Opinião

Menos ruído, mais oportunidade: O novo mercado tecnológico é um convite à estratégia

Nuno Melo, CEO e cofundador da Nexus Capital*

Durante os últimos anos, assistimos a um mercado tecnológico muito dinâmico, em salários, contratações, valuations e expetativas. Start-ups angariavam capital com facilidade, engenheiros de software mudavam de empresa em semanas e o foco, muitas vezes, deixava-se dominar pelo crescimento a qualquer custo.

Hoje, o cenário mudou. A contratação em engenharia de software está em níveis mais estáveis. Mas isso não representa uma ameaça. Representa, antes, um novo equilíbrio. E esse equilíbrio pode ser fértil para quem lidera com visão, foco e propósito.

Menos hype, mais estratégia

Num mercado menos eufórico, as decisões voltam a ser guiadas pela clareza: o que realmente cria valor? Que talento é essencial? Que produto responde a uma necessidade real?

Este regresso à racionalidade é, em si mesmo, uma excelente notícia para startups e líderes empresariais. Num contexto onde “já não vale tudo”, a boa liderança sobressai. Os negócios bem geridos destacam-se. E o talento começa a procurar mais do que apenas salários altos — começa a procurar projetos sólidos, bem liderados e com propósito real.

Três oportunidades concretas para líderes tecnológicos.

  1. Recrutar melhor

O arrefecimento do mercado de engenharia de software permite algo que há dois anos parecia impossível: atrair talento sénior, especializado e disponível. Muitos projectos empresariais que estejam a iniciar, que antes eram “engolidas” pelas big techs agora conseguem competir com propostas mais humanas, desafiantes e alinhadas com os valores da nova geração de profissionais tech.

  1. Voltar ao essencial

Com menos pressão para escalar artificialmente, muitas equipas estão a reencontrar a disciplina de construir com foco, ouvir o cliente e crescer de forma sustentável. É o momento ideal para lançar novos produtos, testar ideias com agilidade e usar capital de forma inteligente, não como combustível para “crescer a todo o custo”, mas como catalisador para criar algo que fique.

  1. Posicionar-se com ambição para o próximo ciclo

Toda desaceleração traz uma fase de reorganização. E as empresas que souberem ler bem este momento, **captar talento certo, definir prioridades e executar com consistência**, estarão na linha da frente quando o investimento voltar a acelerar. A história do empreendedorismo está cheia de empresas que nasceram ou se reforçaram em períodos como este.

O papel do líder: foco, cultura e visão

Este novo contexto pede mais do que gestão — pede liderança- E a boa liderança, hoje, passa por:

* Criar uma cultura de confiança e responsabilidade, onde as pessoas certas sentem que fazem parte de algo com significado;

* Tomar decisões com clareza, mesmo quando isso implica dizer não a oportunidades que não servem o momento;

* Comunicar com transparência e inspirar pelo exemplo, sobretudo em equipas que valorizam autenticidade acima de discursos vazios.

Não estamos num mercado em declínio. Estamos num mercado mais maduro, mais exigente e mais alinhado com a realidade. Para quem lidera com coragem e estratégia, este é um tempo de oportunidade.

Talvez seja mesmo o melhor momento para construir algo duradouro.

*CEO da Nexus Capital, Global Practice Director e Shareholder na emagine

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