europeu. Eu ganhei experiência e conhecimentos muito relevantes enquanto COO do neobanco bunq e, portanto, foi bastante natural que prosseguisse para criar uma nova empresa neste setor.
Adicionalmente, tanto eu como toda a equipa já fomos empreendedores no passado e sabemos as dificuldades que uma PME ou um freelancer enfrentam, pelo que havia uma oportunidade de criar algo único, com verdadeiro impacto e disruptivo.
O panorama atual em Portugal não permite abrir uma conta empresarial de forma exclusivamente digital. Este processo demora, habitualmente, entre 1 a 4 semanas, sendo necessário recorrer a locais físicos, o que é moroso e desconfortável – na verdade, 73% dos empreendedores dizem que não é fácil abrir uma conta na Europa. Adicionalmente, não há soluções de gestão financeira para este segmento de empresas. Os sistemas utilizados estão dispersos, sem integração e necessitam de configurações manuais.
Como estas empresas não têm recursos administrativos, os gestores destes negócios acabam por dispensar mais de 10 horas semanais a burocracia administrativa, além de terem de conhecer e assegurar o cumprimento de todos os regulamentos fiscais.
Perante este cenário, criámos a Rauva com o objetivo de tornar o empreendedorismo acessível a todas as pessoas, oferecer soluções para freelancers e PME e, ainda, contribuir para o ecossistema tecnológico.
“(…) acreditamos que Portugal é o mercado certo para ter um verdadeiro impacto”.
Porquê a escolha de Portugal para se lançar nesta aventura empreendedora?
Portugal apresenta um mercado com enorme potencial e em claro crescimento no setor fintech, existindo cada vez mais soluções para consumidores e empresas. Contudo, ainda não existem muitas soluções de gestão empresarial, uma vez que o processo está fragmentado, com as faturas a serem processadas num software, os pagamentos efetuados noutro e a monitorização do desempenho do negócio a ocorrer numa terceira plataforma. Dado o elevado peso das PMEs e dos freelancers na economia nacional, acreditamos que Portugal é o mercado certo para ter um verdadeiro impacto.
A Rauva é feita por empreendedores para empreendedores. Quais os principais desafios de lançar um projeto deste género? Como empreendedor no universo fintech que desafios teve (ou ainda tem) de enfrentar?
Dada a nossa ambição de integrar, numa só plataforma, todas as ferramentas que um líder de um pequeno negócio ou freelancer necessita sabemos, desde o primeiro dia, que temos que conseguir estar na pele dos nossos utilizadores – é por isso que temos uma forte cultura centrada no cliente. Assim, para o fazer, estamos a extrair o máximo possível de todas as interações que temos com os utilizadores, tendo por base a comunidade de Rauvers que construímos desde cedo. Desta forma, recebemos vários feedbacks ao longo do nosso processo de desenvolvimento e temos a certeza que estamos a construir a super-app que os utilizadores realmente querem.
É também por isso que construímos uma equipa composta por empreendedores, pois eles já passaram por essas dificuldades e têm, naturalmente, maior empatia e conhecimento do processo de criar e gerir uma empresa.
Como olha para o mercado fintech em Portugal, neste momento? Muito concorrencial? Com potencial?
O setor fintech em Portugal tem estado em franco crescimento nos últimos anos. Um exemplo disso é a Fintech House que duplicou, no espaço de um ano, o número de empresas residentes. Vemos que Portugal é um mercado com muito potencial porque há várias oportunidades para inovar, nos mais diversos segmentos, e há uma grande abertura do regulador para que isso aconteça. Prova disso é o programa Portugal Finlab, organizado pelo Banco de Portugal, CMVM e ASF, e para o qual a Rauva foi selecionada.
O segmento de soluções para empresas é também muito competitivo, no entanto, até à data, não existe em Portugal uma solução como a nossa. Queremos ter impacto, e acreditamos que estamos no caminho certo.
Até onde quer levar a Rauva?
A nossa visão é tornar o empreendedorismo facilmente acessível a todos. A nossa missão atual é capacitar os freelancers, bem como as PMEs, com uma super-app de negócios que seja adequada às reais necessidades destes utilizadores, integrada e que ofereça soluções de gestão financeira diária. Para tal, estamos continuamente a desenvolver novas funcionalidades, bem como a aumentar o nosso âmbito para abranger mais áreas de gestão de uma empresa.
Temos o objetivo ambicioso de construir o primeiro banco global para negócios que disponibilizará um serviço completo, integrando também serviços de contabilidade, jurídicos, bancários, pagamentos, crédito e educação – soluções que são essenciais para iniciar, gerir e fazer crescer as PME.